Vingança

É na infância e através da convivência com pessoas diferentes que aprendemos quase tudo. O contato com suas diferentes personalidades

14/07/2017 | Tempo de leitura: 2 min

É na infância e através da convivência com pessoas diferentes que aprendemos quase tudo. O contato com suas diferentes personalidades moldará a nossa e o comportamento de cada uma delas oferecerá modelos de conduta e discernimento que carregaremos pela vida afora. Nesse aspecto minha infância, se pobre em bens materiais, em variedade de modelos humanos foi riquíssima.
 
Elenco variado. Tinha a menininha que chorava por qualquer coisa, mostrava-se sempre indefesa, subia na árvore, não sabia descer; molhava a roupa no córrego, ficava feito estátua chorando. Tinha a encrenqueira, que por qualquer coisa partia para a briga e enfrentava os meninos. Tinha a fuxiqueira, invejosa, que jogava lama nos outros e quase sempre se safava. Entre os modelos masculinos, tinha o valentão, que rugia feito leão, por qualquer coisa chamava para a briga, mas morria de medo de cobra. O invencível em tudo: jogo de botão, corre cutia, barra manteiga, queimada, jogar faquinha, mas limitado apesar das qualidades, nunca aprendeu a andar de bicicleta. O mentiroso, que contava casos que a gente ouvia mas nunca acreditava, como o da mangueira antiga na fazenda do avô que de tão antiga, tão antiga, tinha caducado e passara a dar uva, mandioca, laranja, melancia. O ensaboado, que achava desculpa para tudo, nunca era culpado e se esquivava fácil das responsabilidades; por exemplo, se a bola que ele arremessara para o gol caía no mato difícil de entrar, ele se lançava ao chão, gemendo ... e outro ia buscar. Sarava fácil. O medroso: provocava briga com os maiores, mas na hora agá, chamava as irmãs para brigar no lugar dele. O santinho do pau oco, fingidor, hipócrita, dissimulado, escorregadio, espertalhão. Tinha outros, em outras categorias, mas estes foram tipos básicos que seriam encontrados ao longo da minha vida em diferentes configurações e combinações. Surpresa mesmo foi encontrar, muito mais tarde, todos esses tipos condensados em uma só pessoa. 
 
Marquei na minha agenda o 12 de julho como Dia da Vingança. Quando Luiz Inácio da Silva apareceu no sujo cenário político brasileiro ganhou, pela ordem, minha simpatia, voto, torcida, credulidade e certeza de que lideraria o país rumo a uma nova era de prosperidade e desenvolvimento. Se realizou pequena parte das minhas expectativas foi se revelando — aos meus olhos — valentão, egoísta, mentiroso, ensaboado, medroso, debochado, atrevido, além de hipócrita e dissimulado. Ao culpar a mulher já falecida e tomar água no bico da garrafa diante das câmaras, revelou-se sem classe e mesquinho. Estou vingada.
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br
 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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