Humanos apresentam diversidades e semelhanças independentemente de raça, nacionalidade, estado civil, sexo, crenças, grau de maturidade, e são classificados, para fins de estudo e compreensão, em vários segmentos. Particularmente desenvolvi critério segundo idiossincrasias que surgem, ou percebo, na convivência com eles. Há um nicho especial que chamo de os Também. 

 

Os Também, sem levar em consideração sexo, idade, escolaridade ou grau de educação formal, aparecem na sua vida, você gosta deles, até combinam muito. Não fosse pelo detalhe do também, no relacionamento entre vocês, o relacionamento seria perfeito. Quem são? Os Também são aqueles que tudo que você já fez, fará ou quer fazer ... também fizeram, farão ou querem fazer. Também já fizeram aquele passeio que você expressa o desejo de fazer algum dia e, sobre eles, se apressam em dar opiniões e pareceres. Também conhecem aquela pessoa ilustre e famosa que você admira, são até amigos íntimos dela. Também têm filhos inteligentes, muito mais que os seus. Também mandou a filha para os Estados Unidos. Também vai passar o carnaval na praia — que coincidência! — na mesma praia que você. Você expressa uma opinião, preferência, postura, fala de um livro ou filme ... ele se adianta: também pensa o mesmo sobre isso ou aquilo, gosta das mesmas coisas, toma atitudes idênticas, também vai ler o mesmo livro que você — que viu sobre sua mesa e você acabou de comprar; também está interessado no mesmo CD que você acabou de pôr para ouvir. Atribui tantas coincidências, às incríveis semelhanças entre vocês. 

 

No início a convivência com os Também é até tranquila. Você ri escondido do que chama ingenuidade dele em achar que está sendo original, nem questiona quando ele pede informações sobre algum assunto, mesmo sabendo que ali adiante ele vai apresentar aquela opinião como sendo dele mesmo, recém saída da magnífica cachola que presume ter. Com o tempo, você percebe que o ingênuo é você, que o abastece com sua inteligência e discernimento gratuitamente e sente raiva de ser cúmplice dele para ser sua própria imitação, seu arremedo. É quando você fica tiririca e passa a sonegar sua cabeça. Não adianta mais. O Também incorporou tanto seu papel, que nem sabe mais o limite do bom senso. O que sobra é você conviver com você mesmo em outra pessoa. E como isso não é fácil, haja terapia! 

 

Os Também são chatos, pouco criativos, clonadores, ladrões de idéias, modos e maneiras de pessoas que eles apreciam tanto, mas tanto, que querem ser iguais. Dê sua carteira de identidade para um deles e você verá que, coisa admirável, a deles tem o mesmo número... também.

 

Lúcia Helena Maníglia Brigagão

Jornalista, escritora, professora

luciahelena@comerciodafranca.com.br