Emoções

A primeira vez foi em São Paulo. Meus padrinhos de batismo e também de casamento, convidaram-me para carregar as alianças na entrada

02/06/2017 | Tempo de leitura: 2 min

A primeira vez foi em São Paulo. Meus padrinhos de batismo e também de casamento, convidaram-me para carregar as alianças na entrada solene da cerimônia religiosa na qual comemorariam Bodas de Ouro. Forte razão sentimental. Cinquenta anos antes, na cerimônia do casamento deles, eu entrara na Igreja também como Dama de Honra. Cinco décadas, portanto, separavam aquela loirinha risonha e aquele jovem casal das fotos do casamento — penduradas honrosamente nas paredes das casas de ambos — do charmoso e chique casal idoso, antecedido pela então mãe de quatro filhos adultos. A emoção de todos era grande. Quase a mesma.
 
Orquestra e coral anunciaram a chegada dos noivos. Abriram-se as portas, eu antecedendo o séquito formado por meus padrinhos, o único filho do casal e sua esposa, quatro netos, suas jovens esposas e o netinho. Prepararam com esmero o momento. Flores nos altares, bancos, orquestra e coro compunham o cenário de sonhos. Pediram-me para ficar no altar quando fiz menção de sair, após a entrada triunfal. Teve missa. Padre, amigo da família, conduziu a cerimônia com toda pompa e circunstância de direito. E aí chegou o momento da Comunhão.
 
Não sou exatamente pessoa religiosa. Possuo forte religiosidade que me torna pessoa do bem, acredito. O padre veio caminhando na minha direção e eu comecei a suar em bicas. Aceito a hóstia? pensei. Recusar seria indelicado? Impróprio? Parentes — marido, filhos, nora, irmão, cunhada, que estavam sentados em frente e perto do altar seriam testemunhas do sacrilégio. Imaginava que acompanhavam meus movimentos e prospectavam meu próximo passo. Respirei fundo, aceitei a hóstia, comunguei pela primeira vez na minha vida. O único que percebeu foi meu marido que comentou discretamente, temeu sangramento na minha boca, como diziam acontecer na boca dos sacrílegos.
 
Fui conhecer o Vaticano. Optei pelo pacote completo: assistir à missa dominical e depois receber a bênção do Papa, na praça. Missa solene na Basílica, coral cantando músicas sacras, local cheio de magia, por onde passaram Papas anteriores, vultos históricos, celebridades, artistas, laureados, premiados. Fui me aproximando, até ficar a poucos metros do altar, durante a missa. No momento da Comunhão, liberaram as barreiras, um padre retirou as cordas de limitação, me disse para entrar. Estava emocionada, privilegiada de viver momento mágico pelo qual minha sogra, amigas, aqueles tios, sonharam. De repente, estava diante do altar e o cardeal velhinho, estendia a mão para me dar a hóstia. Foi a segunda vez que comunguei na minha vida. Entendi perfeitamente o significado de sentir-me abençoada. Logo depois estava recebendo a bênção dada pelo Papa Francisco, de quem sou fã.
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br
 

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