1966

Em março daquele ano, uma das poucas revistas existentes no mercado editorial brasileiro, Seleções do Reader’s Digest, trazia encarte

05/05/2017 | Tempo de leitura: 2 min

Em março daquele ano, uma das poucas revistas existentes no mercado editorial brasileiro, Seleções do Reader’s Digest, trazia encarte intitulado Made na Franca. (O formato da revista Seleções, juntamente com o rótulo do Leite Condensado e a aparência da caixa da Maizena, são lay outs campeões de permanência. Discretíssimas mudanças sofridas ao longo de suas longevas existências, refletem que poucas coisas são ortodoxas como o visual desses três produtos.) As Seleções circulam nos Estados Unidos desde 1922 e no Brasil, 1942. É publicada em 35 línguas, distribuída em 120 países. Traduzida do inglês, a revista sempre trouxe, como ainda hoje traz, matérias leves e informativas em português escorreito. Outra parte de sua missão era divulgar a literatura norte-americana nos países onde circulava, assim trazia resumos de livros, artigos de temas variadíssimos, além de algumas seções interessantes como as campeãs Piadas de Caserna, Flagrantes da Vida Real, Meu Tipo Inesquecível e Enriqueça seu Vocabulário, com curiosidades e testes sobre a língua do país onde era distribuída. 
 
1966, Franca. O prefeito Hélio Palermo, assinou o texto de apresentação do suplemento. A cidade fervilhava com a produção de calçados. Índices de exportação — calçados masculinos e couro —, bastante altos, faziam a cidade ser referência nos assuntos de economia. Informações da época, trazidas pelo Suplemento, são interessantes. A população urbana de Franca, “adiantado centro do estado paulista” era de aproximadamente 100.000 habitantes. Várias linhas de ônibus interligavam-nos a outros centros comerciais; os trens da Mogiana ainda operavam levando passageiros para São Paulo, e tão somente às quarta-feiras a Vasp levava viageiros para a capital paulista. Pretendia-se a construção de “belíssimo Shopping Center” na Praça Pedro II, no lugar do “velho Hotel Francano” — isso significa que lá naquele ano já havia intenção de derrubá-lo. O novo prédio teria 14 pavimentos, parque de estacionamento no subsolo. No andar térreo ficariam 12 grandes lojas e, na sobreloja, cinema para 800 pessoas. (A matéria não fala se os filmes seriam apresentados dublados ou na versão original.) 100 apartamentos seriam construídos; os voltados para a Voluntários, seriam residências; os outros, para a Marechal Deodoro, destinavam-se a ser “hotel de luxo”. “Iniciativa arrojada e progressista”, diz a matéria. 
 
O suplemento, além do sapato e do couro, cita o café, faculdades, esportes e clubes francanos, a importância do diamante na nossa economia. Mas a dose de saudade fica por conta das empresas calçadistas que patrocinaram o suplemento, além da Amazonas, de solado. Dos nomes memoráveis como Terra, Wilson, Mello, Ruy de Mello, Luisinho, Palermo, Spessotto, Peixes, Francano e HB, apenas esse último ainda resiste.
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Fale com o GCN/Sampi! Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Receba as notícias mais relevantes de Franca e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.