Lembranças

14 de fevereiro de 2006. Pela manhã busquei-a para levá-la à aula de natação. Você vestia short, sandálias e camiseta presente de sua mãe

14/04/2017 | Tempo de leitura: 2 min

14 de fevereiro de 2006. Pela manhã busquei-a para levá-la à aula de natação. Você vestia short, sandálias e camiseta presente de sua mãe, que tinha imensa e colorida borboleta bordada na frente. Super entusiasmada com o presente materno,  mostrou-me a borboleta. Sozinha e independente subiu, foi ao quarto,  pegou sua malinha e saímos. Depois da aula, ainda no banheiro da academia, troquei sua roupa molhada, coloquei-lhe roupão felpudo. Para agradá-la, compramos água de coco, que você tomou todinha. Ficou feliz ao fazer barulho com os canudinhos. Fomos para minha casa, conforme você pediu. Quis tomar banho no banheiro da tia Yayá. Descobriu que o chuveirinho da banheira dela fica preso no alto, e comentou que parecia chuveirinho de criança. Adorou, quis até lavar a cabeça! Pegou uma toalha, segurou-a no rosto, dei-lhe banho. Passei-lhe creme cheiroso, fiz massagem. Tratamento de princesa.
 
Hora do almoço pediu-me mexidinho, estava com fome. Fomos para a cozinha. Viu inusitado copão cheio de chá na mesa, perguntou o motivo. “Eu preciso tomar muito líquido, para fazer muito xixi”, respondi. “Posso experimentar?”, perguntou.  “Você não vai gostar.”, alertei. “Não foi isso que eu perguntei, vó! Perguntei se posso experimentar!”, impacientou-se. “Pode.”, desafiei. Deu uma golada, o chá não lhe agradou, via-se por seu rosto, mas você não deu o braço a torcer: “Que chá gostoso!”, disse fingidamente.  Deu-me os bracinhos, pedindo para se sentar na bancada do fogão. 
 
Distraiu-se com minha tarefa de picar tomate, colocar ovo, misturar ingredientes para sua comida. Acompanhava tudo, calada.  Já havia me esquecido do incidente com o chá, soltou: “Vó, eu não quero mais seu chá, viu?”. Servi-lhe a iguaria, você comeu tudo. Sobremesa, chocolate. Subimos para escovar seus dentinhos. Lembrei-me de camiseta antiga, também com borboleta bordada. Mostrei-lhe, você achou graça, pediu-me “por favor” para colocá-la.  “Estou suada, sem banho, estou fedida!” Duvidou, me cheirou, discordou, riu-se e comentou que minha borboleta era avó da sua. Hoje, 14 de abril de 2015, você retornou da primeira viagem que fez sozinha. Duvido que algum dia peça-me novamente para eu sentá-la na bancada do fogão.”
 
(Escrito, impresso, dobrado, guardado dentro de um livro, e achado hoje, 11 de abril de 2017)
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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