Rifaina II

‘Não fosse por dois monstros arquitetônicos na orla de Rifaina, dois prédios que nada têm a ver com a paisagem, um concluído,

10/03/2017 | Tempo de leitura: 2 min

‘Não fosse por dois monstros arquitetônicos na orla de Rifaina, dois prédios que nada têm a ver com a paisagem, um concluído, outro em construção; a pequena cidade seria o paraíso...” Assim termino o texto do dia 3 de março, publicado neste Comércio, motivo de levar bronca danada de leitora que me escreveu, depois me bloqueou, impedindo-me de respondê-la pelo mesmo meio que usou para falar comigo. Assim, explico aqui que não questiono qualidade de ambas construções, do excelente acabamento, dos elevadores panorâmicos, mas continuo em dúvida quanto à propriedade da localização de ambos na belíssima orla que chamam de praia, e com medo do futuro. Motivos não faltam. 
 
Teria outros exemplos, mas fico com este: conheci o Balneário Camboriú, em Santa Catarina, na década de 70, naquela época pequena, poucas casas. O Fisher, único hotel, era das poucas construções de alvenaria na praia. Nem tão lentamente assim, mas perceptivelmente, a cidade cresceu. Em pouco tempo, o número de construções de apartamentos empilhados, na frente da praia com vista para o mar, aumentou. E Camboriú se verticalizou. 
 
Continuo frequentando Camboriú, acompanho sua descaracterização como cidade praiana com espaço na areia suficiente para acolher banhistas nacionais e estrangeiros . O processo do crescimento vertical não foi lento, mas os olhos se acostumam com a paisagem e nem percebem as diferenças que vão acontecendo no entorno. Imagino que os nativos – que ainda se sentam no calçadão para tomar chimarrão e jogar conversa fora – depararam, certa manhã, com muro pesado de concreto ao olhar para fora de suas janelas. 
 
O excesso de construções mudou tudo. Nas pacatas e ensolaradas praias, agora se disputa o centímetro quadrado na areia. E, após as 15 horas, quando o sol cai, a praia literalmente escurece, porque a luz do sol encontra barreira intransponível na cortina de concreto dos prédios. E o de 70 andares não está pronto ainda! Camboriú enfrenta problemas de enchentes durante as chuvas, semelhante a outras cidades que cresceram sem muita ordenação, com redes de esgoto insuficientes. O excesso de pavimentação impede escoamento conveniente. Outras cidades apresentam os mesmos problemas, também causados pelo crescimento sem infraestrutura adequada. Por isso, “dois monstros arquitetônicos” na orla de Rifaina: os prédios além de descombinarem com a paisagem bucólica, com certeza servem de indês para futuras construções do gênero. Não nos esqueçamos que a gana imobiliária e a do lucro sempre falam mais alto e calam as vozes do bom senso. 
 
Positano e Cinque Terre, na orla do Mar Tirreno, serviriam de exemplos para embelezar a Rifaina. Distantes geograficamente, podem ser visitadas pela Internet. Aconselho procurá-las, para ver se não dá inveja delas. 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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