Rifaina

Longe de ser classificado como insatisfação, o desejo de mudar de país, de casa, de cidade, de cara ou de rua, deve ser visto como

03/03/2017 | Tempo de leitura: 2 min

Longe de ser classificado como insatisfação, o desejo de mudar de país, de casa, de cidade, de cara ou de rua, deve ser visto como manifestação de experiências positivas e reais, frutos do conhecimento. Já desejei mudar-me para o Japão, atraída pela gentileza do povo no trato com as pessoas, respeito à milenar cultura, modelo de educação moderna. Para falar a verdade, só não me atraiu muito a música local. Nem a clássica, nem a moderna, muito menos a folclórica, embora continue achando espetacular a performance dos artistas nos instrumentos musicais de sopro, de cordas e percussão. Este final de semana tive vontade de me mudar para mais perto, bem mais perto, para alívio da minha família. 
 
Rifaina. Fui e voltei ainda mais apaixonada por Rifaina. Já conhecia a pequena cidade que incha nos finais de semana, nas datas de comemoração, no carnaval. Confesso, muitas vezes tive vontade de conversar com o prefeito rifainense, só para lhe perguntar se o modelo de pequenas cidades no litoral italiano, como Amalfi e Ravello na Costa Amalfitana, ou Cinque Terre, na costa da Riviera Ligure não o atrairia. São pequenas cidades, de intenso trânsito turístico, com casas pintadas em cores quentes e vibrantes, o que dá colorido à paisagem, em contraste com o mar. São belíssimos exemplos do que se pode fazer com bom gosto e boa vontade. Atualmente há uma espada suspensa sobre a cabeça dos rancheiros rifainenses, porque a companhia concessionária de energia elétrica que serve aquela região quer, depois de tantas benfeitorias nas margens dos ranchos, destruir tudo em nome da ecologia. Será que esses demolidores conhecem exemplos de casas às margens de lagos, de rios e de canais espalhadas neste mundão de Deus?
 
Quero mudar-me para lá. Precisei de tecido para fantasia de criança. Fui até ao centro, não havia vaga para estacionar, só numa ruazinha lateral. Calorão danado, famílias inteiras sob árvores, na frente das casas, sentadas, conversando e à espera de passar o tempo. Durante o percurso até a praça, local da loja que procurava, moças, rapazes, pessoas de toda idade me cumprimentaram ao cruzar comigo: sabe aquele boa tarde que mamãe ensinou? Pois é. Nunca me haviam visto e cumprimentaram. Na loja, a senhora dona do estabelecimento me atendeu, embora fosse domingo de carnaval e, acredite, sorrindo. No fim ainda emprestou pistolinha de cola quente que só devolvi na terça feira, quando o carnaval acabou. Pode? 
 
Não fosse por dois monstros arquitetônicos na orla de Rifaina, dois prédios que nada têm a ver com a paisagem, um concluído, outro em construção; a pequena cidade seria o paraíso, que nem os raps de MC Dollar - Vamos pegar uma praia, e Mãe, do Emicida poderiam conspurcar.
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

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