Carnavais

Houve um tempo no qual uma hora dessa eu estaria às voltas com a fantasia, cabelos enrolados nos rolinhos que a gente chamava

24/02/2017 | Tempo de leitura: 2 min

Houve um tempo no qual uma hora dessa eu estaria às voltas com a fantasia, cabelos enrolados nos rolinhos que a gente chamava de “bóbi” e que nem existem mais. Estaria planejando quatro noites de folia, o que se resumia  em dançar até fazer bolhas no pés, cantar coisas como “o seu cabelo não nega, mulata”, “olha a cabeleira do Zezé”, “Maria sapatão, sapatão, sapatão, de dia é Maria, de noite é João” sem medo de censura ou ser considerada politicamente incorreta. Aliás, “politicamente incorreto”  era considerado o ato de roubar, nem que fosse só um pé de moleque na esquina, quanto mais as contas do país. 
 
Uma hora dessas, naquele tempo, estaria preocupada apenas com a possibilidade de alguma coisa ruim acontecer e me impedir de ir aos bailes. Eu sairia de casa devidamente acompanhada por meus pais, ou pais de amigas, ou tias – naquele tempo tinha tias que levavam a gente para a farra, que significava apenas dançar até cair, tomar guaraná, fumar escondido, voltar para casa a pé na madrugada que não tinha perigo, com a cabeça cheia de sonhos e esperança de que naquela noite haveria mais uma noite de carnaval. 
 
Há, agora um tempo, no qual carnaval significa quatro dias para serem empurrados com a barriga, no sofá, vendo mulher pelada na televisão o que não me atrai nem um pouco. Difícil sair de casa  por medo e insegurança; impossível acompanhar cantando as marchas e sambas modernos se é que existem; difícil demais driblar as patrulhas ideológicas que quase só permitem murmúrios, substituindo letras antes engraçadas e bem humoradas. 
 
Agora, ao invés de lamentar o que se foi, chegou a hora de botar pijama, estourar pipoca, escolher alguns filmes, ligar o DVD e passar quatro noites de lazer na companhia de Colin Firth, Brad Pitt, George Cloone e Jeremy Irons.  Nada contra tais companhias ou tipo de lazer,  mas que dá saudades daqueles tempos, dá sim. 
 
No carnaval de 2017 não serão cantadas marchinhas antigas, porém joias como a do MC Beijinho, Me libera Nega. Saudade do tempo em que cantar era sinônimo de ter voz e, por favor, me diz: como a turma do politicamente correto admite o Nega desta fantástica composição? 
 
Outra joia, que promete bombar neste carnaval é Deu Onda, do MC G15. O autor da letra teve a decência de não divulgar seu nome, mas o clipe está disponível na internet. Melhor conhecê-lo para não parecer desatualizado. Simone&Simaria, mais  Anitta só para provar que desgraça pouca é bobagem, contribuíram com Loka, para animar a festa de 2017. 
 
Me diz, por favor: mudei eu, ou mudou o carnaval? 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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