Se Ele existir, estiver me ouvindo, se dispuser a atender meu desejo, na próxima volto homem. Comum. Não quero ser lindo como Cauã Raymond, nem ter o charme do Gianecchini, não preciso dos olhos do Thiago Lacerda, muito menos quero ser maravilhoso e nascer na Inglaterra, feito o Colin Firth. Quero ser homem, ouviu Deus? Quero voltar homem. Com h ou H. 

 

Num tempo em que Franca era classificada pequena, alguns luxos eram inimagináveis. Nenhuma casa urbana tinha piscina, encontrada apenas no recém-inaugurado conjunto esportivo da cidade. Amiga de mamãe declarou na roda de amigos desejar nadar naquelas piscinas. Causou espanto, mas foi incentivada. Havia horários especiais só para mulheres, visando o conforto das senhoras que, como ela, queriam frequentar o clube. Um porém, disse ela: iria no horário dos homens. Não seria capaz de superar os olhares de avaliação das outras mulheres, a maldade e os comentários delas em caso de desaprovação dos seus, ou dos dotes físicos e morais das outras, provocados por maldade ou inveja, pura e simplesmente. Disse, homens olham e avaliam, desejam e vão em frente ou, se não, desviam o olhar e a vida segue. Faz tempo isso, mas foi minha primeira lição do quão extensa, profunda e contundente pode ser a maldade entre e das mulheres. 

 

São clássicas as piadas nas quais o homem morre, mas não revela os segredos do amigo. Homens são fiéis. Exemplos de perfídia e deslealdade feminina sobejam e ai se uma delas, principalmente a do lado momentaneamente mais fraco ou é mais bonita, ou mais inteligente, mais gostosa, ou mais bem resolvida, ou é bem casada, ou simplesmente é mais feliz que a dona da pedra. Fora isso, ser homem dá menos trabalho. Bem menos. A vida do homem é mais simples e fácil. Homem não perde tempo avaliando seu corpo; não precisa pintar o cabelo grisalho e, se fica careca, aprova-se pois tem certeza que é dos carecas que elas gostam mais. Não perde tempo nem gasta dinheiro com roupa. Se vai a compromisso social importante, toma banho, lava o cabelo, põe camisa branca, gravata, terno de bom corte, senta na sala e vê televisão enquanto a mulher sua, desaprova a roupa, muda o penteado e sai infeliz porque não está se sentindo deslumbrante. Não sei onde li que homem só fica infeliz, de verdade, quando seu time do coração perde o campeonato. Deus! Quero voltar homem!

 

Lúcia Helena Maníglia Brigagão

Jornalista, escritora, professora

luciahelena@comerciodafranca.com.br