Justiça

O jornal deu destaque ao crime do caminhoneiro que atropelou várias pessoas, matou e fugiu sem prestar socorro.

13/01/2017 | Tempo de leitura: 2 min

O jornal deu destaque ao crime do caminhoneiro que atropelou várias pessoas, matou e fugiu sem prestar socorro. É caminhoneiro, nem dono do caminhão é, vai ser encontrado, preso e condenado, pensei. Seguia o raciocínio de antiga funcionária que sofria com a condenação do filho que acreditava inocente ou nem tão culpado assim, preso depois de processo doloroso. Chorava, lamentava não ter dinheiro para contratar bons advogados. Dizia, se fosse rica, o rapaz ficaria pouco tempo preso, a exemplo de endinheirados que cometeram crimes muito piores,  se livraram,  e certamente não  se lembram mais das vítimas, ou de quem chorou por elas, mortas de forma trágica por impudência, leviandade ou descaso. 
 
Argumentava com ela em vão  que sim, um bom advogado ajuda, mas que a liberdade do bandido está muito mais vinculada às esdrúxulas leis brasileiras, que ao desempenho do profissional. Dizia-lhe que advogados não criam as leis o que, no Brasil, é tarefa do Poder Legislativo cujos componentes as remendam e emendam segundo seus próprios interesses;  que os advogados torcem e retorcem o que está escrito segundo sua malícia, que alguns chamam de competência e, assim, conseguem inocentar culpados ou culpar inocentes. Ela respondeu que então a Justiça não é cega; ficou cega para não ver os descalabros que são cometidos em seu nome.
 
Por ela eu soube como é a feita a inspeção nas pessoas que chegam para visitar parentes ou amigos nas prisões. Ela afirmava que há tentativas de levar objetos proibidos para dentro das prisões, escondidos nos mais absurdos lugares do corpo, bolsas ou pacotes, o que torna a verificação necessária, embora humilhante. Também soube  que os presos são mudados de prisão sem o conhecimento dos familiares, o que tornava sua penosa ida às cadeias distantes de sua cidade,  absolutamente frustrante e desnecessária. Contava, horrorizada, das condições desumanas do cotidiano nas prisões, como a superlotação. Desesperava, ao imaginar a convivência do filho com pessoas cruéis. Do ponto de vista dela, o filho tem sim que pagar pelo que fez, mas o preço está muito superior ao delito cometido embora, do ponto de vista dos  prejudicados, está tendo o que merece. Fotos que revelam superlotação dos presídios e condições sub humanas dos confinados são horripilantes. E sim, ladrões de galinha convivem com assassinos. 
 
Não sei onde está a verdade, nem o que fazer para resolver o impasse. Sei apenas que direitos humanos dizem respeito a todos e que nem todos são iguais perante as leis.
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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