Quando menina acreditava em Papai Noel que trazia presentes e os colocava no meu sapatinho deixado sob a árvore de Natal, montada na sala da pequena casa onde morava com minha família. Nem imaginava que a data comemorava o nascimento de Cristo. O fato de não ganhar aquela tão sonhada e cobiçada boneca de porcelana não me incomodava muito. Mas achava engraçado o Papai Noel descobrir que eu precisava de sapatos novos, ou nova bolsa escolar, ou de capa de chuva e sombrinha, porque íamos para a escola sob a chuva, três irmãos empoleirados na bicicleta do meu pai e chegávamos encharcados. Os presentes que ganhávamos tinham, principalmente, características de úteis e convenientes. Ficávamos satisfeitos com eles, ainda que fossem muito distantes dos nossos sonhos de consumo. Só fui entender o motivo de nunca ter ficado frustrada com a pobreza e parcimônia dos Natais de antanho, muitos anos distante da minha infância, bem mais experiente e com prática de muitos outros Natais.
Lembro-me que jamais nos revoltamos, ou nos frustramos, ao comparar os nossos aos presentes ganhos pelos vizinhos. Não sabíamos explicar porque a menininha da casa em frente ganhara a boneca e seu irmãozinho aquela reluzente bicicleta. Não tínhamos explicações plausíveis para a disparidade dos presentes deles e dos nossos, mas aceitávamos as limitações financeiras dos nossos pais e confiávamos nas suas decisões. As palavras tinham reais significados: não significava não, assim, contestações não tinham espaço e talvez fôssemos naquela época naturalmente aquiescentes, ou modestos. Com a situação econômica brasileira beirando o caos, não duvido que situações como a minha de antanho se repitam neste Natal, do Oiapoque ao Chuí. Prevejo crianças frustradas aos montes e pais se desesperando por não conseguir satisfazê-las nos seus desejos.
Ainda acredito no Natal como festa cristã, emociono-me com as manifestações de carinho entre as pessoas, com a afetividade e cumplicidade entre pais e filhos. E Papai Noel nunca me decepcionou. Tenho absoluta certeza de que virá, trará muita Alegria e Coragem, para contrabalançar a desesperança que nos acomete. Trará Saúde, para todos, e melhorará o sistema de atendimento médico público. Trará Paz, para apascentar os corações dos povos do mundo todo. E, confio nele a ponto de acreditar que, ao se aproximar da Terra, jogará eficiente bomba sobre o Congresso Nacional. Corja atual eliminada, votaremos em outros melhor escolhidos para reescrever e recomeçar nossa história de jeito diferente. Assim, votos de Felicíssimo Natal, para todos!
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br
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