Amores

Houve uma época em que acreditava saber o significado de Amor. Uma das suas formas mais intensa e visível do que acreditava que ele fosse

16/12/2016 | Tempo de leitura: 2 min

Houve uma época em que acreditava saber o significado de Amor. Uma das suas formas mais intensa e visível do que acreditava que ele fosse, estava na atuação do marido de antiga vizinha de rua. Volta e meia o Romeu chegava em casa gritando para todo mundo ouvir, não somente a Julieta. Chegava, abria o pequeno portão de madeira da entrada e anunciava sua presença chamando-a pelo nome acrescido de adjetivos como linda, perfeita, virtuosa; de expressões como amor meu, deusa da minha vida e avaliações como não mereço você, foi Deus quem a pôs no meu caminho. Faziam morrer de inveja as declarações feitas em alto e bom som; as rosas que ele invariavelmente trazia nas mãos,  e que depositava, quase se ajoelhando, aos pés da deusa daquela rua. Durou anos a performance. Talvez a descoberta da verdade se deva à maldade alheia, talvez não, mas um dia se soube que ele, no caminho de casa, passava antes na casa de outra mulher, mãe de seus outros filhos. O berreiro era camuflagem para desviar a atenção de suas atividades clandestinas. Pior, as rosas eram da casa dela. Foi quando descobri que amor é sentimento calado, discreto, reservado, até circunspecto. Que não precisa de tambores.
 
Outra época acreditei, mesmo por pouco tempo,  que Amor era o sentimento que embasava as relações de casais que morriam de ciúmes um do outro; que viviam às turras proibindo-se mutuamente de prazeres como ter amigos, principalmente do sexo oposto, ou sair desacompanhados, ou ter opiniões divergentes. Vi que aquilo não era Amor. Era sentimento de posse, infantil, imaturo e fruto de insegurança. Foi quando descobri que Amor não é sentimento que gera angústia e medo ou que poderia ser garantido através de proibições. Amor que é Amor provoca sorriso, não lágrimas.
 
Pensei que para manter o Amor vivo seria preciso malabarismo, uso de quaisquer armas, comunicação e diálogo. Saber dar tempo e espaço; evitar rotina e monotonia. Vi que não era bem assim. Ou só assim. Seria preciso tudo isso e mais na vida a dois. Seria preciso também ter leveza na convivência, discrição, respeito, ouvir e interpretar silêncios, rir muito um do outro, definir territórios, evitar invadi-los e reinventar o Amor sempre que necessário.  Aí, virei mãe e descobri o quanto o Amor é multifacetado e até irracional. Acresci ao antigo entendimento, a insanidade desse novo Amor e o medo de perdê-lo. Depois que me fizeram avó, tenho feito especialização no assunto.
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br
 

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