Foi difícil. Pensei muito, ponderei e decidi. Vou-me embora, não para Pasárgada, para o Japão. Súbito interesse nasceu com a notícia de que em Fukuoka, apareceu no meio de uma rua imensa cratera com 30 metros de largura por 15 de profundidade, que desapareceu em 48 horas, restabelecendo o trânsito e o conforto dos cidadãos e dando ao mundo lição de esforço e eficiência. Começou assim o interesse, estopim para pesquisas sobre o país.
Japão não é apenas tecnologia. Omotenashi, não sabia, é modo de vida que, na prática, combina educação e polidez requintada, com desejo de manter harmonia e evitar conflitos. Exemplos, pessoas resfriadas usam máscaras cirúrgicas para evitar contaminar outros; vizinhos se presenteiam delicada e simbolicamente com caixa de sabão em pó antes de iniciar obras em casa. O tradicional gesto de se curvarem para a frente nos encontros, é bastante utilizado, e tem nome: Ojigi. Funcionários em lojas e restaurantes cumprimentam e se despedem dos clientes com o Ojigi. Compras feitas, o caixa coloca a mão embaixo da sua, na hora de dar o troco para evitar que a moeda caia.
Nos transportes coletivos, as pessoas se curvam ao sentar perto de você e depois, quando se levantam. Respeitam sinais de trânsito, diferente de nós. Exemplo, sinal amarelo interpretam como alerta, pare, dê passagem. Jamais jogam lixo pelas janelas do carro.
Nas escolas, o currículo é importante, mas a ênfase está na formação do aluno como pessoa: respeitar colegas, professores, o próximo e os animais; ser generoso; buscar a verdade; ter autocontrole e cuidar da natureza.
Não há funcionários para a limpeza, os alunos se encarregam dela tanto das salas de aula, quanto dos corredores e banheiros. Tarefa cumprida, quem ousa sujar o espaço? Entre outros aprendizados está a valorização e respeito à cultura e tradições através de aulas de arte da caligrafia e poesia japonesas.
De quebra, o professor ali é o profissional de educação mais bem pago e valorizado no mundo. Quebrado e destruído após a Segunda Guerra, o Japão se reconstruiu, tornando-se a terceira maior potência econômica do planeta, somatória do esforço comum da educação e de gente decente na política. Adeus, fui!
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br
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