Maravilhas

Diz que a professora pediu aos alunos que selecionassem, dentre tantas, as Sete Maravilhas do Mundo. Diz que o resultado na classe elencou

07/10/2016 | Tempo de leitura: 3 min

Diz que a professora pediu aos alunos que selecionassem, dentre tantas, as Sete Maravilhas do Mundo. Diz que o resultado na classe elencou as Muralhas da China. a única construção que pode ser vista do espaço; as Pirâmides do Egito, que nos contemplam há mais de quarenta séculos; a Basílica de São Pedro, o mais importante edifício religioso do catolicismo, moradia do Papa; o Grand Canyon, diante do qual o homem se sente menor que um grão de areia; o Empire States, que inaugurou a era dos desafios arquitetônicos na vertical; o Canal do Panamá, construção humana que uniu dois oceanos que a natureza separara séculos antes; e o Taj Mahal, o mausoléu, icônico edifício símbolo do amor de um homem por uma mulher. 
 
Palpite meu, faltaram algumas maravilhas construídas pelo homem. Faltaram o Marina Bay Sands Skypark, magnífica obra, cujo terraço no último andar parece um navio; o Supertree Grove, indescritível espécie de jardim de árvores de concreto, realização plástica de devaneio humano; e a ponte Henderson Waves, conjunto de passarelas em forma de ondas, as três em Cingapura; a Catedral de São Basílio, catedral ortodoxa russa, construída no mesmo ano em que o Brasil foi descoberto, e o Palácio de Catarina, palácio rococó que serviu de residência de Verão dos czares, ambas na Rússia. 
 
Igualmente, deixaram de ser relacionadas obras monumentais e desafiadoras como as pontes de Millau, na França, a mais elevada ponte de veículos do planeta; e a Donghai, na China, que liga um dos portos de Xangai a outro porto nas ilhas Yangshan. E haveria muitas outras que também mostram a grandeza da inteligência humana. 
 
Entre os alunos daquela sala de aula, uma menina teria ficado calada e, somente após ser solicitada, apresentou sua lista. Segundo ela, as Sete Maravilhas do Mundo seriam Sentir, Tocar, Ver, Ouvir, Saborear, Rir e Amar. 
 
Acho que tinha razão. Olhar o resultado da inteligência humana traduzido em grandes construções é fantástico, mas perceber e desfrutar das emoções provocadas pelas capacidades internas das quais somos dotados, é o grande barato. 
 
Sentir. Sentir a maciez da pele do bebê; o toque de mãos carinhosas e amorosas, que afastam a solidão, quando nos sentirmos perdidos, com dor. Sentir alegria, prazer. Sentir bater na pele quente o frio da água da cachoeira ou gotas de chuva. Até sentir saudade é bom. Tocar. Tocar e ser tocado por quem a gente ama; tocar a flor que atraiu nosso olhar; tocar a mão do filho, do amigo, do pai, da mãe; tocar o rosto de quem chora, sentir o mesmo toque, quando nós choramos. 
 
Ver. Poder ver. Ver as letras no livro; ver o Sol nascer; ver o Sol se pôr; ver o reflexo da luz na gota de água; ver a pessoa amada no meio da multidão; ver montanhas, cachoeiras, mares, plantações; ver nascer a flor da planta que plantamos com nossas mãos. 
 
Ouvir. Ouvir música; ouvir o chamado de quem a gente ama; ouvir a porta de casa abrir; ouvir um elogio; ouvir uma confidência; ouvir os passarinhos no alvorecer. 
 
Saborear. Saborear o doce do sorvete; saborear a pimenta; saborear a textura do torresmo; saborear a delicadeza da espuma do sabonete do banho; saborear o banho; saborear a alegria das crianças, o abraço do neto, qualquer olhar amoroso na nossa direção. Rir. Rir de piadas, de nossas mancadas; rir para alguém e receber o sorriso de volta; rir de prazer; rir à toa. Amar. Amar e ser amado. Aprender a amar ao próximo como à gente mesmo. Amar o diferente; amar o igual. 
 
Amar sem limite. As melhores coisas da vida seriam, por esse prisma, construções internas pelas quais somos os únicos responsáveis.
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
jornalista, escritora, professora - luciahelena@comerciodafranca.com.br

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