Semelhanças

Depois de conhecer Cuba, pensei que sabia a resposta da pergunta onde você não gostaria de morar. Estou confusa. Ao buscar informação sobre

23/09/2016 | Tempo de leitura: 3 min

Depois de conhecer  Cuba, pensei que sabia a resposta da pergunta onde você não gostaria de morar. Estou confusa. Ao buscar informação sobre países onde a liberdade — em todos os sentidos — é restrita, dei com a Coréia do Norte. Só virtualmente, ainda bem. Li parte do que há disponível e ainda confundo os rostos dos três últimos chefes de governo coreano. Em parte, porque orientais em geral me parecem muito iguais; segundo, porque são avô, pai e filho e se ocidentais são parecidos, orientais parentes são praticamente cópias xérox um do outro. Também porque o som da língua não ajuda, o que faz que  os nomes próprios, quando falados, lembrem miado de gato tipo chim cham chum. Ler, foi mais fácil; ouvir relatos e reportagens ao pesquisar sobre o fantástico trio foi mais difícil, tanto assim que,  concluí, sonora ou graficamente, meu embaraço tinha a mesma proporção. Um pouco de esforço e consegui. Kim-Il-Sung, o avô; Kim-Jong-Il, o pai; Kim-Jong-Um, o neto. Trindade nada santa.
 
Quem entra na cidade de Havana, depois de passar pelo caos do aeroporto, trauma e medo dos policiais, do constrangimento das perguntas dos mau humorados funcionários, percorre a plana estrada que leva ao centro da cidade onde estão os hotéis para turistas. Percebe que só há propaganda política nos painéis ao longo da rodovia, ilustrados apenas por Fidel e Guevara, com frases de incentivo e enaltecimento da Revolución. 
 
Ao chegar na Coreia do Norte, depois de sofrer para obter o visto de entrada, o turista enfrenta o constrangimento de ficar sem passaporte e bilhete de vôo de retorno, confiscados pelos guias, medidas para evitar que circule pelo país, enfie o nariz onde não lhe compete e descubra o que não interessa que seja conhecido. Ou sabido. 
 
O governo coreano, instaurado sob enxurrada de sangue, é descrito como monarquia absolutista ou ditadura hereditária, com acentuado culto de personalidade em torno do avô, referido como fundador do país; do pai e do neto, o atual líder Supremo do País. Dos três, o mais estranho é o neto, que tem cara de boneco bem alimentado, rompantes de fúria e ameaça constantemente o mundo com armas nucelares toda vez que  contrariado. O mais sanguinário, o Avô, carrega títulos e adjetivos como Eterno Presidente; Salvador dos Oprimidos; Presente Eterno e Onipresente, Líder Máximo. Morto em 1994 é louvado através de monumentos e estátuas gigantescas e  conseguiu sobreviver à própria morte. É autor de mais de 1500 livros, os únicos de leitura permitida à população, que exaltam seu valor pessoal e louvam o regime. Suas estátuas são perenemente visitadas e até recém-casados  vão depositar flores na imensa estátua de bronze, reverenciar e pedir proteção ao ditador, logo após a cerimônia civil. Está sepultado no centro da capital do país, Pyongyang,
 
Não há liberdade de imprensa. Há 3 canais de televisão, que veiculam apenas propaganda política. Os únicos filmes que são exibidos são propaganda ideológica, com forte conteúdo moral. Não há internet. Nem lojas com produtos chamativos. Nem supermercados e nos campos apenas terras de baixíssimo nível. Os coreanos, em geral, apresentam alto grau de subnutrição, mas a massiva propaganda política substitui o pão, e o roteiro de circo é protagonizado pelos chefes de governo. 
 
Na volta de Cuba, acreditei que aquele modelo político e social era o sonho de Lula. Após conhecer um pouquinho da Coreia do Norte, da personalidade dos ditadores coreanos, da manipulação política e da absoluta falta de respeito pela opinião pública, posso afirmar que Lula, se soubesse, adotaria o mesmo modelo de atuação política de Kim-Il-Sung, o Avô. E continuaríamos a sofrer de conformismo da ignorância. Ainda bem que Lula odeia livros e dá banana para o conhecimento.
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora – luciahelena@comerciodafranca.com.br
 
 

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