Reconhecimento

Querido amigo, boa praça, inteligente, daqueles que naturalmente formam rodas com ouvidos atentos em torno de si para ouvir casos, foi quem

09/09/2016 | Tempo de leitura: 3 min

Querido amigo, boa praça, inteligente, daqueles que naturalmente formam rodas com ouvidos atentos em torno de si para ouvir casos, foi quem contou. Estava num restaurante na Itália, e o vozerio da mesa ao lado chamou atenção. Turma grande de brasileiros e bastante jovem tentava decidir sabor e quantas pizzas pedir, quanto gastariam e o que caberia a cada um deles no rateio da conta, antes mesmo de fazer o pedido. 
 
Chamaram o garçom e o cobriram e atordoaram de perguntas, naquele italiano, mais gesto e volume, que palavras e expressões da língua. Em quantas partes poderiam dividir a pizza? Entre eles se perguntavam: quantos pedaços você quer? Eu como um só. E eu dois. Ah! você come três. No mínimo três! E a bebida? Refrigerante e vinho, à parte, anuíram. O pagamento seria proporcional, decidiram. Vieram as pizzas, comeram, vigiaram-se uns aos outros e quando veio a conta, nova discussão. Comi um pedaço, tomei refrigerante, só biquei o vinho de Fulana. Não, revidava a Fulana, de bicada em bicada você tomou mais da metade da garrafa, vai pagar a metade, sim. 
 
A discussão estava quente quando esse amigo interveio. A moçada tinha idade de seus filhos, achou-se no direito de palpitar. E entrou na conversa, perguntando se eles eram mineiros. Como você percebeu? espantaram-se. Pelo modo como procederam e o motivo da discussão, respondeu. Também já fui mineiro, revelou ele, saí há muito da minha terra e, emendou às gargalhadas, descobri que avareza e sovinice é que traem a origem do mineiro, por mais que ele se esconda ou negue. 
 
Quem inventou a mesa de jantar com gavetas sob o tampo, existente na maioria das fazendas de Minas? Eles, os mineiros. Serviam para guardar o prato, às pressas, sempre que algum compadre chegava sem avisar. Medo de dividir, esse meu amigo ex-mineiro, garantia. Depois de sair de Minas, mudar para São Paulo e se perder no mundo, eliminou toda sua mineirice, perdeu pais, irmãos e até o sotaque, lamentava.
 
CHICO BUARQUE: Ele tem-me incomodado. Embora concorde que opiniões, pareceres, juízos de valor, ideologia, política, religião, time de futebol, preferência por cor e parte do corpo situada no final do intestino, cada um tem os seus e sejam coisas absolutamente pessoais, a postura do artista tem-me incomodado. Não acredito que tenha levado vantagem nas transações promovidas pela farra petista, mas vê-lo sentado ao lado de Lula, conivente com o lulopetismo, sugere-me que ele talvez acredite na inexistência da corrupção no meio político brasileiro; que releve a impunidade e safadeza da maioria dos políticos brasileiros, e aposte na genuína honradez do próprio Lula. 
 
O artista chama atenção por ser figura de projeção nacional. No entanto o cotidiano está coalhado de fãs lulistas com atitudes que denunciam de que lado estão, pois são o típico jeito de ser petista. Lulistas, petistas roxos, acreditam que estamos, coxinhas, classe média ignorante e insensível que só presta para pagar impostos, de um lado; do outro, eles. Estão convictos da existência e eficiência de projetos de educação brasileiros. Acreditam no golpe contra a ex-presidente, na coerência e logicidade do pensamento Dilma. Não explicam o motivo pelo qual ela escolheu duas vezes o mesmo político para compor a dupla para governar o país. Contestam as altas taxas de desemprego, como divulgadas. Desconversam sobre falta de segurança nas ruas e apostam na alta qualidade do sistema de saúde brasileiro. Quando a discussão arrocha e argumentos se tornam insuficientes, todo petista/lulista abana a cabeça de um lado para outro, torce a boca num esgar de desprezo, dá uma risadinha e olha para o interlocutor como se ele fosse inferior, babaca. Como é que eu sei? Eu também já fui comunista, querido.
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
jornalista, escritora, professora - luciahelena@comerciodafranca.com.br
 
 

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