Sortilégios

Misteriosa palavra. Lembra sedução, mistério, encantamento, fadas, duendes, bruxas e magia. Sortilégios, diz-se, fazem parte de práticas

26/08/2016 | Tempo de leitura: 3 min

Misteriosa palavra. Lembra sedução, mistério, encantamento, fadas, duendes, bruxas e magia. Sortilégios, diz-se, fazem parte de práticas chamadas ocultas como feitiçaria e invocação de espíritos malignos com o intuito de conquistar algum objetivo pessoal. Durante a Idade Média o Santo Ofício, instituição formada pelos tribunais da Igreja Católica, levava para a fogueira da Inquisição milhares de mulheres acusadas de utilizar sortilégios — feitiçaria e encantamento sobrenaturais principalmente — em prol de vontades do demônio. Notícias e leituras sobre excessos e rigor por parte de religiosos ortodoxos, fazem pensar nos danos que a intolerância religiosa tem causado à humanidade ao longo dos séculos. Guerras religiosas mataram mais gente e de forma muito mais cruel, que as guerras ideológicas, políticas e civis. Mesmo sem fazer o levantamento numérico dos estragos, basta imaginar as perdas humanas nas Cruzadas, mais o tenebroso resultado do extermínio de índios — americanos do norte, canadenses, mexicanos, da 
América do Sul, Central e os do Brasil. Mais o Holocausto. 
 
É sortilégio o poder de pessoas que convivem conosco, algumas até próximas, que ‘têm olhos de secar pimenteira’. Injustiça com a planta que é linda e decorativa, mas considerada antídoto do conhecido olho gordo. Dizem, as pimenteiras captam a energia negativa transmitida por algumas pessoas e, quando o fazem, murcham, pelo efeito do mau olhado. Dizem, neutralizam más influências invisíveis, rechaçam a inveja e purificam o ambiente. Há quem tenha tatuagem de pimenta no corpo — enfeite ou medo do olho gordo? Particularmente adoro pimentas; primeiro, me apraz o efeito semelhante ao meu gênio ardido; segundo, sou apaixonada pela neta, que chamo Pimentinha, pelo mesmo motivo. Evidentemente não somos Pepperoncini que não ardem nada, mas minha mãe me chamava exageradamente de Malagueta, a pior delas na escala de ardência, porque mães sabem como ser cruéis com as filhas. 
 
Casos para contar sobre episódios de mau olhado e inveja há aos montes. Tenho dois, na minha história de vida. O da senhora que me perguntou, às vésperas do meu casamento, o que eu usava no cabelo e à resposta que não tinha qualquer segredo, que eram produtos nada especiais, e praticava o pecado maior contra a cabeleira de desembaraçá-la com escova de aço, ela olhou para meu cabelo e respirou fundo. Quinze dias depois, por engano bobo da cabeleireira, quase tive que passar a usar peruca. Depois disso, fugia dela, feito o diabo da cruz... Segundo, a súbita morte da trepadeira maravilhosa que tinha na frente de casa, que murchou e secou logo após me perguntarem o nome dela, e eu responder que não sabia. Plantei outra e, por via das dúvidas, tenho na ponta da língua seu nome complicado. Vai que ela pergunta outra vez. Além da pimenteira, há mil outras formas de combater sortilégios e maus olhados e, para cada caso há específico sortilégio. Nos antigamentes as pitonisas ou o oráculo faziam o serviço; hoje há o Google, mais prático e à mão. Ali se encontram receitas neutralizadoras de mau-olhado, quebrantes, feitiços e quetais, para serem usadas por principiantes, conhecedores ou especialistas. 
 
Em parte foi agosto, que termina, que me lembrou feitiços e sortilégios. O mês é dedicado ao mistério. Em parte estimularam-me as boas notícias do Brasil — as Olimpíadas foram sucesso, resultado que tanto pode ser fruto de muita reza, de sorte, como de competência, e a sorte sempre esteve a nosso favor, reconheçamos. A lição foi que, em pouco tempo, caso viéssemos a apostar mais na eficiência que no jeitinho, poríamos nosso país entre os maiores do mundo. Também fui incentivada, não posso negar, pelas leituras sobre políticos da nossa nação. Por exemplo, adoraria descobrir que sortilégio fechou o corpo de Lula, para usar e deixar o do Moro tão fechado quanto. 
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
jornalista, escritora, professora - luciahelena@comerciodafranca.com.br
 
 

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