Bizarrias

Visitantes de muitos dos países asiáticos, invariavelmente estranham costumes e hábitos que encontram neles. Toaletes, por exemplo

22/07/2016 | Tempo de leitura: 3 min

Visitantes de muitos dos países asiáticos, invariavelmente estranham costumes e hábitos que encontram neles. Toaletes, por exemplo, que os asiáticos utilizam nas horas de aperto. Ou de extrema necessidade. Ou seja, naquelas horas nas quais a suposta superioridade humana desmorona. Quer dizer, quando a apregoada categoria de homo sapiens perde toda a pompa e circunstância e todos voltamos a ser animais que ingerem alimentos e eliminam o que não aproveitam. Índia, por exemplo. Os toaletes mais comuns são construídos no chão cimentado ou ladrilhado: buraco no meio de apoios para os pés nas laterais do fosso. O dejeto líquido dos homens pode ser eliminado com o sujeito em pé e requer apenas pontaria; para a mulher, a logística é um pouco mais complicada, piora quanto mais anosa ela for. Se o dejeto é sólido, não há outro jeito senão rezar, enquanto se agacha com cuidado para não perder o equilíbrio. Nessa hora, cuidados extras com a bolsa, celular, casaco e com os óculos. Toda vez que o turista utiliza toalete desse tipo, comprova a afirmação de que ‘turista sofre’. Pelo menos por este aspecto. 
 
Estranhamos, julgamos e criticamos usos e costumes dos orientais, dos índios, dos povos que consideramos menos desenvolvidos. Não raro julgamos e ridicularizamos hábitos ocidentais diferentes dos nossos. Bizarrias e excentricidade, porém, estão por toda parte, aqui, lá e acolá. Onde existam humanos, na verdade. 
 
Europeus ou norte-americanos ao pisar nosso solo e começam a se relacionar conosco, começam por achar esquisito o fato de tomarmos mais de um banho por dia. Ficam surpresos quando veem casal sentado do mesmo lado da mesa no restaurante: nem lhes passa pela cabeça o motivo pelo qual não estão tête-à-tête quando poderiam se olhar melhor, conversar com olhos nos olhos de forma muito mais romântica, acham. Outras estranhices deles: comermos sanduíche enrolado no guardanapo ou comermos pizza com garfo e faca; pizza e sandubas são comidos com as mãos, afirmam, e guardanapo é para limpar a boca, dizem. 
 
No relacionamento com desconhecidos, americanos ou europeus são extremamente protocolares principalmente se as pessoas não se conhecem, ou não foram apresentadas. Tratam-se cerimoniosamente, não tem beijinho pra cá, muito menos para lá. Os prenomes dificilmente são usados nessa situação de mútuo desconhecimento e o tratamento distante e formal para se referirem uns aos outros, é na base do senhor, senhora ou senhorita. Eles não confundem as crianças: tio e tia são respectivamente irmão ou irmã do pai ou da mãe, e professores são tratados com delicadeza, embora com idêntica formalidade. Outro hábito que consideram execrável: jogar papel higiênico sujo no lixinho ao lado da privada: julgam o procedimento de muito mau gosto, além de causador de péssimo cheiro no local. Jamais entenderão o motivo de marcarmos horário de festa, e contarmos que os convidados só cheguem horas depois daquele que está marcado no convite. A lista é extensa. 
 
Ultimamente, porém, a essa lista de relacionamento social e idiossincrasias — brazilidades, digamos — eles acrescentaram incredulidade e incompreensão na análise de nossa situação política e social, diante da realização de dois eventos esportivos — Copa e Olimpíadas — que exigiram gastos incompatíveis com nossa realidade social, econômica, educacional e da saúde. 
 
Foram gastos bilionários, só admissíveis em países ricos e estabilizados, dizem. Não compreendem como o governo construiu estádios que, depois da Copa do Mundo, foram abandonados. Não entendem como ficamos passivos diante do quadro tétrico da saúde pública — falta de hospitais e material básico para a prática da medicina, e vemos realizados eventos de bilhões. A cara desses estrangeiros, quando percebem nossa realidade, é de absoluto pasmo; a de muitos brasileiros, de nem todos, porém, fica vermelhinha de vergonha. 
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
jornalista, escritora, professora - luciahelena@comerciodafranca.com.br
 
 

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