Orgulho

Em Franca, nos idos 40,50,60 e parte dos 70, no Instituto de Educação ‘Torquato Caleiro’, a cadeira de Música e Orfeão era da professora Lúcia

08/07/2016 | Tempo de leitura: 3 min

Em Franca, nos idos 40,50,60 e parte dos 70, no Instituto de Educação ‘Torquato Caleiro’, a cadeira de Música e Orfeão era da professora Lúcia Ceraso que tomou como sua a obrigação de ensinar aos jovens de então, além de solfejo e algum conhecimento de música — colcheias, semi-colcheias, fusas e compassos, muita música do cancioneiro brasileiro, com ênfase nas canções patrióticas. Exageradamente exigente e ufanista, obrigava-nos a cantar à perfeição tanto o Hino Nacional, como aqueles que homenageavam a Bandeira, Proclamação da República, Independência e o 9 de Julho, data paulista que nem era feriado por aquela época. 
 
Cantávamos o dobrado 9 de Julho sem saber exatamente o que significava a data que somente foi considerada feriado civil paulista em 1997. Nem imaginávamos, a marcha original, sobre a qual está assentada a letra de Guilherme de Almeida, se chama Paris-Belfort e pertence ao cancioneiro francês. A letra era bastante rebuscada — ‘9 de julho é a luz da Pátria, data imortal deste berço augusto, de bandeirantes denodados, deste São Paulo vanguardeiro e justo’. E por aí, ia... 
 
Na época não pensava muito, só depois aprendi a questionar. Por exemplo, não sei por qual razão elevavam e elevam tanto a figura dos bandeirantes que sim, tiveram o mérito de desbravar o interior do Estado, mas fizeram um belo estrago com relação ao povo nativo. Novamente, em se tratando de história do Brasil, há muito mais para ser compreendido. Sabíamos por alto que o hino comemorava a Revolução de 1932; que tanto Mário Masini, como outros homenageados com nomes de rua da cidade, haviam morrido por essa luta e o que significava MMDC era questão recorrente nas provas de História. 
 
A Revolução Constitucionalista de 1932 foi levante armado da população de São Paulo que pretendia destituir o governo provisório de Getúlio Vargas, soube bem mais tarde. Dois anos antes, ao assumir o poder no país, Vargas fechara o Congresso e abolira a Constituição. Os soldados voluntários paulistas lutaram bravamente, mas a tropa muito mais numerosa e tecnicamente preparada do exército federal venceu. Durou 4 meses, foi mal sucedida e somente dois anos passados daria algum resultado — em 1934 o governo central promulgava uma nova constituição. 
 
A Revolução de 32 é tema controverso dentro da história brasileira. Há vertente que afirma ter sido esse levante, um dos principais marcos da formação do que ela chama de paulistanidade, pela qual o Estado de São Paulo, ao se ‘julgar o carro chefe da nação’, teria induzido ‘as elites locais a aproveitarem o sentimento de união gerado pela revolta para reforçar seu discurso sobre o suposto espírito superior do povo de São Paulo’. Suposto espírito que ‘elevou certas populações, como a dos imigrantes italianos até então discriminada, e rebaixou outras, como a dos afrodescendentes e os migrantes do Norte e Nordeste do país’. 
 
Essa paulistanidade, por outro lado, esse orgulho pela região e pelo Estado, é fruto de evidente trabalho dos paulistas: só em maio de 2016 São Paulo arrecadou cerca de 41% do total de impostos brasileiros. Sozinhos, não faríamos tudo, e o fato de termos feito muito não nos autoriza julgarmo-nos superiores ou a manifestar qualquer prepotência ditada pelo sentimento de regionalidade. Há quem defenda a separação dos estados do sul dos outros do país. Ao escutar críticas raivosas e maldosas sobre São Paulo e paulistas, sobre nossa capacidade de trabalho, tendo a pensar em defendê-la. O discurso de ódio, de rancor contra paulistas é pura inveja, tem origem no radicalismo político cujos representantes procuram pelo em ovo. 
 
Para combatê-lo, cantemos e louvemos o 9 de Julho, como nos foi ensinado. Nós sabemos o quanto temos de nos orgulhar de nosso Estado.
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
jornalista, escritora, professora - luciahelena@comerciodafranca.com.br
 

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