A Inglaterra, nestes últimos dias, chamou a atenção mundial por dois motivos. Três, digamos. Primeiro, a comemoração do aniversário da rainha Elizabeth que, aliás, foi em abril. Naquele mês de muito frio, a festa ficou restrita aos familiares, entre as quatro paredes do Palácio de Buckingham. Paredes, muralhas e grades, melhor dizendo. Os ingleses justificam dizendo que ela é rainha, pode ter quantos aniversários quiser. Humor inglês, diga-se de passagem. 11 de Junho foi o segundo dia da segunda comemoração, tão grande, coisa para ninguém botar defeito, festa grande, digna de rainha.

 

As duas principais ruas do centro de Londres — Oxford e Regent Street — estavam, como muitas ruas e casas espalhadas pela capital e pelo interior, enfeitadas com a bandeira do Reino Unido. Vitrines de lojas famosas e tradicionais como as da Fortnum & Mason — onde ela compra seus chás, mostravam decoração especial cujo tema era invariavelmente a alegria e regozijo pela data. 

 

Tinha lata de bolachas, bandejas, xícaras e canecas toalhas de mesa, velas, bules, tudo com o mesmo tema: a imagem de Elizabeth. Revistas com edições especiais do aniversário, jornais impressos, programas de televisão, todos se manifestaram e se mostraram super felizes pela efeméride. 

 

A grande rede de lojas Mark & Spencer montou cestas especiais para o piquenique que foi realizado no parque e na grande avenida que dão acesso ao palácio. Os ingressos e as tais cestas para a participação dessa festa popular foram entregues a instituições de caridade que os revenderam a peso de ouro. O lucro foi revertido para obras assistenciais. 

 

Em salas e locais especiais nos bairros foram programados encontros entre os moradores, com a mesma intenção de comemorar os 90 anos da querida rainha, que reina mas não governa. Nos bairros, comidas e bebidas eram gratuitos. Faltou combinar com São Pedro. Aquele sábado, 11 de junho, talvez para ajudar a manter a tradição britânica, choveu toda a água armazenada no céu para os próximos dez anos. No entanto, cumpriu-se a agenda de programação, do primeiro ao último item. E a rainha, tão amada e admirada por quase todos ingleses, recebeu mais essa prova do carinho do seu povo. 

 

O segundo motivo pelo qual os olhos do mundo se voltaram para a ilha, foi o resultado do referendo que poderá tirar o Reino Unido da Comunidade Européia e, talvez, até mudar sua composição, pois Escócia, Irlanda e País de Gales discordam da retirada. O mundo inteiro ficou pasmo diante do remate desse movimento separatista. Muitos ingleses também. Fala-se em reedição do plebiscito porque a diferença entre aqueles prós e contra a separação não sugere total segurança da população quanto ao resultado. 

 

O terceiro motivo, o resultado do jogo Islândia X Inglaterra na EuroCopa, que tirou a Inglaterra (país inventor do esporte) do páreo. Time pequeno, estreante numa grande competição internacional, surpreendentemente derrotou a tradicional gigante. 

 

Curiosidades, a Islândia em 2014 esteve muito perto de se classificar para a Copa do Mundo e vir para o Brasil; o maior campeão do time se chama Knattspyrnufélag Reykjavíkur, chamado internacionalmente KR por razões óbvias; o jogador mais conhecido do time é Eidur Gudjohnsen que, fato inédito, jogou ao lado do pai em uma partida amistosa internacional; em 2002, time da seleção brasileira comandada por Felipão aplicou 6x1 na Islândia. (Aqueles 7x1 foram praga deles).

 

Meu neto inglês chora há dois dias por causa do desconfortável resultado. Tentarei lhe mostrar que até o futebol sofre influência do moral do povo. A tristeza popular geral e irrestrita contribui para derrotas, assim como a alegria ajuda nas vitórias, até mesmo no futebol. 

 

Dado o atual clima brasileiro de sofrimento e desesperança, ainda bem que nosso time não participa do Euro. 

 

 

Lúcia Helena Maníglia Brigagão

jornalista, escritora, professora - luciahelena@comerciodafranca.com.br