Preservação

Na Inglaterra 2000, especialmente em Londres, nota-se a pluralidade de raças; ouve-se o idioma inglês com sotaque britânico falado por pouca gente

10/06/2016 | Tempo de leitura: 3 min

Na Inglaterra 2000, especialmente em Londres, nota-se a pluralidade de raças; ouve-se o idioma inglês com sotaque britânico falado por pouca gente e quando falado, com sotaque brasileiro, espanhol, português, francês, americano, neozelandês, turco, indiano, iraniano, além de outros inidentificáveis. Com relação aos habitantes, há vinte anos dentro de qualquer ônibus ou trem de metrô, de qualquer das várias linhas, quatro em cinco eram nativos. Hoje a proporção é de um em cinco, assim mesmo porque a população jovem, maioria miscigenada, nasceu aqui nesses vinte anos. Tal é o preço que a Inglaterra paga pela ocupação forçada de terras alheias, pela opressão em tantos países, pelo que fez com a Índia e com países da África, especialmente. 
 
País da União Européia, fará referendo dia 23 de junho para decidir se permanece ou não como participante da organização. País civilizado, malgrado o voto não ser obrigatório, desde que comprovada a residência legal no país, qualquer cidadão em solo inglês pode opinar. O eleitor se inscreve e recebe pelo correio, permissão para votar. Outra idiossincrasia, pelo menos deste referendo inglês, o eleitor habilitado anteriormente pela inscrição, que não puder comparecer, pode investir alguém de sua confiança para votar em seu lugar. Não sei quando estaremos maduros para agir da mesma forma. 
 
Entretanto, os motivos que fascinam qualquer turista, de qualquer parte do mundo, quando em solo britânico são outros. Há as pessoas inglesas, com a Rainha Elizabeth no topo da lista, seguida por Beatles (leia-se John Lennon), Rolling Stones, Oscar Wilde, Churchill, Beckham, Stephen Hawking, Jane Austen, Fleming, Shakespeare, Darwin, Guy Fawkes, Sherlock Holmes, ‘M’ — chefe do 007. E o 007. Na listagem da turma mais nova, inclua-se Harry Potter. Igualmente fascinante é o cuidado britânico com monumentos, praças, locais históricos e objetos que fizeram parte da história da Grã-Bretanha. Maravilhosa é a luta pela preservação do patrimônio. 
 
Há bairros, desde muito sofisticados a outros bem simples, em cujos exteriores e fachadas não se pode mexer, ou transformar, ou acrescentar algum detalhe. No interior do imóvel, desde que aprovadas as intenções pelo comitê governamental do bairro, o proprietário reforma como quiser. No exterior, sua autonomia fica restringida em nome da manteneção do visual conjunto. Quando há intenção de reformas, externas ou internas, grandes ou pequenas, visuais ou estruturais, o proprietário pede alvará no Council — espécie de subprefeitura existente em cada bairro. Se deferido positivamente, o papel é afixado na janela da propriedade. No entanto, se algum vizinho não aprovar, ele pode embargar os trabalhos. 
 
São medidas e cuidados assim que preservam a identidade da maioria das cidades européias; impedem destruição de patrimônio público ou particular que tenha alguma importância histórica. Daí é que se pode entrar em prédios antigos ou palco de momentos significativos na história dos cuidadosos países de qualquer canto do mundo. Não fosse assim, não se poderia ainda rezar na Cantebury Cathedral, construção iniciada em 597. Ou andar na Torre de Londres cujo início de construção data de 1066. Muito menos, entrar no Lamb & Flag, pub de 1623. São medidas assim que no Brasil, em Franca particularmente, deveríamos seguir como exemplo. 
 
Perdemos o Hotel Francano; alma iluminada pretendeu modernizar a praça central ao derrubar o Coreto e o Caramanchão, que estiveram presentes em grande parte dos 210 anos da cidade desde que foi Freguezia de Nossa Senhora da Conceição da Franca. Perdemos os casarões da época do café. Considerei alarmante a intenção de venda e loteamento do campo do Palmeirinha, palco de grandes momentos francanos. Moderno não é substituir o que existe; moderno é, principalmente, preservar, como fazem os países com mais experiência que nós. 
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
jornalista, escritora, professora - luciahelena@comerciodafranca.com.br
 

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