Dúvidas

Há um ano o jornalista Thomas Traumann deixou o Ministério da Comunicação Social após vazamento à imprensa de relatório no qual afirmou

29/04/2016 | Tempo de leitura: 3 min

Há um ano o jornalista Thomas Traumann deixou o Ministério da Comunicação Social após vazamento à imprensa de relatório no qual afirmou que o governo apresentava ‘comunicação errática’ e, também, alertava que o país caminhava para o caos político. Há duas semanas, por causa daquele domingo histórico, vimos que, de fato, o caos político foi alcançado. 
 
De lá para cá o que se viu foi a correria de políticos atrás da boia de salvamento; a presidente vociferar aos quatro ventos que correm no planeta a injustiça cometida contra ela; o ex-presidente ficar parecido com a imagem do louco das histórias infantis: olhos esbugalhados, fala rouca, mãos crispadas, boca com espuma de raiva. Dada a quantidade de cobras, lagartos, baba, impropérios e palavras de baixo calão que ele vomita, há que se temer: boa coisa não vem por aí. Disse temer, não Temer! Falando no vice-quase-presidente, prestigiado escritor aconselha que tome muito cuidado com sua saúde e segurança: se algo acontecer com ele — simples gripe mal curada, elevação de pressão arterial, disenteria, qualquer coisa! — quem assume a presidência do Brasil é o Eduardo Cunha. (Valha-me Deus!). Se este for afastado, seja qual for o motivo, o seguinte na sucessão é Renan Calheiros. Diante das tenebrosas perspectivas, não temos saída. Rezemos para que a saúde do Temer seja preservada e continue perfeita. 
 
Naquele domingo do início do caos, grudei na televisão, à espera dos votos e justificativas dos nobres deputados. Triste espetáculo. Nossos deputados federais, responsáveis por ‘propor, discutir e aprovar leis; debater políticas públicas; fiscalizar e investigar o Poder Executivo; autorizar processo contra o presidente da República pelos chamados crimes de responsabilidade; aprovar o Orçamento da União’, tarefas gloriosas e importantes, declinavam seus votos e os dedicavam a familiares. Nenhum citou o crime de responsabilidade, que caracteriza o crime da presidente. No triste espetáculo mambembe, entraram cusparada, pega pra capar, empurrões, vaias. Só faltou batuque. Ao final, para comemorar, uma bandeira brasileira era atirada ao alto, voava e caía no chão. Várias vezes. 
 
O deputado federal que ajudei a eleger fez parte do espetáculo grotesco. Ao desligar a televisão, continuei vermelha de vergonha por algum tempo e não me sobrou senão a alternativa de assumir que eu não soube escolher. Não soube votar. 
 
Educação rigorosa nos moldes antigos me iludiu e induziu a imaginar que eu era cidadã. Não jogo lixo nas ruas. Não contribuo qualquer tantinho com a violência urbana. Respeito horários e filas. Respeito sinais de trânsito; sinalizo minhas intenções quando ao volante. Não estaciono em locais proibidos ou em vagas especiais. Desligo celular em ambientes públicos silenciosos. Não minto. Não suborno autoridades. Jamais peço para darem um jeitinho para me atender. Não fico com troco indevido, nem com objeto achado; pago minhas contas. Sei dizer muito obrigada, por favor. Sei pedir desculpas. Cumprimento quem encontro, mesmo que não conheça, sem esperar o mesmo da outra pessoa. Nas poucas vezes que pedi emprestado, devolvi. Jamais peço ‘um minutinho!’ para atravessar o atendimento de alguém em lojas ou departamentos públicos. Uma vez, ou duas, usei citação ou idéia que não eram minhas criações e morro de vergonha até hoje por isso. Aprendi, faz tempo, que o cumprimento dessas normas é apenas minha obrigação, como membro de uma sociedade. Votar é que me torna responsável pelos demais brasileiros. 
 
Desde aquele domingo, diante da triste, acachapante e esmagadora situação, tenho me perguntado: nas próximas eleições quem escolherei para me representar? Qual candidato estará realmente empenhado em resolver os problemas brasileiros de educação, saúde e segurança? O candidato que eu eleger não se perderá nos meandros da corrupção? Dentre todos os brasileiros, com exceção do Moro e Joaquim Barbosa, em quem poderei confiar?
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
jornalista, escritora, professora - luciahelena@comerciodafranca.com.br
 

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