Desejos

Os jovens modernos custam a acreditar — ou nem acreditam — que, embora as mudanças no modus vivendi das sociedades notadamente tenham

26/02/2016 | Tempo de leitura: 3 min

Os jovens modernos custam a acreditar — ou nem acreditam — que, embora as mudanças no modus vivendi das sociedades notadamente tenham sido muitas, fortes, intensas , radicais, enérgicas e estruturais desde que descemos da árvore, internamente continuamos os mesmos e, segundo a música, em certos aspectos ainda vivemos como nossos pais. Ou como nossos ancestrais, aqueles que arrastavam as mãos ao andar. 
 
Inveja, egoísmo, mentira e manipulação da verdade, torção de fatos para cunhar falácias foram inventadas há tempo. Sentimentos como esses, que a prática solidificou e até aprimorou, notadamente são eternos, recorrentes e provavelmente nasceram no momento em que o ser humano percebeu, ao sentir que sua imaginação não tinha limites, que o poder de controlar ou influenciar pessoas, fatos ou situações indevidamente e segundo os próprios interesses, era grande e aplicável em si mesmo, na família, nos relacionamentos, na sociedade. A humanidade cresceu em número, diversificou-se em raças e, outra teoria minha, foi quando surgiram homens e mulheres mais espertos que outros. Se despontaram seres humanos especialmente grandes entre os comuns, na contramão surgiram políticos e líderes sem escrúpulos. Prova disso, a história humana que registra personalidades como Mandela; Martin Luther King; tantos Charles — Chaplin, Darwin, Boyer; Madre Teresa; Beatles; Anita Garibaldi; Zilda Arns; Chico Xavier; Einstein, Beatles, Sócrates e Dalai Lama; também registra Hitler, Messalina, Mata Hari, Eduardo Cunha, Collor, Delcídio Amaral, Renan Calheiros e muitos tantos Luízes, como o da Silva e o XIV da França ambos que, num certo momento da vida, coincidentemente perderam as cabeças por causa do excesso de poder.
 
Mas não era isso que eu queria dizer, peço perdão. O pensamento voa, uma coisa puxa outra e, de repente, olha eu perdida nas minhas divagações aqui. Dizia que os jovens, volta e meia, pensam que reinventaram a roda, embora sejam craques de dar inveja na tecnologia. Quanto aos meus, confesso sentir ligeira crueldade tão logo percebem minha incompetência em vários momentos, principalmente quando tento fuçar, sem a assistência deles, naquele monte de minúsculos botões dos aparelhos modernos. Volta e meia meio que me desprezam ou porque travei o celular, ou apaguei inadvertidamente arquivos importantes, ou não consegui digitar mensagens com os polegares das duas mãos. Morrem de rir. São habilidosos, eficientes, capacitados e peritos na habilidade tecnológica, coisas e atividades próprias da geração deles. Todavia, em certos momentos recuam na exibição de suas habilidades e se tornam apenas crianças ou jovens, como todos fomos um dia. 
 
Flagrei três netas diante de móvel cheio de pequenas figuras decorativas de porcelana, recordações de viagem,  objetos que se tornaram recordações materiais de grandes momentos da minha vida. Pouca idade, nenhuma acima dos onze. Pareciam hipnotizadas diante do meu tesouro. Confabularam, me chamaram. Pediram que eu lhes desse alguns que escolheram. Negociei. Prometi que cuidaria deles, mas não daria naquele momento, eu os daria em datas especiais. A primeira neta escolheu a pequena bailarina ganha no meu aniversário de quinze anos; a segunda, a cesta de pequenas flores, especial porque trazida no colo, de lugar distante; a terceira quis a miniatura de barraca de feira-livre mexicana. Quando dará? perguntaram. Será meu presente no aniversário de quinze anos de cada uma — repeti mamãe e vovó, quando eu desejava seus pertences. Por anos elas cobiçaram os objetos. Tomei susto grande ao perceber que, muito breve, a bailarina irá para outro armário. 
 
O tempo mudou, costumes idem. Idêntico ao que acontecia nas gerações passadas, o Desejo continua na base dos Sonhos e esses mantêm viva a Esperança, razão de ainda acreditarmos no futuro. E, terrível, o presente volta e meia repete o passado. 
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
jornalista, escritora, professora - luciahelena@comerciodafranca.com.br
 

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