Podemos nos dar ao luxo de perder muita coisa. Podemos nos dar ao luxo, por exemplo, até de perder dinheiro. Dinheiro se recupera. Mais dia, menos dia, ele volta ao bolso. Vem pelo viés do trabalho, da sorte, da estratégia, mas vem. Outro item campeão de perdas, chaves, sejam as de casa, as do escritório, as do carro. Elas existem em duplicata, exatamente porque são itens facilmente - não digo descartáveis, mas perdíveis. Podem ficar pelos caminhos, dentro de outras bolsas, nas ruas, cair no bueiro. Mas existirá sempre um chaveiro habilidoso que abrirá as portas necessárias. Celular? Quem nunca perdeu o celular? Mas me diz: morreu por isso? Além da preciosa agenda, das fotos armazenadas, de alguns recados que se pretendia guardar de lembrança, foi embora algum dedo? Perna? Olho? 

 

Você pode perder peso. É perda, mas fica fora da lista das indesejáveis, por razões óbvias. Se não é bom perder dinheiro, chaves, celular ... é muito bom perder peso. É maravilhoso. Melhor, claro, se você o perde sem precisar malhar ou abandonar o sorvete, o chantili, o doce de goiaba com requeijão. Se você não é a Gisele Bündchen ou o Brad Pitt, entenderá o que digo.

 

Não é bom, mas acontece: perder a paciência. Diante de tanta idiotice política; de notícias que envolvem manobras de políticos tinhosos; de esquivamentos nunca antes vistos na história desse país; do triunfo das nulidades; da prosperidade da desonra; do agigantamento dos poderes nas mãos dos maus, você vai acabar por desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, e até a ter vergonha de ser honesto e não sou eu que está dizendo isso não. Isso foi dito no século passado por um sujeito chamado Rui Barbosa, o que mostra que não é de hoje que o Brasil vai mal, muito mal. Diante de tal panorama, você não perder a paciência, você é santo! 

 

Cabelo. Indesejável perdê-los, embora se afirme que é dos carecas que elas gostam mais. Perdendo-os você correrá o risco de ganhar apelidos vários. Não deixa de ser perda séria, principalmente porque com ela, inevitavelmente, vêm ganhos indesejáveis, entre os quais, com destaque, o ganho de peso. Mas nada a temer. Carros luzidios, propriedades, ranchos à beira mar ou beira rio, sempre chegam junto e compensam a perda dos cabelos. 

 

Mais perdas que podem ocorrer e que não o matarão? Obviamente, com exceção da perda da saúde, podem ir-se embora carteiras, brincos, controles remotos, canetas. Vão-se os anéis e ficam os dedos, falava-se. 

 

As mulheres que me perdoem, dizia um velho amigo, mas homens quando assumem caso, mesmo que seja com a musa do momento, sofrem perdas significativas. Cínico de nascença, afirmava que jamais assumiria qualquer mulher para não perder: 1. Amigas (que se tornam ameaças para a titular). 2. Finais de Semana (incluindo cervejinhas no bar da esquina, partidas de futebol e peladas entenda como quiser!). 3. Diversões casuais (ele nunca esclareceu isso direito). 4. Liberdade (de ir e vir; de usar e abusar do cigarro e do álcool). 5. Fugas Estratégicas (eventuais viagens com a turma; cineminha na cidade vizinha, ranchada masculina, pescarias). Ele também falava em outras perdas, ao assumir qualquer mulher, como a da Independência Econômica; Opções; Abandono de Planos Pessoais; Espaço e Identidade. Bem, isso tudo na visão míope de homem que nunca amou e, por conseguinte, nunca foi amado. 

 

Há uma coisa apenas que não se pode perder. Que ninguém pode se dar ao luxo de perder: Tempo. Porque ele passa rápido; é irrecuperável; é bem de primeiríssima fundamental e primordial grandeza. 

 

Sobre seu aproveitamento, dizia Dalai Lama: “Só há dois dias no ano em que nada pode ser feito: o Ontem e o Amanhã. Portanto Hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.”

 

 

Lúcia Helena Maníglia Brigagão

jornalista, escritora, professora - luciahelena@comerciodafranca.com.br