Tragédias

Quase não se ouve mais falar nas enchentes que costumavam assolar Santa Catarina. Blumenau, Rio do Sul, Trombudo Central, Joinville

20/11/2015 | Tempo de leitura: 3 min

Quase não se ouve mais falar nas enchentes que costumavam assolar Santa Catarina. Blumenau, Rio do Sul, Trombudo Central, Joinville, Pouso Redondo entre outras, são cidades que ficavam sob as águas do Itajaí nos meses de chuva. Talvez elas ainda ocorram, mas é provável que agora sejam controladas por alguma técnica. No entanto, quando aconteciam, além daqueles, muitos municípios catarinenses ficavam isolados, sem água, luz, medicamentos e alimentos que só chegavam de helicópteros. Era uma tragédia. Contavam que a enxurrada pegava os moradores de surpresa, embora eles ouvissem de longe o barulho daquela massa de água que entrava pelas casas, derrubava móveis, arrebentava portas, estragava eletrodomésticos e móveis. Era devastadora. Paredes das casas tinham marcas das enchentes. No entanto, os moradores contavam, depois que consertavam os estragos provocados por elas, novamente plantavam suas sementes e esperavam pela soberba colheita que viria, com certeza. Era o que os alentava.
 
Infelizmente outras tragédias acontecem, algumas semelhantes, outras bem diferentes em suas naturezas. Esse novembro de 2015, que prenunciaram Azul, na verdade foi negro. O que aconteceu recentemente em Mariana, deveria provocar mais revolta, que lamentação dos brasileiros. Tivéssemos sangue mais quente, mais pendor para a luta pela decência e dignidade, estaríamos cobrando do governo a conta pelo sucedido. Minas Gerais tem 184 barragens semelhantes às que romperam. Nos últimos quatro anos, cada barragem passível de fiscalização no país recebeu, em média, uma única visita de fiscais do governo federal. Uma. E nem foram todas.
 
Simplista culpar o governo pela tragédia? Para quem Mariana e Espírito Santo irão mandar a conta dos estragos, da dor, das perdas? Para a Samarco? A seguir o protocolo brasileiro, a empresa tem amigos políticos, pagará multa e seus sócios dormirão tranquilos. Ninguém me respondeu, deveria enviar a pergunta para Brasília: tão logo foi noticiada a tragédia, se o exército fosse convocado e construísse rapidamente barragem para conter ou desviar a lama, a enxurrada teria provocado o desastre ambiental que causou? Diversa da expectativa dos catarinenses quando terminava a enchente, a dos mineiros e capixabas não traz nenhum alento ou esperança. Dona Dilma liberou o fundo de garantia dos atingidos, ao invés de exigir ressarcimento dos danos. E ela acha que fez muito. 
 
Novembro negro, mesmo. Longe daqui, o ataque sofrido por Paris e suas vítimas, deixou o mundo e os homens livres perplexos. Depois dele, todos devemos estar em estado de alerta. Cidades como São Paulo, Londres, Madrid, Roma deverão ficar em permanente vigília. Durante as Olimpíadas, em 2016, embora o brasileiro tenha memória curta, o Rio de Janeiro deverá redobrar atenção com segurança. Multidões que se juntam para eventos — de shows a partidas de futebol —, correm risco. Vai demorar para o cidadão que precisa de transporte público nas grandes e pequenas cidades entrar em ônibus, metrô, carro, avião ou navio com tranquilidade. Doravante, ninguém mais se sentirá seguro. O estereótipo da figura do monstro, que todos temíamos na infância ganhou nova configuração: usa barbas, turbante, vestes longas, carrega fuzil nas mãos e tem olhar carregado de ódio.
 
O mundo inteiro se sentiu ofendido com o recente ataque a Paris; o mundo sofreu junto com os moradores de Mariana. Nunca a frase de John Donne fez tanto sentido: ‘Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.’ Pena que o governo federal desconheça frase e seu sentido. 
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
jornalista, escritora, professora - luciahelena@comerciodafranca.com.br
 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Fale com o GCN/Sampi! Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Receba as notícias mais relevantes de Franca e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.