Com o crime não tem acordo


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<p>Wanir José da Silveira Júnior é o legítimo policial “linha-dura”. Faz questão de acompanhar todas as ações da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), da qual é o delegado-titular, de perto. <br /><br />O policial deixa claro que não gosta de bandidos. E não foge do confronto com eles, caso isso seja necessário. “Entre chorar a mãe de um policial e a de um bandido, que chore a do bandido”, disse ele recentemente. O delegado admite que existiu uma sensação de medo vivida por policiais civis e militares na última semana, com diversos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) contra as forças de segurança do Estado. Mas, em seguida, observou que esse sentimento entre os policiais já passou e avisa que qualquer investida contra a polícia será respondida imediatamente “com três ou quatro vezes mais intensidade”. Para aliviar o estresse do conturbado dia-a-dia, Wanir Silveira tem duas paixões: a prática do aikidô, da qual o delegado é faixa preta, e as corridas de cavalos: o gosto pelos animais é tanto que o “xerifão” é diretor do clube Cristais Paulista, que disputa o circuito regional de corridas hípicas. “Ninguém agüenta só pensar em prender bandidos. Tem de ter um pouco de distração”, disse o delegado. </p> <p><strong>Comércio da Franca - Qual sua experiência como policial?<br />Wanir José da Silveira Júnior</strong> - Comecei minha carreira em 1990, em bairros da periferia de São Paulo, depois trabalhei em Miguelópolis, Itirapuã e Patrocínio Paulista. Depois, fui para a Dise e, há cinco anos, estou na DIG. Também já fui diretor de Ciretran e cadeia. </p> <p><strong>Comércio - Qual a diferença de trabalhar na capital e no interior?<br />Wanir -</strong> Em São Paulo, trabalhei em lugares como Capão Redondo, um dos mais violentos de lá, e é diferenciado, principalmente nos crimes contra a vida. A gente registrava uma média de dois, três homicídios por noite, além de vários tiroteios. </p> <p><strong>Comércio - O senhor fez Direito pensando em ser delegado?<br />Wanir</strong> - Não, eu sempre me interessei pelas matérias do Direito, tanto que depois de formado fiquei dois anos sem prestar concurso. Aí, prestei, passei e comecei a gostar. Depois, é igual cachaça, entrou na veia da gente fica para sempre. </p> <p><strong>Comércio - O senhor já viveu uma semana tão traumática como a última em Franca?<br />Wanir</strong> - Não. Em ataques a policiais, suas casas e ônibus, nunca presenciei uma atitude tão covarde por parte dos bandidos, uma vez que só atacaram quando as pessoas estavam despreparadas. Já presenciei crimes piores que esses e convivi com situações de risco piores que essa, mas isso foi totalmente fora da normalidade. </p> <p><strong>Comércio - Qual a sensação de ver policiais sendo alvos de bandidos?<br />Wanir</strong> - É lastimável. Mas de imediato ficamos em estado de alerta, montamos equipes de prontidão fortemente armadas que continuam patrulhando as ruas da cidade. Foi um forte momento de tensão quando começaram os ataques a casas de policiais em Franca.</p> <p><strong>Comércio - E como o senhor vê a agressão ao delegado Adelson Taroco, de Jaboticabal, que negociava com presos quando foi atacado e teve 80% do corpo queimado?<br />Wanir</strong> - Fica uma tristeza no coração. É um pai de família, uma pessoa que está lutando com a vida. Taroco sempre foi um bom delegado, um bom diretor e tinha um bom contato com os presos. Foi uma covardia muito grande. Foi traído por pessoas que estavam ali a quem ele deu a mão e ajudou várias vezes. Algumas dessas pessoas, além de serem criminosos, não têm caráter algum, nenhum senso de responsabilidade. Por todos os  familiares de policiais é que as Polícias Militar e Civil se uniram e estão dispostas a combater fortemente o crime.</p> <p><strong>Comércio - O bandido perdeu o medo da polícia?<br />Wanir</strong> - Acredito que foi apenas uma pequena porção dos bandidos. Muitos agiram forçados pelos outros bandidos. Na rebelião de Franca, mesmo, eles diziam que estavam fazendo isso obrigados pela facção criminosa (PCC).</p> <p><strong>Comércio - Como se posicionaram o Judiciário e o Ministério Público diante dos ataques em Franca?<br />Wanir</strong> - Tivemos apoio incondicional dos juízes, principalmente do doutor Arimatéa (José Rodrigues, corregedor do presídio local) e dos promotores. Estes, inclusive, foram intimidados pela ação dos criminosos, como no ataque ao Fórum de Batatais. Mas é claro que esse apoio é relacionado a ações dentro da legalidade. </p> <p><strong>Comércio - Qual o limite dessa legalidade?<br />Wanir</strong> - A gente conhece os riscos de nossa profissão. Enquanto um bandido ameaça o policial, ele será punido de acordo com o que a lei manda. Agora, se o marginal atacar a família deste, causará indignação e o policial poderá perder o senso da normalidade e partir para o ataque. Isso seria de uma intensidade muito grande, pois os policiais são bem treinados e estão fortemente armados e se não estiverem controlados podem causar um dano muito grande. </p> <p><strong>Comércio - Em Franca, a polícia está sob controle?<br />Wanir</strong> - As Polícias Civil e Militar da cidade são muito unidas e formaram um só bloco de repressão ao crime. É claro que ninguém quer ver seu parceiro ser baleado. Estamos procurando os responsáveis pelos ataques a policiais para prendê-los dentro da lei. Claro que se usarem de força contra a polícia a resposta será quatro vezes mais intensa. </p> <p><strong>Comércio - Bandido que partir para cima da polícia pode morrer?<br />Wanir</strong> - Pode encontrar a morte sim. Não estamos desafiando bandidos, nossa função não é sair matando bandidos, mas sim prendê-los. Mas é primordial mantermos nossa integridade física e de nossas famílias. </p> <p><strong>Comércio - É bom ser delegado?<br />Wanir</strong> - É uma carreira muito boa. Além do combate ao crime, existe a parte de serviço social. A DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), por exemplo, presta auxílio à mulher vitimizada; a Dise (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes) encaminha pessoas que desejam deixar o vício das drogas. Recuperamos objetos, recebemos agradecimentos das pessoas. Agora, a responsabilidade é grande, pois a vida de uma pessoa fica nas mãos do delegado, que analisa, de início, se o investigado irá ou não para trás das grades. É o juízo imediato. Por isso, considero que os delegados de polícia são muito mal pagos e mal tidos pelo governo. Deveriam ser mais valorizados. </p> <p><strong>Comércio - O senhor acredita que a trégua entre polícia e PCC aconteceu após acordo do governo com os líderes da facção?<br />Wanir</strong> - Espero que não. Pois nessa hipótese o governo teria se rebaixado ao crime e a polícia não é favorável a isso, pois nossa função é combater os criminosos e não fechar acordos com eles. </p> <p><strong>Comércio - A polícia de Franca não negociaria com bandidos?<br />Wanir</strong> - Aqui a gente não faz acordo com o crime. A gente combate. Quem me conhece sabe da minha firmeza. Na última rebelião, assumi as conversações com os presos, mas não amoleci e ninguém saiu ferido. A bandidagem conhece a polícia de Franca. </p> <p><strong>Comércio - Como o bandido vê o “doutor Wanir”?<br />Wanir</strong> - Alguns com medo, outros com respeito, ou raiva. A mim não importa. Estou nessa profissão para fazer cumprir a lei e assim o farei até o final. Mas também temos que saber respeitar os direitos dos bandidos. São seres humanos que erraram e muitos nem deveriam estar onde estão. </p> <p><strong>Comércio - Em Franca, é comum menores de idade assumirem delitos de marginais com mais de 18 anos por serem inimputáveis. O que pode ser feito para resolver esse problema?<br />Wanir</strong> - Acredito que a diminuição da idade penal para 16 anos poderia ajudar. Seria necessário pensar nisso. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) é muito avançado, mas foi criado sob parâmetros que o Brasil ainda não tem como cumprir. Há ganhos também, como o aumento da responsabilidade quanto à paternidade. </p> <p><strong>Comércio - O que o senhor faz nas horas vagas? Tem hobbies?<br />Wanir</strong> - Tenho dois. Sou faixa preta de aikidô, uma arte marcial que me deixa mais tranqüilo e me prepara fisicamente, e também gosto de corridas de cavalos. São coisas que me distraem. </p> <p><strong>Comércio - E se os juízes do aikidô ou das corridas “roubarem” o senhor ou sua equipe?<br />Wanir</strong> - Se roubar é crime. Se for juiz ladrão, vai para a cadeia.  </p>

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