Crise calçadista abala economia francana


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O proprietário da SR Veículos, Silson Ribeiro da Silva, disse que as vendas caíram cerca de 30% por conta da crise calçadista na cidade: “Quando as indústrias estão bem, estamos bem”
O proprietário da SR Veículos, Silson Ribeiro da Silva, disse que as vendas caíram cerca de 30% por conta da crise calçadista na cidade: “Quando as indústrias estão bem, estamos bem”
Wildnei Teodoro e Nelise Luques da Redação Os tentáculos da crise no setor calçadista, espinha dorsal da economia francana, começam a afetar as outras áreas de atividade. Levantamento informal do Comércio da Franca em mais de dez ramos de negócios na cidade aponta extensão das dificuldades de mercado que assolam as empresas de calçado e queda de rendimento. A consulta a 50 estabelecimentos das mais diferentes atividades permite afirmar: da movimentação em institutos de beleza ao número de conveniados em planos de saúde, a redução no número de clientes, vendas e fechamentos de negócios é ponto comum. Os poucos setores que ainda não sentiram os reflexos de maneira tão brutal são aqueles voltados aos consumidores de classes A e B (leia mais nesta página). Mas, na maioria dos segmentos, a situação preocupa e entre as explicações para a contaminação do mau momento uma é unânime: a crise que se instalou nas indústrias de calçados da cidade. Essa é a única explicação que Silson Ribeiro, dono da SR veículos, uma concessionária de carros novos e usados em Franca, encontra para justificar a queda de cerca de 30% em suas vendas nos últimos meses. “Quando as indústrias estão bem, estamos bem. Quando as indústrias estão mal...”, disse Ribeiro, sem precisar completar o raciocínio. Ele revelou que em meio às negociações é comum os clientes se referirem às dificuldades que o setor calçadista atravessa, resumindo a rotina de muitos comerciantes e prestadores de serviços de toda a cidade. Segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio Econômicos), de fevereiro de 2005 a janeiro de 2006, a indústria calçadista fechou 3.136 postos de trabalho. O presidente do Sindifran (Sindicato das Indústrias de Calçado de Franca), Jorge Félix Dona- delli, projeta que “cerca de dois terços da mão-de-obra de Franca tenha ligação direta ou indireta com os calçados”. Isso representaria, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 120 mil pessoas com sua ocupação ligada aos sapatos. Dessas, cerca de 17 mil possuem vínculo direto com as fábricas hoje. Não há como não haver reflexos quando a demissão é tão significativa. A cabeleireira Maria José Cintra, dona do salão Zezé Cabeleireira, no mercado há vinte anos, consegue quantificar o impacto da crise em seus negócios. “O número de clientes sofreu redução muito forte. A média normal aos finais de semana era cerca de 40 clientes. Hoje, não passa de 25”, disse. Perda de clientes também é a dura realidade dos planos de saúde. Ainda que possam ser considerados uma necessidade básica, não fogem à navalha do corte de custos que o desemprego impõe. Carmilon Rezende, diretor comercial do Regional Clínicas, explica o reflexo direto que as demissões têm no seu ramo. “Muitos trabalhadores possuem seu plano vinculado com o emprego. Quando ocorre o desligamento da empresa, esses conveniados acabam finalizando seu plano”. Mas a falta de emprego não causa apenas perda de clientes antigos. Carmilon diz que a procura por novos contratos também cai. “Somente em março, tivemos algo em torno de 10% de queda”. Entre as imobiliárias, a situação não é diferente. Os profissionais do setor concordam que têm precisado de um “pouco mais de paciência na hora da negociação” para manter clientes ou não levar prejuízo. É o que diz Beatriz Freitas, gerente da Imobiliária Plano. “É comum as pessoas, em razão de ficarem desempregadas, nos procurarem para negociar atrasos de aluguel ou mesmo rompimento de contrato para desocupação do imóvel”. Jorge Félix Donadelli, que como presidente do Sindifran e também como empresário do setor, convive diariamente com a crise e conhece sua dimensão, traz um alento. Aposta que esse mau momento deve passar em breve. “Acredito que o dólar não deva continuar caindo, por isso, o resultado das exportações deve melhorar. Acho também que o mercado interno pode dar mostras de expansão a partir do segundo trimestre do ano”. A expectativa de Donadelli tem onde se apoiar. Eventos como a Francal, a ser realizada em julho, ajudam a tornar mais favoráveis as perspectivas. O diretor do Sindifran, Ivânio Batista, acha que os empresários não perderão oportunidades para melhorar suas vendas. “Acredito que estará lotada (a Francal). A feira não significa necessariamente vendas imediatas, mas alavanca todos os negócios do setor para o segundo semestre”. Colaborou Alessandro Macedo

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