“Vai ficar tudo bem meu amiguinho", essa era a frase que o pediatra José Carlos Pereira Jr, o Dr. Pereirinha, falava para seus pequenos pacientes que estavam com algum problema de saúde. Após um legado de muita bondade, competência e amor pela profissão, o pediatra faleceu no último domingo (1º), levando centenas de jundiaienses a expressarem suas homenagens e sinceros sentimentos.
Formado na Universidade Federal do Paraná em 1967, Dr. Pereirinha foi um dos pilares da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ), onde atuou como professor de pediatria entre 1972 e 1976, e de 2000 a 2016, totalizando 20 anos de contribuição à formação de novos médicos. Seu entusiasmo e dedicação contagiaram tanto seus alunos quanto seus colegas, fazendo de sua jornada acadêmica uma referência de comprometimento e amor ao ensino. O reconhecimento por sua trajetória foi reforçado recentemente, no último sábado (7), quando ele recebeu a homenagem da FMJ, em uma sessão solene anual que distingue as pessoas que mais contribuíram com a instituição.
“Com profunda tristeza, nos despedimos do querido Dr. José Carlos Pereira Júnior, nosso inesquecível Dr. Pereirinha, que faleceu no último dia 1º de dezembro. A partida do médico, que dedicou sua vida à pediatria e à educação, deixou um vazio irreparável na comunidade de Jundiaí e além. Seu legado, construído por meio de gestos de bondade, competência e um amor incondicional pela profissão, será lembrado por todos que tiveram o privilégio de conhecer sua humanidade”, afirmou a FMJ.
Seu amor pela medicina e seu impacto na formação de novos profissionais foram reconhecidos pela FMJ, que, em luto oficial, expressou sua gratidão por tudo o que fez pela faculdade e pela comunidade. Dr. Pereirinha também foi agraciado com o título de Professor Emérito, uma honraria destinada aos docentes aposentados que se destacaram por sua atuação relevante no ensino, pesquisa ou extensão ao longo da carreira.
A notícia de sua morte trouxe um grande sentimento de perda, não apenas entre seus colegas de trabalho, mas também entre os pais e pacientes que confiaram em sua sabedoria e carinho ao longo de décadas. No Instagram do JJ, mais de 400 pessoas homenagearam o médico. A pediatra e professora colaboradora da FMJ, Mônica Franco, 52 anos, é exemplo disso. Além de paciente, foi aluna e escolheu a pediatria por conta das aulas de seu grande mestre.
“Eu conheço o Dr. Pereirinha há muito tempo. Já passei com ele quando ela criança e depois tive aulas. Sou formada há 25 anos, então aproximadamente 30 anos contando com as aulas. Eu sempre gostei de crianças e da pediatria, mas quando comecei o internato fiquei em dúvida entre dermato, ortopedia e a pediatria, que sempre amei. Mas a hora que começou a aula dele, eu lembro como se fosse hoje, foi maravilhosa. Até quem não gostava de pediatria, gostou. Me chamava muito a atenção o respeito, o carinho que ele tinha com os alunos, com as mães, com os pacientes. Ele foi meu ídolo mesmo. Ele passava a visita com toda a sabedoria dele. Uma vez o paciente estava com febre e ele deu um beijo na testa da criança e falou ‘calma... você vai ficar bem meu amiguinho’ e beijou a testa do paciente. As aulas dele eram impecáveis, eu lembro de cada palavra, com certeza teve muita influência para eu me tornar a pediatra que sou hoje”, afirma.
Mônica relembra o atendimento que teve quando era criança. “Eu passei quando era pequenininha, tinha menos de um ano. Meus pais me tiveram bem novinhos e minha mãe me levou porque ouviu falar muito bem dele. Eu só chorava e minha mãe já estava grávida do meu irmão, ele examinou e não achava nada e minha avó abriu a porta e falou ‘dá licença,vem com a vovó’ e eu abri um berreiro. Nesse momento ele falou ‘a filhinha de vocês não tem nada, ela é muito mimadinha’,eu sempre lembro dessa história com muito carinho. Se o céu existe, ele com certeza é um anjo”, finaliza.
A também pediatra e aluna do Dr Pereirinha Alessandra Ferreira, 48 anos, expressa a gratidão pelo professor. “Professor querido que trazia em si a essência da medicina, dono de uma sabedoria ímpar, transmitia paixão no exercício da Pediatria. Ensinou-me a compreender a arte de ouvir, examinar detalhadamente, acalentar muitas vezes o pacientinho e seus familiares e orientá-los de forma clara e objetiva para que o tratamento proposto fosse seguido. Tudo sempre regado com amor e carinho. Com ele aprendi que a criança não é simplesmente um 'adulto pequeno', mas é única, com suas particularidades.”
