PRESIDENTE

Lula diz que homem com fé em Deus não bate em mulher

Por Joelmir Tavares | Da Folhapress
| Tempo de leitura: 5 min
Marcelo Camargo / Agência Brasil
Declarações de Lula receberem críticas
Declarações de Lula receberem críticas

O presidente Lula (PT) disse neste sábado (20) que "homem que é homem" e que "tem fé em Deus" não bate em mulher, depois de sofrer críticas por uma piada envolvendo a violência contra a mulher durante cerimônia nesta semana. Ele fez a declaração no lançamento do candidato do PT à Prefeitura de São Bernardo do Campo, ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).

"Um homem que é homem, um homem que tem fé em Deus, um homem que é fraterno, não pode nunca levantar a mão para agredir uma mulher, não pode", afirmou o petista, após dizer que para ele "família é sagrada" e que aprendeu com a mãe, dona Lindu, a jamais levantar a mão contra uma mulher.

Na terça-feira (16), em Brasília, Lula disse condenar violência doméstica, mas, "se o cara for corintiano, tudo bem". A afirmação foi dada em meio a um comentário sobre o aumento de casos em dias de jogos. Depois da repercussão negativa, o governo emitiu nota para dizer que o presidente não endossa agressões.

Ao voltar ao tema, neste sábado, o petista disse que "tem aumentado muito a violência" contra a mulher e que "é preciso que as famílias vivam bem".

"E esse é um apelo que eu faço aos homens aqui: ao invés de levantar a mão para bater numa mulher, bata na sua própria cara", afirmou Lula, que em diferentes momentos da fala reiterou ser "um presidente que tem fé em Deus" e quer ser mais do que um governante, mas "um cuidador".

Lula participou da convenção que formalizou a candidatura de Luiz Fernando (PT) a prefeito, com William Dib (PSB) de vice. O petista é deputado estadual e irmão do ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), e o pessebista foi prefeito de São Bernardo e dirigiu a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Foi a estreia de Lula e Alckmin em palanques eleitorais no pleito deste ano. Os dois estão em lados opostos em outras cidades, como a capital paulista, onde o presidente participa na tarde deste sábado da convenção de Guilherme Boulos (PSOL) e o vice apoia sua colega de partido Tabata Amaral.

Em entrevista à Folha em maio, Alckmin usou o exemplo de cidades onde PT e PSB estão coligados para negar constrangimento com a rivalidade na eleição paulistana. O vice diz que abraçar projetos diferentes nas eleições locais é algo natural e que eventuais divergências não afetam a relação entre os dois.

Os ministros Luiz Marinho (Trabalho), do PT e ex-prefeito da cidade, e Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), do PC do B, e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, também participaram da convenção.

Lula pediu aos eleitores que tenham "noção de responsabilidade" ao votar e disse que, se Luiz Fernando for eleito, atuará em benefício de São Bernardo da mesma forma que quando Luiz Marinho era prefeito e o PT estava na Presidência, para levar investimentos e programas federais e melhorar a qualidade de vida na cidade.

Ele disse que do lado de Luiz Fernando estão "a maior experiência administrativa de São Paulo e a maior do Brasil", após discursar sobre a longeva permanência de Alckmin no cargo de governador do estado e o fato de ele próprio ter sido o único presidente eleito três vezes.

No início da fala, quando cumprimentou políticos e autoridades, Lula citou a presença de José Maria Eymael, ex-candidato à Presidência e dirigente do Democracia Cristã --um dos partidos da coligação municipal--, e cantou o refrão do jingle que usa em suas campanhas, com os versos "ei, ei, Eymael, um democrata cristão".

"É uma música que eu não esqueço", disse Lula sobre o outrora adversário. O presidente também descontraiu ao chamar Alckmin pelo apelido de Chuchu. Contou que, quando decidiu concorrer a presidente em 2022, procurou o hoje vice e propôs que "o Lula com Chuchu precisa governar esse país".

Alckmin.

Ao discursar, Alckmin exaltou Lula, repetindo a mensagem de que ele "salvou a democracia no Brasil", e alfinetou Bolsonaro ao lembrar as mortes na pandemia de Covid, "fruto do negacionismo, da irresponsabilidade daquele governo anterior, negacionista, [que] negou vacina".

O vice afirmou que a vitória de Luiz Fernando e Dib impulsionará o crescimento do município e, junto com o governo federal, vai melhorar a vida da população. "Estamos juntos para servir a São Bernardo do Campo", disse.

A aliança em São Bernardo foi anunciada no evento como repetição da "dobradinha que está dando certo no governo federal", em alusão à parceria entre Lula e Alckmin. A coligação no município reúne nove partidos, a maioria ligada à base do presidente.

Gleisi disse ao microfone que a eleição municipal deste ano será diferente porque, além das questões locais, está em jogo o enfrentamento entre o campo democrático e a extrema direita representada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ela conclamou o público a votar de forma que em outubro "o campo democrático progressista popular que venceu a extrema direita em 2022" seja vitorioso novamente. "Temos um dever histórico: não deixar a extrema direita voltar a governar este país", afirmou.

São Bernardo, cidade onde Lula começou a militância política como sindicalista, nos anos 1970, é o berço do PT e, por isso, a vitória no município, hoje comandado pelo PSDB, é considerada simbólica pelos petistas.

Lula colocou como ponto de honra reconquistar a administração da cidade, determinou que o partido considere a disputa estratégica e deve ter uma presença mais intensa ao longo da campanha. Os principais adversários são Flávia Morando (União Brasil), apoiada pelo prefeito Orlando Morando (PSDB), e os deputados federais Marcelo Lima (Podemos) e Alex Manente (Cidadania).

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