
Campinas está prestes a completar 250 anos e, como toda cidade que se preze, tem suas curiosidades e contradições. Na história da metrópole que não para de crescer, parece que uma brincadeira está acontecendo: monumentos e personalidades históricas parecem estar jogando "esconde-esconde". Para os desaviados e até mesmo para alguns moradores, encontrar esses monumentos pode ser uma verdadeira aventura, graças aos endereços.
O monumento-túmulo do ilustre Antônio Carlos Gomes parece desafiar os campineiros. A escultura em homenagem ao escritor de ‘O Guarani’ está há 500 metros da praça que leva o nome do maestro.
Pela lógica, o monumento deveria estar na Praça Carlos Gomes. Mas está na Praça Bento Quirino. É de lá que a estatua majetosa de granito parece reger o dia a dia de quem passa pelo região central da cidade. Em meio a sinfonia de carros e buzinas, Carlos Gomes surge majestonso perto do marco zero de Campinas.
O idealizador do projeto ‘O que te assombra’, Thiago Souza, brinca que Carlos Gomes é tão onipresente que não precisa de um lugar apenas, tem até tem um bairro com seu nome. "É uma forma de Campinas reconhecer e abraçar seu filho ilustre, um dos maiores brasileiros da história", diz ele, com orgulho.
Neste caça ao tesouro campineiro, tem até sacrilégios históricos. A Igreja Nossa Senhora do Rosário,não fica no Largo do Rosário.
A igreja foi erguida no Centro em 1817, mas com o tempo, mudanças urbanísticas a levaram para o Jardim Chapadão.
"Então esse é um dado muito triste, na verdade, da cidade, né? A gente tem a Igreja do Rosário, que era o Rosário dos Homens Pretos. Uma igreja que tinha essa marca da comunidade negra. Embora a Igreja de São Benedito também fizesse bem esse papel. É fato triste”, lamentou Thiago.
Na época em que a Igreja ainda ficava no centro de Campinas, representantes da comunidade negra usavam o largo e a escada da igreja para manifestações artísticas e religiosas. Havia congadas, batuques e cerimônias. Em 1956, porém, chegou a notícia triste da demolição e representantes da igreja decidiram construir a igreja no Jardim Chapadão. .
Outro exemplo que desafia a geografia é a tradicional Escola Francisco Glicério, que decidiu inovar e se estabelecer não na avenida que lhe dá o nome, mas sim na Orozimbo Maia.
Fundada em 1897, a escola marcou um importante passo na consolidação da educação pública na recém-criada República Brasileira. Em 1917, em uma homenagem póstuma ao ilustre campineiro Francisco Glicério Cerqueira Leite, passou a ser chamada de "Grupo Escolar Francisco Glicério". Mas o atual endereço seria um capricho na geografia campineira?
E não para por aí! A Escola Orosimbo Maia, apesar de todos os palpites, não se encontra na avenida homônima, mas na Benjamin Constant. É ou não um grande desafio até para os melhores alunos de geografia?
“O legal desta história é a gente fazer uma reflexão de por que que a escola não fica perto do Mercadão, porque afinal de contas quem construiu o mercadão foi Orozimbo Maia!”, lembrou,
Alías a personalidade que empresta o nome a uma das principais avenidas da cidade, Orosimbo Maia, foi vereador e prefeito de Campinas. Visionário, o político foi a primeira pessoa a ter luz elétrica na cidade
Briga entre personalidades
E não podemos esquecer da histórica esquina da Rua Barão de Jaguara com a Rua Campos Sales, onde, certa vez, Francisco Glicério e Antônio de Moraes Salles protagonizaram um duelo verbal que culminou em uma briga digna de manchete policial.
Em meio a ofensas por causa de discordâncias políticas, esses dois ilustres homens da política campineira não economizaram na energia: um agrediu o outro.
“Acho que toda a relação de Francisco Glicério com Moraes Salles é conturbada, porque eles se odiavam. Então, tudo que disser sobre, esses dois personagens da cidade, traz uma carga de tensão muito grande. Vai ver que é por isso que tem tanto trânsito ali entre Moraes Salles e a Francisco Glicério, né? Pela briga dos dois”, brinca Thiago.
Em falar em ruas e avenidas, que tal a curiosidade das ruas Conceição e Dr. Quirino, que começam paralelas no início, mas se encontram novamente quando chegam ao bairro Cambuí? É como se essas ruas também quisessem brincar de "encontre o seu caminho". Brincando, Thiago tem uma explicação: “É engraçado porque todo mundo querer se encontrar no Cambuí para tomar um chopp, Vai ver que é para isso”, brincou.
Nestes 250 anos da metrópole, da para ver que até os monumentos e personalidades históricas podem ter encontrado um cantinho especial.
Enquanto alguns buscam os monumentos nos lugares certos, outros desfrutam da aventura de descobri-los onde menos se espera. Afinal, em Campinas, até os monumentos gostam de brincar de ‘esconde-esconde’.