POLÍTICA

Flávio Paradella: Banalização eleitoreira da cassação de mandato

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação/CMC
Câmara de Campinas votou no pedido de CP
Câmara de Campinas votou no pedido de CP

E do nada surgiu um pedido para abrir um processo de cassação contra o prefeito Dário Saadi (Republicanos) por causa do episódio ‘Festa da Bicuda’. Uma segunda-feira que parecia, até certo ponto, tranquila, ganhou um nível de tensão.

Por óbvio, ninguém tinha qualquer expectativa com a aprovação de uma Comissão Processante. O prefeito tem ampla maioria na Câmara e isso já era uma garantia de arquivamento, mas o próprio enquadramento de responsabilidade de Dário com o evento é um exercício mais narrativo do que factual.

Tanto é verdade, que toda a bancada de esquerda votou por arquivar o pedido contra Dário, para na sequência pregar a “coerência” no caso de Paolla Miguel, vereadora que responde por um processo de cassação pela mesma festa. Mas logo mais a gente fala sobre isso.

Sobre a situação de Dário, por unanimidade, o pedido caiu. Pedido que foi realizado por um pré-candidato a vereador, Marcélio Leão, do Cidadania, aliado do Deputado Rafa Zimbaldi.

Marcélio já coleciona episódios nesta corrida eleitoral, que sequer começou oficialmente. Foi no perfil dele que surgiu a “informação” da suposta candidatura do ex-prefeito cassado, Hélio de Oliveira Santos, à prefeitura de Campinas, pelo Avante. O partido negou e chamou a postagem de “fake news”. O próprio Marcélio reconheceu que não havia checado e apagou a publicação. E segue o jogo, né?

E seguiu mesmo. Com a apresentação de um pedido de cassação contra um prefeito por causa de festa com cenas grotescas. Cabe? Por mais que a Secretaria de Turismo e Cultura tenha a sua responsabilidade, e até aqui foi extremamente poupada e blindada, chega até ser irresponsável propor tal punição.

É a banalização do instrumento extremamente traumático, mas que já foi importante para passar a limpo esta cidade. O aliado de Marcélio sabe muito bem disso, pois foi Rafa Zimbaldi o presidente de duas CPs que cassaram dois prefeitos em Campinas, em 2011.

A campanha nem começou, mas a prévia deixa um sentimento ruim para uma disputa que dá mostras que será dura e de ataques nivelados por baixo de todos os lados.

O caso Paolla

A situação da petista tem algumas diferenças, pois ela destinou verbas para o evento, apoio, divulgou e esteve na tal Festa da Bicuda. É caso para cassação? A meu ver, não. Verba pública foi usada em uma festa que já tinha sido realizada por outras vezes e sem causar este tipo de impacto. A coisa saiu do controle? Sim. A vereadora tinhas as rédeas do “espetáculo”? Claro que não. Dessa forma, tecnicamente a cassação de mandato não se sustenta.

Politicamente, aí a conversa é outra. Excluindo a polarização, os vereadores mais ao centro seguem com a tendência de cassar Paolla e reclamam mais da atitude da parlamentar após a polêmica, do que a realização da tal festa.

Para parlamentares consultados pela coluna, a relutância da vereadora em admitir o erro de apoiar o evento e até agora não ter feito um pedido de desculpas aos colegas a colocam no sentido de uma decisão desfavorável.

Pelo contrário, em sua defesa a parlamentar atacou a casa e apontou que a aprovação da CP comprovava o racismo dos membros do legislativo e que não aceitaria a “criminalização da cultura”. A atitude de Paolla não agradou os mais moderados.

Novo terá Novo candidato

A desistência de Zé Afonso de ser pré-candidato do Novo à prefeitura de Campinas colocou no colo do vereador Paulo Gaspar o posto de disputar o Palácio dos Jequitibás, em outubro.

Apesar de citar um “processo seletivo” da legenda para oficializar o nome, Paulo Gaspar já fala e dá entrevistas como pré-candidato do partido às eleições de outubro.

O perfil de Paulo Gaspar faz muito mais sentido ao Novo do que o de Zé Afonso para carregar as bandeiras da legenda, porém a movimentação mostra-se perigosa para o futuro do partido neste xadrez eleitoral.

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