LENDA URBANA

Há 26 anos, moradores da região de Campinas eram assombrados pelo Chupa-cabra

Por Thiago Rovêdo | Especial para Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução
Chupa-cabra foi retratado de diversas maneiras
Chupa-cabra foi retratado de diversas maneiras

Ele é verde, cabeça grande e tem baixa estatura. Às vezes peludo, às vezes parecia um animal da Era Mesozoica. As lendas mais antigas relatam seus ataques em países da América Central e do Norte há muitos anos. Seu nome é Chupa-cabra, e em 1997 foi a vez da população da região de Campinas vivenciar momentos de medo, piadas e descrença com ataques a animais da cidade. A onda de "violência" da criatura durou cerca de seis meses e nunca mais foi vista novamente. Na verdade nunca foi vista realmente, mas os ataques eram atribuídos a ela.

As vítimas da criatura eram animais como cabras, galinhas e bois. O animal atacava durante o período noturno e arrancava o cérebro, vísceras, olhos e coração com uma precisão cirúrgica. Todos estavam praticamente sem sangue, o que o levou a ser apelidado de vampiro também.

"Lembro que o início, lá em 1997, foi na região da cidade de Capivari e depois começaram a acontecer por aqui, nas regiões dos bairros Bananal e Campo Belo", lembrou o fotógrafo Adriano Rosa, que cobriu o caso pelo extinto jornal de Campinas Diário do Povo.

Adriano explicou que em uma das coberturas, no Campo Belo, a equipe foi até um sítio onde encontrou marcas no chão como se alguma coisa com garras afiadas tivesse marcado o piso e as madeiras do curral. "Mas a cena mais estranha era de uma vaca morta do meio do pasto. Ela estava esticada de barriga pra baixo e as pernas esticadas pra frente. Nas laterais do corpo haviam marcas como se garras afiadas tivessem agarrado o animal de frente. O mais louco era que os olhos haviam sido arrancados e no chão havia muito sangue", contou.

O jornalista Marcelo Andriotti contou que nos anos 90 fundou o jornal Dois Pontos em Capivari, que funcionou por 14 anos, quando começaram a surgir os relatos. "Creio que por volta de 1997 surgiram as primeiras histórias sobre os chupa-cabras na região, que estaria atacando animais em Capivari e Rafard. Os primeiros relatos surgiram em jornais de Campinas e depois São Paulo, falando sobre a suposta criatura que já teria sido vista no México e agora estaria no Brasil. Não demorou para que começasse a receber na redação ligações de pessoas que tiveram suas criações atacadas e mortas, principalmente em pequenas propriedades rurais", disse.

Marcelo lembrou que chegou a ver animais mortos, como galinhas, patos e gansos, até animais de médio porte, como ovelhas e cabras. "Ninguém chegou a ver o ser misterioso, mas estranhavam os ataques e os ferimentos, diferentes de causados por animais que costumavam atacar até então, como pequenas raposas", contou. O jornalista disse que chegou a levar fotos e ouvir veterinários, que não conseguiram identificar que tipo de animal poderia ter causado as mortes.



Seis meses
A lenda "morou" na região por cerca de seis meses, quando os ataques cessaram e nunca mais houve relatos do Chupa-cabra. "Todo dia aparecia uma ocorrência de bichos destroçadas em sítios e chácaras nas periferias de Campinas. Começaram as aventuras na imprensa campineira, o que fez algumas coisas aparecerem. Uma delas foi um bonequinho de plástico que os camelôs começaram a vender, que tinha uma cara de lobinho com monstrinho alienígena, de cor meio laranja", afirmou Adriano Rosa.

Um personagem de Jundiaí, conhecido como Toninho do Diabo, que fazia uma figura meio discípulo do Zé do Caixão, anunciou que tinha matado e cortado a cabeça do Chupa-cabra. A captura, porém, nunca se confirmou. Por fim, a lenda foi apaziguando, mas na mesma época houve um projeto de recuperação ambiental, que começou em Capivari e Rafard com recuperação de matas ciliares, além de preservação de nascentes.

"Isso estava trazendo animais de volta à região, alguns que há muitas décadas estavam distantes por conta da poluição e desmatamento. Anos mais tarde, começaram a surgir registros e imagens do reaparecimento de onças na região, que estavam voltando por caminhos restabelecidos entre rios e córregos após a recuperação das matas ciliares. Provavelmente, eram onças e outros animais que estavam atacando essas criações em propriedades rurais. Mas o mistério do chupa-cabra era muito mais fascinante para a população naquela época", finalizou Marcelo.

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