
Uma das principais hipóteses consideradas pela Polícia Civil como motivação para o homem de 22 anos ter entrado dentro da Base da 3.ª Companhia (Oeste) da Polícia Militar de Bauru no último dia 22 empunhando um simulacro de arma de fogo é uma tentativa de 'suicide by cop'. Com origem nos Estados Unidos, o termo pode ser traduzido como 'suicídio por resposta policial' e refere-se à ação de uma pessoa que quer pôr fim à própria vida e reage contra agentes de segurança com a intenção de ser morta por eles.
Se confirmada esta linha de investigação, seria o primeiro episódio do tipo na história recente de Bauru. "Desde que comecei a atuar aqui, nunca vi algo parecido", afirma o delegado Cledson do Nascimento, titular da 3.ª Delegacia de Homicídios (3.ª DH) da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Bauru e responsável pelo inquérito sobre o caso.
A literatura sobre o tema demonstra que o 'suicide by cop' é cometido, em sua maioria, por homens com transtornos mentais e que já manifestaram comportamentos autodestrutivos. Frequentemente, também são usuários de substâncias psicoativas ou enfrentaram crises pessoais recentes, como perda de emprego, divórcio ou diagnóstico de uma doença grave.
Além disso, em boa parte dos casos, utilizam armas, reais ou simuladas, para provocar a reação policial. Segundo Nascimento, a ex-namorada do jovem de 22 anos, em depoimento, afirmou que ele fazia tratamento psiquiátrico no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do município, além de já ter praticado automutilação.
"Pedi judicialmente o acesso ao prontuário para confirmar este histórico, bem como a quebra do sigilo telefônico do celular dele, que já foi concedida, porque tudo demonstra que ele vinha planejando a ação há algum tempo, já que, segundo familiares, havia adquirido o simulacro de arma de fogo pela Internet. Além disso, confeccionou um dispositivo com uma espécie de circuito elétrico para simular que carregava uma bomba atada ao próprio peito", descreve. Além disso, o indivíduo usou uma balaclava (touca) para cobrir o rosto e estava com uma mochila nas costas.
PERÍCIA NO CELULAR
A expectativa é de que o aparelho celular seja encaminhado ao Instituto de Criminalística para perícia nesta quinta-feira (26). O delegado pediu prioridade na análise devido à gravidade do caso. "As informações coletadas poderão apontar se, de fato, ele agiu para atentar contra a própria vida", pontua.
Também será possível saber, entre outras informações, se ele participava de grupos de WhatsApp que fomentam o terrorismo, conforme descreveu a ex-companheira. Por precaução, Nascimento requisitou uma medida protetiva - ainda não concedida pela Justiça - para a mulher, mesmo ela ressaltando que nunca foi ameaçada pelo rapaz. "É uma forma de fazer com que ele não a procure no momento em que, eventualmente, receber alta", frisa.
Até o momento, apenas ex-namorada foi ouvida. Segundo familiares, a mãe do jovem, residente em Alagoas, estaria a caminho de Bauru para contribuir com a Polícia Civil. Além disso, o delegado aguarda a disponibilização das imagens das câmeras de segurança da Base Oeste e o agendamento da oitiva dos policiais militares envolvidos na ocorrência, ambos já solicitados.
O homem de 22 anos também não foi ouvido formalmente pela 3.ª DH porque permanece internado na UTI do Hospital de Base. Ele foi atingido por 12 projéteis: três no peito, três no braço esquerdo, dois no braço direito, dois na perna esquerda e mais dois na perna direita, segundo consta em boletim de ocorrência. Embora os disparos tenham perfurado órgãos, como o pulmão, e fraturado ossos, o paciente está se recuperando e demonstra sinais de consciência.
Fim do namoro
O ex-casal se conheceu pela Internet quando o rapaz ainda morava em Alagoas e, há pouco mais de um ano, ele decidiu mudar-se para Bauru para ficar com a mulher. Quando o relacionamento terminou, em dezembro passado, ele retornou ao seu Estado de origem.
"Ele voltou a Bauru justamente no dia 22 para procurar a ex, porque queria reatar com ela, mas ela não estava na cidade", revela o delegado. O jovem, então, enviou mensagens a ela pelo celular com tom de despedida, além de uma foto da base policial para onde se dirigiria, informando que ele se tornaria nacionalmente conhecido. O homem escolheu o próprio aniversário para realizar a ação.