Foi-se mais um galã da Globo e nome célebre não só na TV, como no teatro e no cinema. Francisco Cuoco partiu aos noventa e um anos, em 19 de junho último. Pode ser que pouca gente se lembre, mas ele frequentou bastante Jundiaí. Como foi que isso ocorreu?
Mariazinha Congilio, a maior divulgadora de Jundiaí, tornou-se pessoa conhecida nos meios artísticos de São Paulo. Ela percebeu que a televisão se tornaria um veículo possessivo, como hoje são as redes sociais, e buscou fazer com que nossa cidade também merecesse a atenção dessa invasora dos lares que foi a TV, a partir da segunda metade do século passado.
Mariazinha criou o “Troféu Imprensa”, que Silvio Santos incorporou e passou a torná-lo oportunidade para concurso que mobilizava o Brasil, pois havia o sistema de votação dos telespectadores em seus astros favoritos.
Simultaneamente, Mariazinha trazia para Jundiaí e hospedava em sua casa atores como Francisco Cuoco, Rosamaria Murtinho, Regina Duarte, Fernanda Montenegro, Walmor Chagas, Paulo Autran, mas também cantores como Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil.
Eram tempos gloriosos para o Clube Jundiaiense, cuja sede central era bem próxima à casa de Mariazinha, na Senador Fonseca. Havia reciprocidade e Mariazinha participava dos eventos televisivos e teatrais da capital. Quantas vezes fui com ela e Picoco Bárbaro nos encontros realizados na Terraza Martini, um espaço no Conjunto Nacional onde havia lançamento de novela, de shows, de filmes e de espetáculos.
Tenho fotografias com Francisco Cuoco e, de certo, uma delas chegou a ser publicada no nosso JJ. Depois me encontrei várias vezes com ele e em todas as oportunidades, falava com muito carinho e muitas saudades de Jundiaí e de Mariazinha.
Consegui emprestar o nome de Mariazinha a uma Escola Estadual na Zona Sul da capital, mas ainda não vi Jundiaí render a ela as devidas homenagens. Sem ocupar qualquer cargo público, na condição de professora primária, que depois conseguiu obter graduação em vários outros cursos universitários, inclusive Direito, ela não dependia de governo e, às suas próprias custas, recebia os artistas, fazendo com que eles colocassem Jundiaí em seus radares.
Todas as vezes que Jundiaí realizava as Festas da Uva, então bem artesanais e com a participação da comunidade, era Mariazinha quem liderava – ao lado de Jacyro Martinasso – as “vinhateiras” que visitavam as emissoras de TV, os jornais mais influentes, fazendo com que centenas de milhares de paulistanos viessem à nossa cidade.
Chegou, inclusive, a criar a “Pensão Jundiaí”, que reunia jundiaienses e amigos da Terra da Uva em jantares mensais na capital. Em vários desses encontros, Francisco Cuoco esteve. Era acessível, simpático, não esnobava. Não há herdeiros para o conjunto de qualidades que ele conseguiu agregar. Os primeiros artistas da TV e das telenovelas estabeleciam relações muito mais do que cordiais com os que assistiam os dramas de Janete Clair, que reservava a Cuoco papeis muito especiais e aos quais ele correspondia com garra e entusiasmo.
Também não há herdeiros para Mariazinha. Já não existem pessoas que abrem suas casas em benefício da coletividade. Hoje há refúgios, bunkers, nichos íntimos, nos quais poucos privilegiados adentram. Dá trabalho receber. É uma arte destinada aos arquivos da memória. Lugar hoje habitado por Francisco Cuoco e Mariazinha Congilio. Tomara se encontrem e matem as saudades.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)