COMPLICAÇÕES

Apeoesp: 9 escolas de Bauru têm ensino noturno; antes eram todas

Por Guilherme Matos | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Guilherme Matos/JC
Carlos Quagliato, Maria José Faustini e Marcos Chagas
Carlos Quagliato, Maria José Faustini e Marcos Chagas

Sindicatos da educação em Bauru criticam o que chamam de sucateamento da rede estadual de ensino e acusam o Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo Estadual, de forçar resultados positivos nas instituições escolares.

Representantes do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e do Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo (Udemo) afirmam que a Secretaria de Educação (Seduc) intensificou a partir de 2023 o fechamento de salas, sobretudo do ensino noturno, o que teria ampliado a evasão escolar. Antes, lembram, todas as 33 escolas estaduais com ensino médio de Bauru contavam com salas abertas à noite. Atualmente são apenas nove.

A redução de salas tem como principal efeito a evasão escolar, avaliam os sindicalistas, segundo as quais o aluno tende a abandonar o ensino quando não há turmas disponíveis em escolas próximas à sua residência — de acordo com as entidades, nestes casos o jovem prioriza o trabalho para ter fonte de renda. Os sindicatos afirmam ainda que há demanda pelo noturno em diversos pontos da cidade, mas que não há interesse em abrir essas salas de aula em razão do baixo rendimento dos estudantes desse período.

A Udemo relata também pressão sobre diretores para inflar o desempenho das instituições de ensino. No início deste ano, diz Maria José de Oliveira Faustini, presidente da Udemo, a Seduc ampliou a exigência sobre os servidores das escolas.

Em nota encaminhada ao JC/JCNET, a Seduc destacou que a maior cobrança está prevista em resolução estadual que permite a destituição de diretores temporários, que voltam a ser professores, e a transferência dos efetivos para outras cidades ou para cargos na Diretoria de Ensino.

Para a Apeoesp e Udemo, porém, essa pressão não contribui para melhorar indicadores e produz distorções nos dados da Saresp. "A transferência mexe na vida do trabalhador. Então, os diretores passam a trabalhar em busca de dados. Os dados que a secretaria quer e que não significam na prática a qualidade real", explica Marcos Chagas, diretor estadual da Apeoesp.

"O aluno que falta, o que dá trabalho, ele passa a ser um dado ruim para a escola. Se você conseguir colocá-lo para fora, você melhora os indicativos. O noturno sempre reduz esses indicadores, porque são estudantes trabalhadores, que têm menos tempo para o estudo, além do cansaço. Ninguém quer o noturno", complementa Chagas.

Na avaliação das entidades, a pressão aumentou em 2025 por causa das eleições de 2026. Em meio à disputa de interesses, a principal vítima seria o princípio constitucional da universalidade da Educação, avalia Carlos Quagliato, coordenador da subsede de Bauru da Apeoesp.

Em nota, a Seduc-SP afirmou que promove melhorias constantes no processo de aprendizagem. Também ressaltou avanços em língua portuguesa e matemática em todos os anos avaliados.

"Com destaque para o desempenho do 2º ano do Ensino Fundamental, com aumento de 45,3% em matemática na comparação com a prova de 2023. O 9º ano teve um aumento de 3,3% em língua portuguesa e 9,1% em matemática. Na 3ª série do Ensino Médio, o aumento foi de 4,3% em língua portuguesa e 6% em matemática", informa a Seduc. Além disso destacou a taxa de alfabetização de 65,8% em 2024, ante 53,8% em 2023.

A pasta também esclarece que garante vagas nas rede pública para alunos que precisam do noturno, "sempre direcionado à escola mais próxima de sua residencia que possua vaga disponível para o ano/serie pretendido". Caso a escola seja distante, a Seduc se compromete a disponibilizar transporte escolar.

No entanto, reitera também que pede uma declaração de vinculo empregatício emitida pelo empregador para garantir a vaga. A necessidade desse documento é contestada pela Apeoesp, segundo a qual a exigência não está prevista em lei e que muitos alunos trabalham de maneira informal ou para a própria família.

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