Recentemente, o cineasta e herdeiro bilionário Walter Salles Jr. declarou que seu filme "Ainda Estou Aqui" é fruto da "volta da democracia" ao Brasil, referindo-se à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Essa afirmação suscita uma série de questionamentos sobre a percepção e a instrumentalização do conceito de democracia no país.
A narrativa de que a democracia retornou com a ascensão de Lula ao poder ignora o fato de que, nos anos anteriores, o Brasil manteve suas instituições funcionando plenamente, com liberdade de imprensa e respeito ao estado de direito. Portanto, sugerir que a democracia esteve ausente é, no mínimo, uma distorção histórica.
Além disso, é paradoxal que essa "volta da democracia" seja celebrada em um contexto onde há crescente preocupação com a liberdade de expressão, especialmente quando vozes dissonantes enfrentam censura e repressão. A verdadeira essência democrática reside na coexistência de múltiplas perspectivas, e não na imposição de uma narrativa única.
A arte, especialmente o cinema, desempenha um papel crucial na reflexão e crítica da realidade sociopolítica. No entanto, quando artistas e cineastas alinham-se incondicionalmente a determinadas ideologias ou governos, correm o risco de comprometer a independência criativa e a capacidade crítica que são fundamentais para a produção artística autêntica.
Portanto, é essencial que tanto os criadores quanto o público mantenham uma postura vigilante e crítica em relação às narrativas políticas que permeiam as produções culturais. Somente assim poderemos garantir que a arte continue sendo um espaço de reflexão plural e verdadeiramente democrático