
Completará um ano, em abril, a primeira organização sem fins lucrativos especializada na prevenção e enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes em Bauru. Por ter data de fundação recente, o Instituto Florir ainda não pode receber recursos públicos e, por isso, depende da mobilização de voluntários, seja com doações financeiras ou força de trabalho, como é o caso de profissionais que fazem atendimentos gratuitamente na sede da entidade.
Presidente do Florir, a psicóloga e pedagoga Eliana Ruiz conta que a instituição foi fundada frente à necessidade de promover ações preventivas e oferecer atendimento psicológico, médico e jurídico a um número expressivo de vítimas. Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado, em 2024, foram formalizadas 141 denúncias de estupro de vulnerável na Polícia Civil da cidade. Outras 142 foram registradas em 2023.
"A estimativa é de que apenas 10% dos casos cheguem ao conhecimento das autoridades", frisa. Desta forma, em Bauru, teriam ocorrido quase 3 mil estupros de vulnerável em dois anos, envolvendo menores de 14 anos, pessoas com deficiência mental que não possuem discernimento sobre a prática dos atos e aquelas que não têm condições de oferecer resistência.
"As estatísticas mostram que as meninas de baixa renda e negras com até 13 anos, além das especiais, são as mais afetadas. Normalmente, ela conhece o agressor - o pai, padrasto, tio, irmão, avô - e nem sempre está em uma família disfuncional", acrescenta.
Camila Corrêa, assessora de comunicação do instituto, destaca que, quando o autor faz uso da chamada "máscara social" para não levantar suspeitas ou, ainda, ameaça a vítima ou sua família para que não busque ajuda, as chances de a rede de proteção demorar para identificar o crime e amparar a criança são aumentadas. "Até mesmo o Conselho Tutelar não dispõe de todos os recursos necessários para identificar essa violência no primeiro momento", observa.
Cinco frentes
Em meio a este cenário, o Florir pretende estruturar cinco frentes de atuação: saúde e assistência social, educação, capacitação, cidadania e comunicação. Segundo Eliana, a entidade já está desenvolvendo ações preventivas, dentro do pilar da educação, em parceria com outras instituições que atendem crianças e adolescentes e empresas privadas que realizam atividades junto a este público.
"É um trabalho socioeducativo bem lúdico, com músicas, rodas de conversa, brincadeiras para que tenham condições de identificar o que é a violência sexual e se protegerem. Com educação sexual, ensinamos o que é consentimento, as partes do corpo que não podem ser tocadas e o que deve ser feito diante de qualquer toque inadequado", enumera.
Também por meio de parcerias com entidades, empresas e universidades, o grupo promove, no eixo comunicação, palestras destinadas a adultos, principalmente os responsáveis por menores de 18 anos e estudantes universitários de áreas como a de saúde e educação, que futuramente terão contato com possíveis vítimas.
Eliana destaca, contudo, que a estrutura do Florir ainda é pequena e não comporta toda a demanda de Bauru. Célia Lima, educadora social da entidade, avalia que a ampliação dos serviços, com a formação de um quadro maior de profissionais altamente especializados, só será possível com o credenciamento junto à prefeitura para o recebimento de recursos públicos. Enquanto a parceria não é viabilizada, o grupo espera contar com a ajuda de novos voluntários e doadores. Interessados em contribuir podem obter mais informações na página @institutoflorirbauru do Instagram.
O telefone para contato com o Instituto é (14) 99843-2997.