O presidente Lula tem a solução definitiva para acabar com a carestia. No raciocínio do chefe do Governo, "Se você vai no supermercado e desconfia que tal produto está caro, você não compra. Se todo mundo tiver consciência e não comprar aquilo que acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender, porque senão vai estragar" (Bingo!).
A Oposição ironiza, "Se o arroz está caro, é só não comer. Se o gás está caro, é só não cozinhar". A inflação fechou 2024 acima do teto imposto pelas autoridades monetárias (4,5%) e o Banco Central prevê que a alta dos preços chegue a 5,5% este ano. Esses percentuais são para todos os bens e serviços. Podem dobrar para os alimentos, beirando os 10%.
Lula está de olho na eleição de 2026 e sabe que o impacto político da inflação e da carestia dos alimentos é desastroso. Em 2022, Lula explorou o preço da comida para derrotar Jair Bolsonaro. Na próxima disputa, os papeis vão se inverter, seja qual for o candidato da direita. Para o candidato petista, outra causa da comida cara está no aumento da renda do povo, proporcionada pelo seu governo graças ao ganho real com o novo salário mínimo. Lula teria pecado, por excesso de bondade, para o aumento da clientela dos supermercados.
Os membros do primeiro escalão do governo deram todos os palpites possíveis em reação à crise dos alimentos. O ministro da Casa Civil Rui Costa, sugeriu "intervenções", entendidas como uma possível volta aos tempos dos "fiscais do Sarney". Uma espécie de tentativa de baixar os preços dos alimentos por alguma força coercitiva. A reação às declarações foi desastrosa e o ministro teve que "desmentir" a adoção de medidas heterodoxas. Houve quem aventasse abrir a importação, com alíquotas muito baixas para a entrada de alimentos que estão custando mais barato no exterior. O agronegócio caiu de pau em cima do Lula e a ideia foi abandonada. Na hora em que a agricultura começa a se recuperar da pandemia, das inundações e das secas que destruíram as lavouras, o governo fala em importar.
A reivindicação mais sem-vergonha veio do setor varejista: a de se alterar a data de validade dos alimentos. Em vez de "válido até...", substituir pelo "best before" dos norte-americanos, que se pode traduzir, "consumir de preferência até..." Seria uma maneira de evitar jogar fora toneladas de alimentos.
O ministro Fernando Haddad, da Economia, acha que a tempestade vai passar, com a queda do dólar e com a super safra de grãos que vem aí e, na certeza, vão fazer baixar o preço da comida. Há ainda a culpa dos eventos climáticos que, "se Deus quiser", não vão se repetir.
Parece que ninguém no governo tem a coragem suficiente de soprar no ouvido do "chefe" que o rumo certo está na política fiscal responsável. O país gasta mais do que arrecada e a dívida interna não para de crescer. Se o governo conseguisse retomar a confiança dos agentes econômicos, a partir da apresentação de resultados haveria reflexos nos preços e estabilidade de inflação. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicado para o cargo por Lula, não teve como esconder que "o governo precisa colaborar".
Os novos preços do diesel e da gasolina vão impactar os custos dos alimentos, ainda mais. Adeus picanha do Lula. Talvez nem sobre para as três refeições por dia, uma das suas garantias a todos os brasileiros.
Uma das sugestões mais lógicas surgidas em meio ao bate-boca foi a de retomada dos estoques reguladores para amenizar os preços em períodos de grande oscilação. A Conab, órgão ao qual compete guardar para os períodos de escassez, está com seus estoques zerados. O café, por exemplo, desde 2018.
É um pouco a história da cigarra e da formiga. Ninguém se prepara e depois, realmente não tem o que fazer.
O autor é jornalista e articulista.