O mês de janeiro tem esse nome por causa de um deus da mitologia romana chamado Jano. É uma curiosidade de almanaque que tem lá sua lógica em relação à vida. Jano, o tal deus, tem duas caras - uma olha para trás e despede-se do ano que acaba. A outra olha para frente. Tem uma mirada fixa e sorridente. Jano também deu origem a "janela", por ser o lugar onde entra o ar fresco e a luz. Como se aconselhasse: "meu amigo, encha os pulmões e vá em frente". Não prometa muito e não se cobre tanto. A chance de fracasso é proporcional ao tamanho da promessa.
Quem não conseguir perder peso para entrar novamente na calça 34, sem problema. Tente fazer as quatro sessões de musculação por semana. Outras prioridades podem aparecer e a responsabilidade para com o trabalho pode falar mais alto. Janeiro passa, logo vem fevereiro, depois março e, de repente, estamos em dezembro. E então, o que você fez?
Todo final de ano me faz lembrar do poeta Chico Nunes, das Alagoas. Ele sentava diante da televisão para assistir a "Retrospectiva". Mesmo inconformado diante de tantas tragédias sempre encontrava uma explicação: "Se o mundo fosse bom o dono morava nele". Fosse Ele nosso colega de planeta, morando em algum cantinho do sertão, que seja, e estaríamos protegidos de tantas coisas ruins.
Houve sinais de melhora em 2024. Vamos ser otimistas. O ano foi muito bom, por exemplo, para os 17 réus sentenciados pelo maior escândalo de corrupção da história do país. O ministro do Supremo Dias Toffoli, ninguém acreditava, anulou todas as condenações no âmbito da Operação Lava-Jato. Determinou o trancamento de todos os procedimentos penais contra os já sentenciados, porque Moro e Dallagnol, lá na primeira instância, teriam atuado em conluio. Soltem os criminosos; prendam o juiz e o promotor por ignorarem a ampla defesa e o contraditório. Um dos sentenciados, Marcelo Odebrecht, réu confesso, zerou sua ficha criminal e ainda teve suspenso o acordo de leniência de R$ 8,5 bilhões que a empresa deveria devolver para ressarcir os prejuízos ao erário com obras superfaturadas. Outro réu, Leo Pinheiro, condenado a 30 anos de prisão, também se beneficiou com as anulatórias estendidas a outros 76 funcionários da empreiteira implicada. Deve ter passado na cabeça do ministro Toffoli que é preciso ser coerente. Ele mesmo já anulara sentenças condenatórias de Lula nos casos do tríplex do Guarujá e do Sítio de Atibaia.
No ano que passou, foi consolidado pelo Congresso um novo tipo de butim que pode ser pilhado do Estado brasileiro sem que seus autores sejam incriminados, pela impossibilidade de identificação dos autores. Sequer precisam se dar ao trabalho de portar máscaras e luvas, pela impossibilidade de serem flagrados por câmeras de vigilância ou pelos papiloscopistas. Providencialmente chamadas de "Emendas Pix", impositivas ao Orçamento da República, podem ser gastas sem que contas ou satisfações sejam prestadas ou os autores identificados. O ministro Flávio Dino, do STF, tenta barrar o pagamento desse "orçamento secreto". Travou no final do ano uma queda de braço com o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL). A Constituição exige transparência nos gastos, rastreabilidade do dinheiro e publicidade dos dados contábeis, inclusive com acesso ao povo pela Internet. Discute-se, no momento, "apenas" R$ 5 bilhões, mas o total do assalto pode chegar a R$ 35 bilhões se não se conseguir deter a ação da rataria.
Na passagem do ano é costume na Itália todo mundo atirar pela janela as panelas velhas e vasos rachados, assim que soam os sinos da meia-noite. Quem sabe, na próxima eleição possamos fazer o mesmo com os políticos que envergonham a Nação. Para ganhar um Ano-Novo, que realmente mereça este nome, eu, você, todos nós temos que fazer por merecê-lo.
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