NOVO MANDATO

Reeleito, Anderson assume com desafios em saúde e no transporte

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 23 min
Caíque Toledo / OVALE
Anderson Farias em entrevista na redação de OVALE
Anderson Farias em entrevista na redação de OVALE

Reeleito após um disputado segundo turno, o prefeito Anderson Farias (PSD) tem pela frente desafios nas áreas de saúde e transporte, além da questão econômica. Para tanto, ele disse que pretende usar a tecnologia para modernizar a gestão municipal e melhorar a qualidade do serviço público.

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Anderson admite que o primeiro grande desafio será com o transporte coletivo, cuja novela se arrasta desde 2020, com a prefeitura tentando concluir a nova licitação do transporte público. Vai ter mais uma tentativa no começo de janeiro, que Anderson confirma ser a última.

“Olha, eu estou indo agora para a última tentativa. Acho que o mercado está muito mais maduro, o mercado já entendeu também, o próprio mercado brasileiro hoje já olha de forma diferente”, disse o prefeito em entrevista exclusiva a OVALE.

Na conversa, Anderson fala do transporte, saúde, mudanças na gestão, diferença em comandar a cidade como prefeito eleito pela primeira vez e dos desafios da gestão municipal. Confira a entrevista com Anderson Farias.

 

Desde 2020 a prefeitura está tentando concluir a nova licitação do transporte público. Vai ter mais uma tentativa agora, no começo de janeiro. Se essa nova tentativa também der erro, o senhor pretende continuar insistindo nesse modelo?

Olha, eu estou indo agora para a última tentativa. Acho que o mercado está muito mais maduro, mercado já entendeu também, o próprio mercado brasileiro hoje já olha de forma diferente. Isso a gente fala da quinta tentativa que nós tivermos, uma tentativa que foi a Itapemirim a ganhadora, depois outra tentativa também teve uma empresa ganhadora, mas foi desclassificada por não atender principalmente as questões econômicas dos seus balancetes, mas eu tenho já um plano B para mudar a forma da contratação, mas não mudar o conceito de fazer a troca e a eletrificação de todo o nosso sistema.

Nós já temos aprovado junto ao governo federal para conseguir empréstimos para a gente fazer aquisição. Eu sou contra aquisição nesse momento, porque a gente tem que fazer uma parceria com a empresa para que ela tenha operação. Não tem lógica o município ser dono de uma frota de 400 ônibus. Isso daqui 10 ou 15 anos vira uma sucata na mão e o município não tem competência para cuidar de ônibus, depois para vender ônibus, não é essa a competência. Então, o próprio governo federal hoje já tem dentro dos seus planos, principalmente do seu PPA, do seu plano plurianual, dentro dos seus incentivos que estão sendo feitos, também a eletrificação do transporte público. Então, eu já tenho um projeto protocolado.

Nosso projeto [do transporte em São José], do ponto de vista do modelo jurídico, nenhuma cidade fez ainda no Brasil. Esse modelo jurídico, seja de locação, mas feito diretamente pela prefeitura ou compra ou aquisição, e de contratar uma segunda empresa para fazer a operação e uma terceira empresa para fazer toda a parte de operação financeira ou a gestão financeira, nenhuma cidade no Brasil tem um modelo como este. É um modelo nosso por lei. É um modelo já pré-aprovado, já pelo Tribunal de Contas com relação ao modelo.

É algo que eu vou ainda insistir porque ele é o mais vantajoso para o município. E a gente sabe também que a parte de incentivos para empresas de fora do Brasil se instalarem no país, empresas multinacionais se instalarem no Brasil consorciadas a empresas daqui, tem incentivos hoje para poder fazer esse tipo de venda aqui no Brasil.

Aqui em São José os nossos carros da Linha Verde são carros da BYD com carrocerias de uma empresa brasileira, que é da Marcopolo. Então, foi um consórcio feito. Mas outra coisa são os 400 carros. Então, é outra dimensão e a gente veio fazendo as alterações necessárias no edital, do prazo de entrega, condição de pagamento, garantias com relação à locação, que isso deu no edital [que será lançado em janeiro] e eu percebo que o mercado já está um pouco mais maduro.

Eu acredito que no dia 10 [de janeiro] dará tudo certo para a gente dar um passo importante na mudança do sistema de transporte público de São José.

 

Dá para adiantar alguma coisa do plano B caso a licitação não dê resultado?

Ainda não dá para adiantar o plano B. São vários fatores. O resultado do processo do dia 10 é que vai decidir para onde a gente vai.

 

Na reta final do primeiro mandato, o senhor chegou até a perder a maioria na Câmara. E, mesmo quando tinha a maioria, não era uma situação de ampla margem. Em 2024, por exemplo, a prefeitura não conseguiu aprovar propostas que demandavam de apoio de dois terços dos vereadores. Para o próximo mandato, isso não deve mudar. Como o senhor pretende fazer para aprovar os projetos de interesse do governo?

A gente chegou a ter maioria simples, não a maioria com mais de 14, mas a gente conseguiu aprovar todos os projetos que foram necessários. A gente entende que 2024 foi um ano eleitoral onde acaba trazendo essa divisão para o município. A gente teve na Câmara Municipal tanto PL, que teve seu candidato a prefeito, também com o União Brasil, que também teve o seu candidato. Então, isso fez uma divisão, mais o PT, a gente teve uma divisão até dentro do próprio processo eleitoral, e aí é uma opção, a gente não tem nada acordado. Cada um tem a sua opção dentro do processo eleitoral. Então o ano de 2024 houve essas questões, mas isso, de certa forma, não atrapalhou para que a gente aprovasse projetos que fossem de interesse da cidade. Conseguimos aprovar todos, até aqueles com dois terços de votação.

Agora é esperar dia 1º de janeiro, com a posse dos novos vereadores, para que a gente possa voltar a conversar. O Jhonis [Santos, novo secretário de Governança] já vem conversando. A gente fez metade da Câmara dentro da coligação, que são 10 vereadores, que foram feitos dentro da própria coligação na eleição e tem outro partido que a gente já vem conversando também. Então, a gente deve ampliar essa nossa margem na Câmara Municipal, mas sempre de uma forma muito clara e transparente. Toda vez que tiver um projeto, nós vamos discutir com todo mundo, vamos sempre levar qual é o benefício que está tendo para a cidade, não é para o governo em particular, mas sim projetos importantes para a cidade, para que a gente possa ter sempre o apoio da Câmara Municipal. A Câmara é importante para ter esses apoios, principalmente em legislações para a cidade.

Na votação do orçamento foi claro de um grupo até de alguns vereadores que estão saindo, que perderam as eleições, ou que não concorreram, querendo aprovar alguns projetos para prejudicar qualquer tipo de andamento ou relação com a Câmara Municipal em 2025. Perderam também eleições que concorreram de forma majoritária, mas eu acredito que a gente deve fechar um bloco que a gente consiga ter uma comunicação boa e transparente, juntamente com a Câmara Municipal, aprovando os projetos importantes.

 

O senhor espera uma oposição mais forte do PL?

Acho que fica uma decisão do próprio PL. Se ele achar que tem que ser oposição, por ter perdido eleição é uma pena, porque não pensa realmente na cidade, é pensar apenas como partido, em querer poder. Mas eu não acredito. Tem uma conversa com alguns vereadores do PL. Tem alguns vereadores que são novos e que estão entrando, mas acho que é uma decisão do próprio partido. Não sei como é que o partido vai se comportar, se vai querer fechar em bloco ou se vai deixar que os seus vereadores fiquem livres para que possam também conversar com o governo.

A gente vai esperar agora dia 1º, respeitar a posse deles, respeitar aqueles que estão saindo da Câmara, para que a gente possa conversar a partir de 1º de janeiro. Mas eu não acredito, talvez a gente consiga aí um consenso e o PL deve caminhar junto conosco como sempre foi nesses últimos anos. O PL foi um apoiador e sempre fez parte da bancada conosco.

 

O senhor, quando assumiu como prefeito, ficou sem vice. Agora, terá um vice, que é o coronel Wilker. Qual será o papel dele no governo?

Além do papel do vice, de ajudar em representar a nossa cidade, em participar de eventos oficiais, ele também vai assumir toda a parte de projetos estratégicos. A gente tem a parte de projetos especiais que hoje é o Alexandre Blanco quem faz, mas o Wilker vai assumir a parte de projetos estratégicos, principalmente quando a gente fala da questão da tecnologia dentro da administração pública.

A gente tem como meta fazer uma transformação na administração, desburocratizar a máquina e deixar cada vez mais que o cidadão tenha uma facilidade com o uso da máquina, da tecnologia em relação ao poder público. Então desde um totem dentro de um shopping com serviços da prefeitura, onde de forma fácil e didática ele consegue lá fazer consulta do seu IPTU, imprimir um boleto, enfim, ele consegue ter qualquer tipo de consulta ao município, até os aplicativos no celular.

Então a gente usar bem da tecnologia, principalmente voltado para área da saúde, com uma gestão melhor, mais rápida e eficiente na questão dos nossos atendimentos, para gente saber nossas demandas. Se aumento minhas consultas nas UBS eu tenho um impacto direto e rápido nas minhas consultas de especialidades. Se tenho consulta de especialidade, eu estou aumentando e vou ter um impacto direto em realizações de exames, para que possa ter retorno. Então, tudo isso tem que ficar muito bem conectado.

A gente vai fazer algumas mudanças com todo esse recadastramento que a gente está fazendo de todos os pacientes nossos de São José dos Campos. Para que a gente possa melhorar ainda mais e o Wilker vai ser o responsável por toda essa questão estratégica, juntamente com o controle interno, que é onde ele já tem uma experiência. Junto com o Jhonis [Santos] que é o secretário de Governança, que vai cuidar da parte institucional, interna e externa, quanto das secretarias. O Wilker vai ter essa missão dos projetos estratégicos importantes para a cidade.

 

Que mudança terá na saúde pública?

Então, a saúde pública também é uma grande prioridade. A gente vai fazer mudanças bem profundas na saúde, porque a gente precisa fazer uma repactuação com o governo federal e com o governo estadual hoje na saúde. Em São José dos Campos, 76% do investimento são de recursos públicos, com 22% do governo federal e ainda menos do governo estadual, em 2%. Não é justo com São José. Nós estamos pagando uma conta muito alta para atender outra São José que não é de São José aqui dentro da cidade. Então, a saúde tem uma prioridade de repactuação que nós vamos fazer aqui em São José.

 

De 2021 a 2024, a prefeitura deixou de repassar mais de 500 milhões de reais para o Instituto de Previdência. A maior parte disso foi parcelada para pagar em até 20 anos. No novo mandato, isso vai continuar?

O instituto pela primeira vez, em 2023, a gente fechou o instituto com superávit de financeiro no seu cálculo atuarial. A gente deve agora nesse ano de 2024 também, por todas as nossas contas prévias, a nossa contabilidade prévia, fechar com o seu cálculo atuarial de forma superavitária. Isso nunca aconteceu. A gente tem o maior patrimônio histórico do instituto. Eu recuperei o instituto nesses últimos três anos. Então, quando a gente fala do parcelamento não é repasse, é um parcelamento, um porte financeiro que a lei me permite pagá-lo de um mês e compensar um mês pelo outro ou fechar o exercício e decidir em parcelamento ou não, porque essa é uma discussão que já está no governo federal num projeto de lei para que todos os municípios possam parcelar.

Isso a gente já faz aqui, porque tem credibilidade para se fazer. Eu vou continuar fazendo gestão. Se os recursos continuarem dentro do instituto não dando os seus rendimentos de acordo com o mercado, eu vou com certeza continuar parcelando os aportes, porque isso é mais importante para a cidade. Se o instituto voltar a ter seus rendimentos dentro do mercado e a crise financeira, que realmente implica e prejudica bastante a questão dos rendimentos do instituto.

Quando a gente fala em rendimento é o dinheiro do instituto, mais de R$ 2 bilhões que tem depositado em conta, em dinheiro. Às vezes, o rendimento desse dinheiro aplicado não paga as despesas do instituto, aí o município tem que aportar, mesmo o instituto tendo tudo isso de recursos. Se não está rendendo, porque está rendendo abaixo às vezes do mercado, porque eu vou colocar mais dinheiro lá dentro, será que a gente tem que perder mais ainda na rentabilidade? Compensa mais esse dinheiro ficar no município e não tirar do caixa e fazer o parcelamento, mesmo porque o parcelamento garante o futuro do instituto.

Até porque o instituto não precisa desse dinheiro hoje. Com R$ 2 bilhões ele não precisa, então eu vou continuar fazendo gestão dos recursos financeiros, nunca vou deixar, nunca vou usar, nem permitir usar um centavo do instituto ou tirar do servidor para usar na cidade. Pelo contrário, a cidade é que aporta os recursos financeiros para que o instituto tenha a sua vida financeira saudável e para pagar todos os seus compromissos. Então, eu vou continuar fazendo. E se necessário for, se o instituto der prejuízo do ponto de vista dos seus investimentos, vou continuar optando por parcelar esse recurso para não aumentar esse prejuízo, porque nós estamos falando de recursos públicos municipais, dinheiro público. O que a gente tem agora, principalmente o instituto, é que ele ganhou a gestão quatro, que é eficiência na sua administração.

Nesses últimos três anos, a gente foi premiado com eficiência de gestão, isso faz com que a gente suba de níveis, e o próprio Ministério da Previdência. Isso permite também que a gente consiga fazer algum tipo de investimento, que a gente consiga dar avanço em investimentos, não de risco, mas investimento que a gente consegue ter um rendimento melhor. Então, alguma flexibilidade com relação ao recurso. E hoje lá no instituto todos os diretores têm a qualificação de fazer toda a parte de aplicação financeira. O instituto tem patrimônio de mais de R$ 3 bilhões. Tem que ter pessoas ali bem informadas, qualificadas e formadas. Eles fizeram cursos e são certificados desde o presidente até os diretores. Tem essa qualificação para que a gente possa tomar as melhores decisões e aplicação dos recursos.

Lembrando que eu paguei dívida de 2000, que foram parceladas em 30 anos. Pagando dívida também do governo do PT, de 2013 e 2016, pagando valores que foram prejuízos como aplicações em cooperativas. A aplicação do próprio Banco Santos também a gente recuperou, eu consegui recuperar alguns valores, mas não tudo do prejuízo do banco. Até essas questões lá do passado eu resolvi nesses últimos anos. A cooperativa teve um prejuízo de R$ 7 milhões para o instituto. Então, isso já entrou em prejuízo, mas eu consegui resgatar R$ 4 milhões. Enfim, então tem essas questões. Eu não tive nenhum prejuízo do ponto de vista com responsabilidade de se usar dos recursos em seus investimentos, para ter os rendimentos de ganho para os servidores.

 

O senhor é prefeito de São José dos Campos desde abril de 2022. Na ocasião, como vice-prefeito eleito, substituiu Felicio Ramuth, que enunciou ao cargo para disputar o governo estadual. Agora, em 1º de janeiro, o senhor dará início a um novo mandato, desta vez tendo sido eleito prefeito. É diferente iniciar um mandato como prefeito? Teremos uma gestão mais com a cara de Anderson Farias?

Não consigo ter essa sensação ou essa diferença. Desde o dia 1º de abril de 2022, quando eu assumi, mesmo de uma forma diferente, não de uma forma eleita diretamente, mas o vice-prefeito é eleito juntamente na chapa do prefeito. A foto aparece ali na urna, mas todo mundo lógico que fica concentrado na cabeça de chapa.

Mas não sinto e não tenho essa sensação de diferença. Lógico que eu tinha compromisso junto com o Felício. Eu estava ao lado dele na construção do plano de governo, fui coordenador do plano de governo do Felício à época, coordenador da campanha. E a gente tem que ter a capacidade na campanha, durante o período eleitoral, e agora na hora de montar o time, principalmente o secretariado, de saber ouvir para a gente ver exatamente quais são as correções que a gente precisa fazer e aquilo que são os anseios.

Os novos que já são uma necessidade, que precisam ser alterados em mudanças de alguns programas que nós temos, mas também saber identificar o que a cidade vai precisar. Isso que acho que é um grande desafio para o gestor público e a gente tem essa identificação daquilo que ainda não está, nesse momento, ainda não é um anseio, mas que poderá ser. Então essa é a grande diferença.

Lógico que muda o time, porque os projetos são outros. Aliás, os meus compromissos através do plano de gestão também são outros compromissos. São outras ações que a gente tem para poder entregar ao longo dos próximos quatro anos. Mas me sinto até mais preparado, mais maduro.

Desde o dia 1º de abril de 2022 e depois do processo eleitoral, a gente fica mais maduro, mas não mais confiante, porque eu tenho a confiança desde o início de quando assumi em abril, mas posso dizer aqui mais maduro para que a gente possa fazer um trabalho ainda melhor.

 

O senhor saiu-se vitorioso nas urnas enfrentando um antigo aliado no segundo turno. Que avaliação faz do cenário político em São José? Acredita que exista um eleitorado dividido?

Não vejo um eleitorado dividido, mas acho que muitos eleitores ainda não sabiam ou não tinham percebido, até alguns ainda não perceberam até hoje, a divisão desse grupo. É um grupo que ficou por muitos anos junto, aliás do qual eu fiz parte. Não posso dizer que o grupo se dividiu porque não foi metade para cada lado, não foi bem essa a divisão. Tem muito mais pessoas que fizeram parte desse grupo. Eu sou um, Felício é outro, mas tem muitas outras pessoas, afiliados históricos, fundadores do próprio PSDB aqui em São José dos Campos, que hoje estão junto comigo, junto com esse outro grupo que se formou.

Então, acho que o próprio eleitor para ele entender o que aconteceu, para ele entender que realmente houve uma ruptura entre o grupo, ele só foi compreender isso durante o período eleitoral, mas tem pessoas ainda hoje que acham que somos do mesmo grupo. Até porque mais de 25 anos de história não consegue se apagar num período tão curto. Mas acho que o eleitor no período eleitoral ele presta atenção e percebeu que houve uma divisão, e aí ele fez a escolha dele.

 

Após a eleição, o senhor anunciou trocas no secretariado a partir de janeiro. O que o senhor busca com essas mudanças?

Oxigenar. Diz-se que em time que está ganhando não se mexe. Mas tenho esse conceito de que mesmo em time ganhando as propostas são outras, para onde que a gente quer ir, o que a gente precisa corrigir, onde a gente deve focar um pouco mais até para os próximos.

Eu olho para os próximos anos com muita dificuldade do ponto de vista financeiro. Mesmo porque tem uma questão de crise. Posso dar tranquilidade do ponto de vista financeiro, que já tenho essa preocupação, eu já cuido desde o primeiro dia. Desde quando nós assumimos em 2017, com o Felício prefeito, a questão financeira sempre foi algo dentro dos nossos valores e conceitos, de cuidar da coisa pública, mas os próximos anos a gente vai ter grandes desafios.

Seja pela reforma tributária, seja pelas questões municipalistas, pois cada vez mais os governos estaduais e federal vêm atribuindo mais serviços aos municípios e diminuindo os repasses, os recursos financeiros. Então, isso é um desafio para os municípios e principalmente os municípios de médio porte, como é São José dos Campos. Então, esses são grandes desafios que a gente tem. Vamos adequar toda a equipe, aproveitar a experiência de cada um, a oxigenação também da experiência que eles ganharam em algumas pastas e agora indo para outras, como troca. Trazer alguns nomes novos dando oportunidade, principalmente para alguns jovens, para alguns que já estão trabalhando há algum tempo.

Não só atrair novos nomes, mas também dentro do nosso grupo a gente poder fazer o reconhecimento de alguns nomes que já têm uma experiência, mas lógico que estar à frente de uma pasta é diferente, outra responsabilidade. Mas eles têm pelo menos uma experiência que conseguem levar para aquela pasta, para aquela secretaria, mas também mantendo aquela experiência que a gente já tem que já são secretários e ex-secretários que vão continuar trabalhando conosco, que vão estar em outras áreas. As mudanças são para que a gente possa oxigenar e ter a capacidade de ter novas ideias.

 

Por falar em nova equipe, o senhor irá criar uma nova secretaria, de Gestão Habitacional e Regularização. Por que decidiu fazer isso? Acha que no mandato anterior os projetos habitacionais ficaram devendo?

Não acredito nisso, muito pelo contrário. A gente conseguiu fazer com que a parte de Departamento de Regularização Fundiária andasse. Conseguimos organizar e fazer com que ela fosse muito mais ágil. Não acredito que em ser secretaria isso pode dar mais agilidade, mas quando eu olho para o futuro, agora principalmente as ações do governo do estado de São Paulo e do governo federal com relação à habitação, há muitas oportunidades.

Na parte de regularização nós avançamos bastante. Hoje acabamos de entregar a primeira regularização de urbanização e regularização específica. Então a gente fez hoje a primeira em São José dos Campos, No dia 26 de dezembro entregamos lá no loteamento Fênix, na região Leste da cidade. Então isso daí a gente conseguiu ter uma equipe muito coesa. A gente consegue ter um trabalho com a prefeitura, cartório, empresas contratadas para fazer todos os levantamentos altimétricos e topográficos e também juntamente com o Ministério Público e com o Judiciário.

Agora na habitação a gente tem grandes oportunidades para os próximos anos. Quando a gente vê o próprio Governo do Estado de São Paulo, com o governador Tarcísio [de Freitas] tem mais de 100 mil projetos pra colocar à disposição no estado, novas casas. O governo federal também voltou com mais investimentos no Minha Casa Minha Vida. Então, ter a secretaria vai facilitar e eu vou dar uma dedicação ainda mais especial na questão da habitação.

Em São José dos Campos a gente tem um déficit habitacional de pouco mais de 3.500 unidades [moradias]. Não é algo que seja impossível, mas também não é pouco, mas é algo que a gente pode tentar resolver nos próximos anos, principalmente com essas parcerias. Depender só dos municípios ou só do município para construir casas e habitações não se viabiliza, mas se nós conseguirmos fazer essas parcerias, podemos atender a demanda.

Como já temos hoje 1.200 casas em parcerias, temos 200 em licitação pelo CDHU, 150 já assinamos o convênio, 570 com o governo federal já assinando e mais projetos. Então, o que a gente quer com a criação [da secretaria] é acelerar o número de projetos para que a gente possa, junto com o governo federal e estadual, fazer os convênios e parcerias no maior número possível na Minha Casa Minha Vida e no Casa Paulista.

 

Esse déficit de 3.500 moradias é o principal gargalo da área habitacional da cidade?

Sim, com certeza, isso daí é o principal. Lógico que eu quero a regularização, que também faz parte da habitação. Quando você faz a regularização de um imóvel de um lote, de um bairro, você está dando ali a dignidade do ponto de vista da segurança jurídica da habitação. E a gente sabe que o déficit habitacional ele sempre empurra para a questão do clandestino, de se criar oportunistas.

Hoje em São José a gente consegue ter uma fiscalização ágil, até porque nossa cidade é monitorada por satélite. A gente consegue ser muito ágil e fazer com que não surjam novos núcleos informais. A gente consegue combater com muito mais agilidade qualquer início de construção irregular e congelar os existentes, para que a gente possa realmente trabalhar o processo de regularização.

Na habitação a gente tem agora vários critérios de fazer moradias, não maiores do que 84 unidades, em áreas já urbanizadas, onde a gente já tem toda a infraestrutura, mesmo que o terreno possa ser mais caro. Com certeza ele é mais caro, mas você tem um custo menor de investimento do recurso público com relação às melhorias, você não precisa criar nova linha de ônibus, não precisa ficar construindo novas escolas, novas unidades de saúde, água e esgoto, você já tem toda essa estrutura nas áreas urbanizadas. Então, a alteração da Constituição do Estado de São Paulo que foi feita agora recentemente, no ano de 2020, e aprovada em 2022, isso está nos permitindo usar essas áreas institucionais para a habitação.

Então, por isso que tem essa programação, isso vai ter uma dedicação ainda maior para que a gente possa nesses quatro anos, quem sabe, fazer o maior número de habitação em São José dos Campos. E acabando com o déficit habitacional a gente também consegue resolver a questão do clandestino ou dos irregulares, que é onde a pessoa às vezes acaba partindo para esse lado, uma forma que ela pega, uma oportunidade às vezes de comprar algo barato, mas que sai caro do ponto de vista da regularização.

 

E a demanda por regularização?

Quando a gente fala em núcleos, esse número vem se alterando ao longo dos anos. O Santa Cecília, por exemplo, era um e hoje se transformou em cinco. Dessa forma a gente foi dividindo algumas matrículas para facilitar na regularização de alguma dessas áreas. Mas hoje a gente tem em torno de 76 a 80 núcleos que temos em processo de regularização, nós estamos falando em torno de 2.500 a 3.000 unidades.

Contratamos o IPT agora e fizemos um levantamento em dois bairros que são importantes da cidade do ponto de vista da regularização, que eles têm uma particularidade de ter todos os tipos de restrições: deslizamento, área de risco, área ambiental, que são o Chácaras Havaí e o Canindu. Então o IPT fez um levantamento apresentado no mês de outubro, no período eleitoral, e a gente não tornou público, mas vamos fazer isso agora no meio de janeiro, no máximo em fevereiro. Eu posso dizer ali que estamos resolvendo um problema de mais de 300 unidades que já estavam num processo judicial de ação demolitória. Hoje temos a garantia do levantamento feito, pelo IPT, que a gente consegue regularizar e tirando também a questão do risco dessas casas.

Então é importante esse levantamento que a gente faz hoje que é um levantamento detalhado por casa. Antigamente se olhava no morro e classificava como de risco um, dois, três ou quatro. Então hoje a gente está fazendo esse levantamento detalhado, de cada casa, com a ação mitigadora. A gente chega a esse detalhe. Com isso a gente vai conseguir avançar muito na regularização nos próximos anos.

Comentários

2 Comentários

  • Jeferson 3 dias atrás
    A repactuação na saúde é importante. Porém ela não resolve o problema sozinha. O que precisa mesmo é tirar parte da demanda que chega até São José, que recebe pacientes até do Estado do Rio de Janeiro e do Sul de Minas Gerais. Um bom exemplo disso é que o governo estadual vem apoiando até mesmo a construção e custeio de alguns novos hospitais municipais. Assim sendo, até para ajudar São José, Tarcísio e em particular, o Felício, precisam entrar nas discussões e ajudar de alguma forma na construção de um novo hospital em Jacareí. Precisa também investir em melhorias na Fusam, em Caçapava, no Stella Maris de Caraguatatuba, no HMUT de Taubaté e nas Santas Casas de Cruzeiro e de Jacareí, em especial. E ainda temos questões envolvendo equipamentos estaduais. Precisa o quanto antes de um AME em Jacareí, de uma unidade Lucy Montoro em Lorena, para cobrir o Vale Histórico e de uma maternidade em Caraguatatuba, para evitar que todos os casos mais graves envolvendo gestantes e recém-nascidos na rede pública do Litoral Norte tenham que ser transferidos para SJC ou Jacareí. Por maior que seja o esforço da Prefeitura de São José dos Campos, sem tirar parte da demanda que chega até São José, é difícil disso resultar em melhorias reais para os joseenses.
  • Luciano Santos 3 dias atrás
    Meu pai tinha uma quitanda quando eu era criança, quem ficava devendo para ele, ele anotava no caderninho e chamava de caloteiro, nada além.