OPINIÃO

Caetano e cia...

Por Nei Silva Lima |
| Tempo de leitura: 2 min

A primeira lembrança que tenho de Caetano Veloso em minha vida foi no ano de 1974, aproximadamente, eu tinha 6 anos. Minha mãe tinha uma rádio-vitrola com um sintonizador potente que pegava vários países. Mas na rádio Alegria, Alegria estridente com seus acordes iniciais alertavam que alguma coisa estava fora da ordem mundial. A Ditadura comia solta, porões DOI-CODI, torturas, censuras. Mas a massa adormecia. É preciso estar atento aos sinais, não temos tempo de temer a morte e seus algozes.

Já Maria Bethânia surgiu pra mim no LP Álibi (long-play ou bolação para novas gerações) que nosso vizinho estudante de biologia, Zé Carlos, ouvia na república do seu Chico (Francisco Farina). Era o sábado todo ouvindo de tabela: Explode Coração, Ronda, Negue… Gal entrou nas trilhas sonoras de novelas da Rede Globo, cuja seleção era um veredito: sucesso súbito. Era um estrondo e Baby uma das mais marcantes na novela Transas e Caretas, tema da personagem Marília (Nathália do Valle). Estão vendo, novela já foi fonte de cultura.

Caetano ate fez um show pequeno num festival em Bauru e outro grande no Sesc c ingressos esgotados (Abraçaço), mas a gente sempre quer mais. Compra cd, dvd, livros, vinil e vai nos shows. Que luxo termos dois irmãos artistas, compositor e intérprete enfrentando a estrada e compartilhando a missão de suas vidas: a música.

Direto de Santo Amaro da Purificação-BA para o mundo, Caetano tem músicas e participação em filmes do espanhol Pedro Almodóvar, outro gênio a contestar e denunciar o sistema e as poderosas instituições religiosas.

Conhecer a obra e as interpretações de Caetano Veloso e Maria Bethânia é reler o Brasil sob a ótica artística, nordestina, resiliente de personagens que ajudaram a escrever a história do país no século XX, tentar explicar essa alma tropical, sub trópicos, continente invadido, explorado, colonizado e que deixou um legado de desigualdade social após mais de 300 anos de escravização de povos africanos largados ao deus dará. Chico Buarque na voz de Ney Matogrosso cantaram que "Não existe pecado ao Sul do Equador"!

Alegria, Alegria, 13 de Maio, Odara, Carcará, Onde o Rio é mais Bahia, Haiti, Desde que o Samba é Samba, e por aí vai, letras que fazem refletir, pensar, além das melodias belíssimas.

Essa turnê Caetano & Bethânia não poderia passar em branco nem ficar de fora das likes num Brasil que insiste em apoiar torturadores, golpistas e usurpadores do poder.

Não à toa na mesma onda "Ainda estou aqui", de Walter Salles, com Fernanda Torres, Selton Mello vem arrebatando prêmios Brasil à fora e abrindo os olhos de quem quer enxergar. O Brasil está aí bem antes dos 524 anos que contam a história branca europeia e passa por Salvador, Sampa, Rio de Janeiro, Exu, Sobral, Minas Geraes...

Gratidão, Bahia, NE! Axé Maria Bethânia, Caetano Vel Gil e Gal (in memorian)! Doces Bárbaros, Saúde, que venha 2025, sem anistia, sem ditadura e muita Democracia!

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