OPINIÃO

Dólar em alta: os efeitos na economia

Por Reinaldo Cafeo |
| Tempo de leitura: 2 min
O autor é diretor regional da Ordem dos Economistas do Brasil

Muita gente imagina que a alta do dólar em relação ao real prejudica somente aqueles que viajam para "Disney" (um sentido figurado para mostrar que somente uma pequena parte da população brasileira faz viagens internacionais), contudo, se a desvalorização do real frente à moeda norte-americana persistir, há diversos efeitos econômicos.

O primeiro e mais grave efeito é sobre os preços, ou seja, inflação na "veia". Produtos importados ou que dependem de insumos internacionais, como combustíveis, eletrônicos e alimentos, ficam mais caros. Isso pode aumentar a inflação, pressionando os preços de bens essenciais. O custo de vida das pessoas fica mais elevado, reduzindo seu poder aquisitivo.

Também afetam viagens e compras no exterior. Com o dólar alto, viagens internacionais e compras fora do país se tornam mais caras. Passagens aéreas, hospedagem e alimentação no exterior são diretamente impactadas, desestimulando o turismo internacional.

O lado positivo é a melhora da balança comercial. As exportações e Importações são afetadas. Enquanto as importações se tornam mais caras, as exportações podem se beneficiar, pois os produtos brasileiros ficam mais competitivos no mercado internacional. Isso pode ajudar setores exportadores, como o agronegócio. Aqui cabe um alerta: dependendo do setor, aqueles que comemoram aumento nas exportações, lamentarão o aumento do custo de insumos importados.

A alta do dólar pode levar a um aumento nas taxas de juros para conter a inflação, dificultando o acesso a financiamentos e impactando o crescimento econômico, atingindo o nível de atividade econômica, a geração de emprego e renda.

Agentes deficitários que contraíram dívidas em dólar sem proteção para uma eventual desvalorização do real, terão suas dívidas em reais elevadas, aumentando seu passivo e destruindo valor da empresa (redução do patrimônio líquido).

Na prática o grande problema não é o real se desvalorizar frente ao dólar, isso de alguma maneira é natural posto que o resto do mundo não quer saber se há ou não inflação internamente, afinal, fazem o comércio internacional em preços estáveis, mas sim, se isso ocorrer de forma abrupta, em percentuais elevados, sem que os agentes econômicos estejam preparados.

Não é atoa que o Banco Central vem intervindo no mercado. Apesar de o Brasil praticar o câmbio flexível, é possível e necessário que a Autoridade Monetária intervenha no câmbio toda vez que houver um desarranjo na cotação da moeda estrangeira. Tecnicamente é denominado de "dirty float" (flutuação suja).

O mercado cambial terá calmaria caso os princípios econômicos sejam respeitados, e principalmente o mais elementar de todos: equilíbrio das contas públicas, com respeito institucional a independência do Banco Central, deixando-o fazer o que tem que ser feito para conter a inflação, atuando com contundência na política monetária. O país passa por um descrédito internacional e somente com ações e não com bravatas é este quadro mudará.

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