INDENIZAÇÃO

Jovem viciado em apostas morre e família quer R$ 3,8 mi de bet

Por Da redação | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução / UOL / Raquel Arriola
Vinícius Ferreira e Tainá Nalvas Marinho, na cerimônia de casamento Imagem: Raquel Arriola/UOL
Vinícius Ferreira e Tainá Nalvas Marinho, na cerimônia de casamento Imagem: Raquel Arriola/UOL

Vinícius Ferreira, 28 anos, largou dois empregos para se dedicar às apostas online, encarando aquilo como investimento, um trabalho. Ele se matou no quintal da casa da mãe, em dezembro de 2022. Foi ela quem o encontrou. A história foi revelada pelo UOL.

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No espaço de um ano, a compulsão por apostas o levou à depressão, às perdas e ao suicídio. O jovem descobriu os jogos vendo postagens de influenciadores digitais que propagandeavam ganhos em seus perfis.

“No começo, ganhava R$ 35 mil por mês”, conta a viúva, a dona de casa Tainá Nalvas Marinho, 29 anos, em entrevista ao UOL. Os dois tiveram três filhos juntos e moravam em Marília, no interior de São Paulo. De repente, Vinícius começou a perder.

Hoje a família entende que era um vício, mas na época, o hábito era visto como uma maneira de ganhar dinheiro. “Era isso o que ele falava, e enquanto ganhava, a gente ia levando”, diz Tainá.

Para bancar a compulsão, Vinícius pegava dinheiro com conhecidos para "investir" em apostas. Meses depois, suas dívidas somavam R$ 90 mil. Ele e a esposa tiveram de vender a casa.

Tainá conta que, desde então, haviam estabelecido regras: se ele perdesse, não jogava mais naquele dia. E sempre mostrava o histórico de apostas para ela.

"Agora sei que ele pode ter apagado esse histórico, pode ter dito uma coisa e feito outra. De qualquer maneira, naquela época, parecia que tudo estava caminhando certinho", relembra.

Vinícius procurou ajuda com psicólogo, mas a orientação de tomar remédios o fez desistir de qualquer tratamento. Disse aos familiares que ia se controlar. Por um tempo, deu certo. Mas, no dia de sua morte, os pais e a viúva perceberam que o jogo o controlou.

Para cada três pessoas com problemas em jogos, uma tem ideações suicidas. Entre quem não tem compulsão e quem não joga, o índice é de uma pessoa para cada oito. A diferença também é grande em relação às tentativas: 13,2% de jogadores patológicos já tentaram se matar, contra 2,81% da população em geral.

Os dados são do estudo "Suicídio entre indivíduos com problemas de jogo: uma revisão meta-analítica da literatura", publicado pela Associação Americana de Psicologia em janeiro de 2024.

Recaída.

Após perder dinheiro no domingo, seguindo as regras acordadas com a esposa, Vinícius deixou o jogo de lado. No mesmo dia, em um churrasco com amigos, viu um conhecido apostando R$ 100 e ganhando R$ 3.000 em um jogo de um campeonato da época. "Acho que foi um gatilho", opina Tainá.

Na segunda-feira de manhã, Vinícius se trancou no banheiro do trabalho e fez 13 apostas de R$ 1.000 cada uma, uma seguida da outra. Conseguira R$ 10 mil emprestados com um conhecido e usou R$ 3.000 próprios. Perdeu tudo. Decidiu almoçar na casa da mãe e, em seguida, se suicidou.

A esposa soube da morte quando o credor de Vinicius ligou cobrando. "Quem vai pagar?". A família decidiu processar a Bet365 por danos morais e materiais. Pede R$ 3,8 milhões.

"Não há tabela de valor para o luto. Mas indicamos essa quantia pelo fato de a Bet365 ser uma empresa bilionária e ter causado o dano máximo, a morte. Nossa esperança é ganhar este caso e mostrar a outras famílias que podem fazer o mesmo", diz o advogado Luiz Carlos da Silva, que representa os pais e a viúva de Vinícius.

O pai, o missionário Siberlei Ferreira, 58 anos, critica a permissividade do governo ao legalizar as bets no país sem um plano de contenção de danos não apenas financeiros, mas mentais. "O governo não está preocupado se alguém da sua família vai perder a vida, a questão é de quanto ele vai ganhar em cima disso", critica.

A reportagem procurou a Bet365, mas não houve resposta ao pedido de entrevista até a publicação deste texto.

 

Procure ajuda

Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

 

Para casos de jogo patológico, uma das orientações é buscar grupos de apoio, como os seguintes:

Jogadores Anônimos

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