Nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. E uma coisa parece certa: na velhice a nossa intimidade com a morte vai se estreitando. Vamos nos despedindo das pessoas que acumulamos ao longo de nossa infância e idade adulta - tal como as cartas de baralho em um jogo. Na velhice vamos "baixando tais cartas à mesa", como no jogo. É o que eu chamo de jogo da vida. Vão-se os avós, o pai, a mãe, os irmãos, tios, primos, velhos amigos. A morte vai batendo em nossa porta de tanto em tanto, sempre trazendo boas e más recordações, tristezas, remorsos.
Também vamos acumulando novos parentes e amigos como genros, noras, netos, etc. Mas a "velha guarda" de sangue... esta vai-se indo. Até ficarmos sós ou também irmos. "Sangue não é água", dizia-me uma amiga. Porém só entendemos mesmo este ditado quando perdemos nossos entes queridos.
Quando somos jovens não pensamos muito na morte, estamos rodeados de parentes, amigos e trabalho, a vida nos sorri em cada esquina e nos sentimos fortes e protegidos. Daí o perigo de não entendermos coisas mais sutis que na velhice percebemos. Porém quando a morte toca em nós... tudo muda, principalmente se for de parentes próximos, como pais, filhos, irmãos e cônjuge. Mesmo morando longe sentimos as suas presenças, pulsa em nós as suas vidas. Quando se vão sentimos como se subitamente nos retirassem o casaco em pleno frio, nos deixando sem calor, sem proteção, sem carinho. Só com saudade. E é aí que entendemos que só vivemos realmente... no tempo em que convivemos com eles. Ai daquele que prefere viver longe dos seus, seja por qual motivo for. Está vivendo a morte em vida e não se dá conta.
Lembre-se: só vivemos plenamente o tempo que passamos ao lado dos que amamos, ou seja, ao lado de nossos familiares.
Antigamente era comum a família morar toda numa grande casa, inclusive os novos casais, respeitando os mais velhos e a hierarquia familiar. Ninguém afrontava um familiar, pois afrontar um era afrontar todos. Quando muito os casais novos moravam perto, de preferência na mesma cidade, comunicando-se com a família com frequência e almoçando juntos todos os domingos, numa grande mesa. É bem verdade que há lugares que nos são impróprios, que não nos trazem oportunidades e boa sorte. Mas sempre há uma cidade compatível perto de nossos familiares que podemos escolher para morarmos e mantermos contato constante com eles. Pois diz o ditado, "Longe dos olhos, longe do coração". Até entre parentes, embora menos. Quanto mais perto dos olhos melhor.
A união física e emocional da família é fundamental. Atualmente estamos cada vez mais sós e desprotegidos, um pouco menos em cidades pequenas. Vivemos o tempo da desagregação da família, em que o divórcio é a regra, os filhos são do mundo e o celular é o nosso melhor amigo.
Bem sei que poucos jovens modernos entenderão isto. Eu também já fui jovem moderna, até que o jogo da vida me ensinou a sua essência. Mas já era tarde demais. A maior parte da minha vida passei longe dos meus... e não há como voltar. São águas passadas, que a morte levou.
Bem, temos que lembrar de um poeta que retratou este tema com maestria - Laurindo Rabelo, em seu poema 'Adeus ao mundo': "Não importa: não é perder o mundo. O que me azeda os pálidos instantes, Que conto por gemidos. Meu tormento, Minha dor é morrer longe da pátria, a mãe, e dos irmãos que tanto adoro. A morte é dura, porém, longe da pátria é dupla a morte. Desgraçado do mísero que expira
Longe dos seus, que molha a língua, seca
Pelo fogo da febre, em caldo estranho".
Triste. Mas nos faz querer convivermos com os nossos. Evita-nos a triste afirmação de grande parte dos idosos: "Se eu pudesse voltar no tempo... ficaria mais tempo ao seu lado".
Tempo e espaço. Escolha muito bem o lugar onde quer ficar durante o maior tempo de sua vida. Escolha ficar... onde estão os seus familiares e amigos, ou perto deles. Porque abaixo da nossa Salvação isto é o que mais importa, assim penso.