Eu adoro demais da conta ir, vez ou outra, bater cartão na banca da Ilda, ali junto do Aeroclube. Desopilo o fígado. Se ela soubesse das qualificações e dos benefícios produzidos pela sua persistência em continuar com a banca aberta, pagaríamos só para ali comparecer e ela nunca fecharia suas portas. Não tem vez que passando por ali, não sou arrebatado por algum conhecido, destes como eu, ainda - e eternamente - amantes do modal papel para leituras variadas e múltiplas, somos abduzidos.
Desta feita, mais precisamente ontem, quem estava por lá quando aportei para buscar minha edição mensal da Piauí era o amigo jornalista Aurélio Fernandes Alonso. Ele, sei disso, passa ali pelos mesmo motivos que eu, só para se recarregar, ou seja, a ida para aquele nobre estabelecimento possui uma nobre justificativa, a de reencontrar pessoas e conversar, trocar figurinhas, parlar, se deixar levar pelas possibilidades dos reencontros ali ocorrendo.
Quer coisa melhor do que isso? A Ilda possui esse atrativo, inesperado, diria mesmo, poder e sem querer querendo, pois ela, com aquele seu jeito envolvente, não só atrai como subtrai, arrebata as pessoas. criou uma legião de gente como eu e o Aurélio, os que precisam muito de saídas diárias de seus redutos, não só para ver o sol, mas para ver como se dá a continuidade da vida. Ela, por ali, continua fluindo como num oásis, aquele terreno no meio do deserto, com água e alguma terra fértil nas imediações, onde flui vida saudável e se juntam pessoas querendo tocar suas vidas sem se deixar envolver por tudo o mais à sua volta. Aurélio estava ali para ver se encontrava alguém e assim, encontrar um motivo para por pra fora o que possui guardado dentro de si. Eu passei ali para buscar a revista e sabia, sempre acontece, iria encontrar alguém e perder hora de algum outro compromisso.
Sempre penso nisso, passo ali correndo, pensando em só pegar a revista e continuar meu rumo, com tarefas a realizar, listas com algo a ser feito. Chego ali e tudo se esvai, pois a coisa ali flui de forma diferente e não consigo passar, pegar a revista e voar. Algo me prende e fico, perco a hora, a estribeira e depois, levo um pito da patroa, mas relevo tudo, pois a recarga proporcionado pelos momentos ali passados, compensa tudo. Ilda é mais poderosa do que supõe, ou nem sabe disso, mas ela, que de boba não tem nada, sabe ter arrebatado uma legião de pessoas como nós dois, que num certo momento passaram por ali, a conheceram e um a um, foram se juntando, gostando e ficando. A turma ajuda ela a continuar com a banca aberta e ela, mais do que nós a ela, nos ajuda a continuar vivendo.
É inacreditável isso acontecer bem no coração da Zona Sul bauruense, mas acontece, é possível e resiste ao tempo, também a tudo mais. Existe uma conspiração em curso, tudo sendo feito para desmobilizar as pessoas de se encontrarem desta forma e continuarem se entendendo pelas proximidades existentes. Parece existir um complô, algo muito bem urdido, tentando afastar as pessoas umas das outras. Ilda é uma revolucionária, uma guerrilheira, uma conspiradora, uma senhora de fino trato, vivendo com seus cães e que, consegue fazer seus horários. Não trabalha mais de segunda, fecha todos os dias lá pelas 14h, pois depois disso diz, quem tinha que comprar publicações do dia, já o fez e ficaria aberta para o vento. No mais, está ali, todos sabem seus horários e a rodeiam, uns apoiados nos outros, todos em busca deste algo mais, deste ponto de encontro, onde se reúnem e vivem. Exceções ela abre aos sábados e domingos, quando estende o horário e participa da algazarra.
Ali é verdadeiramente um lugar de muita vida. Eu e o Aurélio que o digam. Ele mais do que eu, pois vai diariamente, eu menos, mas amamos de forma homogênea, compacta e com um elo inquebrantável. Sem ela e sua banca, a cidade certamente ficaria mais triste. A cidade não sei, mas essa parcela rueira tenho certeza.
Dessa forma, proponho desde já o tombamento da banca da Ilda como local, muito além de histórico, mas patrimônio bauruense. O tombamento proposto é algo que todos frequentadores buscam, a petrificação, perpetuação, eternização de um lugar onde possam voltar e ali encontrá-lo, como quando descarregamos nossos celulares e precisamos de um lugar, onde com uma tomada tudo se recompõe. Além de tudo, Ilda é fotógrafa das boas, como se vê nas duas fotos aqui expostas, de sua autoria.
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