O TRABALHO DA DEIC

Como Franceschetti tentou manipular o rumo das investigações

Por Guilherme Matos | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Guilherme Matos
Roberto Franceschetti sendo conduzido à Cadeia Pública de Pirajuí
Roberto Franceschetti sendo conduzido à Cadeia Pública de Pirajuí

O ex-presidentre da Apae Roberto Franceschetti Filho, preso no último dia 15 como principal suspeito do desaparecimento da secretária executiva da entidade Claudia Regina Lobo, tentou manipular álibis, queimar evidências e redirecionar suspeitas de um homicídio premeditado para uma história de vingança e tráfico de drogas, segundo informa a Polícia Civil. A tentativa de mudar os rumos da investigação, porém, foi contornada pela Deic — que revelou detalhes da atuação de Franceschetti, em coletiva nesta segunda-feira (26).

Claudia Lobo foi vista pela última vez no dia 6 de agosto. No dia 8, uma quinta-feira, agentes ouviram pessoas do convívio de Claudia. Segundo a polícia, foram colhidos depoimentos do atual namorado, da filha, do então presidente da Apae (Franceschetti) e do motorista da entidade, além de outras pessoas. 

No primeiro depoimento de Franceschetti, ele informou à polícia que Claudia solicitava “adiantamentos” financeiros alegando que eram para ajudar um parente que havia sido preso e estava devendo. Roberto afirmou que “seria a quarta ou quinta vez que Claudia pedia adiantamento de altos valores”.

Os "adiantamentos", explicou a Polícia, eram contabilizados como "adiantamentos a fornecedores" - o que pode configurar fraude no balanço da Apae.

O presidente afastado disse também à Deic que acompanhou Claudia Lobo até o bairro Mary Dota em várias ocasiões e que ela entregava o dinheiro para um homem. Em outras, afirmou Roberto à corporação, ele teria levado Claudia em um shopping e um posto de gasolina com o mesmo intuito. 

Roberto também afirmou à Civil que Claudia pediu R$ 40 mil uma semana antes de seu desaparecimento e disse que seria a última vez. Destacou, porém, que não teria liberado o valor. Ele tentava apresentar uma narrativa para os policiais de que a falta deste pagamento teria motivado os credores a “desaparecer” com Claudia, segundo deduções dos policiais.

Ainda no dia 8, porém, diligências apreenderam notebook da desaparecida, além de R$ 10 mil  em espécie deixado na casa da filha de Claudia. A presença do dinheiro na casa seria um indício de que os supostos pagamentos de dívida não ocorriam.

No dia 9 de agosto, Roberto encaminhou agendas e relatórios de ligações do telefone fixo da entidade. Ele se colocou à disposição para compartilhar informações relacionadas ao cotidiano da secretária executiva na Apae no intuito de “direcionar a investigação”, como apontou a Polícia Civil.

O alvo desse direcionamento seria o familiar dela preso por tráfico que residia no bairro Mary Dota. A Polícia, porém, recebia as informações com reservas. Sobre o familiar, Franceschetti chegou a dizer que ele “tinha semelhança, mas não podia afirmar” que era a pessoa que buscava o dinheiro.

Neste mesmo dia, a Polícia expediu um ofício para a Apae informar datas e valores que teriam sido liberados para Claudia. Mas Roberto disse que “não lembrava com precisão dos valores e datas”, mas que prestaria as informações.

Por fim, em 13 de agosto, a coordenadora financeira da entidade filantrópica revelou que avaliava a viabilidade financeira do caixa, mas que a liberação dos “adiantamentos” eram de responsabilidade de Roberto.

No conteúdo do notebook de Claudia, aliás, havia planilhas da contabilidade pessoal da secretária, com indicativos de “inconsistências financeiras, inclusive valores em aberto em relação a Roberto”, segundo a polícia.

“Apesar de parte da grande mídia e opinião pública cogitarem para uma possível questão passional para o crime e Roberto direcionar a investigação para ’traficantes’ que cobravam familiares de Cláudia, passamos a trabalhar com os fortes indicativos de rombo no caixa da entidade assistencial, má gestão e conflitos de interesse entre presidente e secretária executiva”, afirma documento encaminhado à imprensa pela Polícia Civil, nesta segunda-feira.

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