O Departamento de Água e Esgoto (DAE) enfrenta uma corrida contra o tempo para evitar endurecer ainda mais o racionamento de água que há três meses seca as torneiras de mais de 90 mil bauruenses pelo menos quatro dias por semana.
Se a situação piorar, avalia a cúpula da autarquia, o DAE terá inevitavelmente de ampliar o período de desabastecimento para 72 horas - hoje o sistema funciona em 24 horas de abastecimento contra 48 horas sem água.
"Estamos trabalhando com ações emergenciais para manter o rodízio neste ritmo atual. É basicamente uma operação de guerra", disse o presidente do DAE, Renato Purini, em entrevista ao JC na quinta-feira (8).
Neste aspecto, afirma ele, a recente limpeza na lagoa de captação do Batalha contribuiu para evitar uma queda mais acentuada no nível do leito. "Com certeza estaríamos com problemas maiores, caso isso não tivesse acontecido", diz Purini.
ESTIAGEM
A avaliação sobre a necessidade ou não de endurecer o racionamento, porém, só virá em setembro - período costumeiramente mais seco. As ações emergenciais que o DAE busca fazer neste momento visam justamente amenizar o impacto da estiagem a ser auferido em pouco mais de 20 dias.
Uma das medidas é a instalação de uma grande adutora ligando o Nove de Julho ao Bela Vista. "Começamos sexta-feira [2 de agosto]. A previsão era de que a obra ficasse pronta em até seis meses. Mas conversamos com os servidores, que compraram a ideia, e estamos fazendo em pouco mais de 20 dias", disse Purini ao JC.
São três equipes trabalhando diuturnamente na obra, mas também no projeto dela. "Para fazer em menos tempos precisávamos também diminuir a distância, a princípio fixada em três quilômetros. E a equipe do Alex [Gerolano] conseguiu reduzir a dois quilômetros e meio", explica.
"Eu dei o desafio para ele e perguntei se tocaria a obra. Disse que sim, e está dando certo", complementa. Segundo Purini, o impacto disso será dimensionado ao término da obra. Mas o fato é que a produção de água excedente no Nove de Julho vai suprir o Bela Vista - aliviando os recursos do Batalha para as outras regiões abastecidas pela lagoa, a exemplo da Vila Falcão.
VAZAMENTO
A segunda medida envolve a troca das comportas, processo já iniciado anteriormente, que agora veio com um adendo. Havia um grande vazamento na Estação de Tratamento de Água que preocupava o DAE. Coube aos servidores encontrar um método de interrompê-lo - e conseguiram.
A solução foi simples, mas arrojada. "Uma engenhoca", brinca o presidente Purini. Equipes da autarquia implementaram duas bombas - uma antes do vazamento e outra bem próximo dele -, levando a água de volta à estação. "É mérito de nossos servidores", define o dirigente.
"Toda água que saía do sistema [da ETA] agora entra num ciclo e evitamos desperdiçá-la", acrescenta. As comportas em si devem demorar um pouco a serem trocadas. As atuais, de ferro fundido, já estão bastante oxidadas, e deverão ser trocadas com outro material. O problema é que elas precisam ser feitas sob medida porque não há equipamentos "na prateleira do mercado" - isto é: não é algo que se encontra facilmente por aí.
REVITALIZAR
Outra ação nos planos do DAE envolve a lagoa da Quinta da Bela Olinda, medida já sugerida pelo vereador Markinho Souza (MDB) e que a médio prazo pode virar realidade. "A água da lagoa é perfeitamente tratável de acordo com as análises químicas realizadas", comenta. "Mais até do que o Batalha. Você não tem esgoto clandestino ou material químico ali", complementa.
Há um plano do governo para revitalizar o local da lagoa e ela precisaria ser esvaziada no âmbito da iniciativa. "O DAE entra nesse momento. A ideia é que tratemos a água retirada e a levemos para o reservatório Alto Paraíso", explica.
O procedimento envolveria também uma novidade: estações modulares de tratamento de água. São equipamentos mais compactos e com materiais com alta resistência mecânica e química. E acima de tudo: podem ser instaladas em poucos dias.
BARRAGEM
Há também um projeto para a barragem do Córrego da Ressaca, cuja água o DAE avalia utilizar. A pequena represa tem vazão de 140 metros cúbicos por hora, diz Purini, e a autarquia estuda retirar cerca de 90 m³ - "até para não esvaziá-la", afirma.
Técnicos do departamento estudam duas hipóteses àquela área. A primeira é levar a água ao reservatório Imperial e tratá-la numa estação modular antes de mandar para o reservatório-pulmão da ETA. "O problema disso é o tempo. É uma obra demorada e custosa", afirma.
Daí a segunda hipótese: retirar água bruta da barragem e levá-la até a ETA para ser tratada - o que pode ser feito com caminhões menores e num prazo mais curto. "Estamos num período histórico de queda acentuada nas chuvas e situações extraordinárias exigem soluções no mesmo porte", diz o presidente.