OPINIÃO

Espetáculo e teorias conspiratórias

Por Zarcillo Barbosa |
| Tempo de leitura: 3 min
O autor é jornalista

A primeira aparição pública de Donald Trump, após o atentado sofrido, ficou marcado pela grande bandagem branca na orelha direita. O curativo virou adereço entre os apoiadores do candidato à presidência, na Convenção Republicana.

Os marketeiros sabem transformar em espetáculo qualquer incidente, mesmo que tenha sido uma quase tragédia. Aconteceu também com a foto de Trump, logo após o atentado, com um filete de sangue no rosto, o punho erguido, a bandeira americana pendente sobre a sua cabeça e os seguranças oferecendo os próprios corpos em sacrifício ao "Messias". Houve quem lembrasse da icônica foto da Segunda Guerra, quando os marines ergueram a bandeira, vencida a Batalha de Iwo Jima, em 1945. O fotógrafo Joe Rosenthal, da Associated Press, anos depois confessava um certo arranjo para que tudo saísse perfeito, fechando o estético triângulo formado pelos soldados e o mastro com a bandeira.

Agora é o momento das teorias conspiratórias. Há quem ponha culpa na polarização entre a esquerda e a direita, pelo atentado. O autor dos disparos, Thomas Mattew Crooks, de 20 anos, era filiado do próprio partido de Trump, o Republicano. Mas, aos 17 anos fizera uma doação de 15 dólares para os Democratas. Sua atuação isolada demonstra para os psicólogos aquele desejo de ter os seus 15 minutos de fama. Um "lobo solitário", de mente perturbada e alguma relação freudiana com pessoas famosas. Com esse caráter também se apresentou Adélio Bispo, autor da facada em Jair Bolsonaro, na campanha de 2018. O candidato à Presidência passou anos levantando suspeitas de que haveria um "mandante", mas nada se comprovou.

Também não foi por causa da facada que Bolsonaro se elegeu. Prefiro acreditar que ganhou porque Fernando Haddad, lançado tardiamente por Lula, nem tinha cacife eleitoral para tanto. Bolsonaro era uma promessa, com discurso moralista e ufanista. Trump, tem grandes chances de voltar, mas não será por causa do peteleco na sua orelha. Os republicanos montaram uma temática em cima da imigração irregular. Ameaçam deportar 20 milhões de cucarachas responsabilizados pela elevação da criminalidade nos Estados Unidos.

Líderes democratas fazem irresistível pressão contra Joe Biden. Deve renunciar neste fim de semana porque a sua candidatura, além de prejudicar o partido, dificulta a campanha dos candidatos ao Legislativo. A provável sucessora, Kamala Harris, já está sendo responsabilizada pelo alto fluxo de imigrantes no país e pela crise de segurança que, na visão dos republicanos, é fruto disso. "Make America Safe Again" - Faça a América Segura Novamente.

Há quem denuncie a "armação de Trump para ganhar as eleições". No Brasil, também temos defensores da "facada forjada". O candidato americano, no momento exato, virou de lado e deu a orelha direita para o sniper armado com um fuzil R-15. Perdedor, no caso, só o inocente expectador que morreu com o impacto da bala.

Nos Estados Unidos, atentados contra presidentes e candidatos não são novidades. Começou com Andrew Jackson, em 1835. Abraham Lincoln, James Garfield, William McKinley, John Kennedy. O sucessor de McKinley, Theodor Roosevelt, foi baleado em 1912. Modernamente, Gerald Ford foi alvo de dois atentados em 1985; Ronald Reagan foi ferido gravemente em 1981; George Bush escapou quando um maluco atirou uma grana no palanque que não explodiu. O placar em vítimas está empatado: 5 republicanos e 4 democratas.

Aqui no Brasil, a boa índole tropical protege os políticos. D. Pedro II (1889), escapou ileso de um republicano. O primeiro presidente eleito, Prudente de Morais (1894), quase foi morto por um monarquista. A bala matou seu Ministro do Exército, general Carlos Bittencourt. O resto são teorias conspiratórias, criadas no caso Juscelino, morto em desastre de carro; Castelo Branco, em desastre de avião e Tancredo Neves, em pós-operatório.

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