COLUNISTA

Ideias confusas

Por Hugo Evandro Silveira |
| Tempo de leitura: 4 min
Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril

Algumas ideologias contemporâneas são bastante incoerentes e carecem de fundamentação científica. Uma dessas ideologias, que ganhou forte visibilidade na mídia, encontra suas raízes em um pensamento inicial confuso de Karl Marx. Esse pensamento deu origem a diversos desdobramentos entre os chamados estrategistas ideológicos do movimento de libertação da mulher. Esse movimento chegou ao ponto de considerar o aparelho reprodutor feminino como um sistema opressor, promovendo a desconstrução do modelo familiar tradicional como uma unidade social e contribuindo para a confusão conceitual sobre o termo "gênero".

Nesse contexto, o filósofo Jacques Derrida, conhecido por suas teorias desconstrucionistas na metade do século XX, difundiu a ideia de que nenhum discurso se sustenta se os conceitos originais forem desmontados através de um processo dialético de confronto, onde palavras são usadas contra palavras até que surja uma confusão que leva à rejeição dos conceitos originais. Foi dessa maneira que surgiu o que se chama de "ideologia de gênero".

Com o passar do tempo, a feminista Judith Butler abordou o tema em seu livro "O Gênero em Disputa", consolidando a teoria da ideologia de gênero, que desde então ganhou status de doutrina popular. Na visão de Butler, as pessoas não devem mais ser consideradas naturalmente como homem ou mulher, pois a sexualidade seria modificável de acordo com os desejos e inclinações psicológicas de cada indivíduo.

Essa ideologia se apresenta como um paradoxo ao tentar definir o indefinível, promovendo a relativização dos princípios e sujeitando-os à subjetividade. Esse pensamento descarta a base natural das coisas, considerando o sexo como algo determinado apenas pela psique da pessoa, ignorando qualquer fato biológico natural.

Apesar da popularidade consistente da ideologia de gênero, ainda temos a liberdade de examinar o que a ciência diz sobre essa questão. Muitos neurologistas destacam as inconsistências presentes no discurso dessa ideologia. Existem argumentos sólidos e evidências biológicas robustas que demonstram a falta de fundamentação científica nessas ideias confusas, que têm ganhado força especialmente na Escola, instituição responsável pela formação do pensamento futuro. A ciência refuta a ideia de que a definição sexual tenha apenas um viés psíquico, pois para validar uma verdade científica é necessário um resultado de material laboratorial - um experimento que possa ser repetido e comprovado consistentemente para se estabelecer uma verdade científica. Essa discussão evidencia a necessidade de um debate mais fundamentado e baseado em evidências, especialmente quando se trata de questões que afetam profundamente a compreensão de identidade e a formação das futuras gerações.

É crucial considerar a visão bíblica sobre este assunto. A teologia cristã protestante rejeita veementemente a ideologia de gênero, especialmente quando imposta como doutrinação. A ética cristã afirma que questões relacionadas à sexualidade pertencem à esfera privada e não devem ser impostas publicamente. Nesse sentido, concorda-se que todos devem ter direitos iguais, mas reestruturar completamente uma base social amparada em comportamentos não fundamentados é altamente questionável. Nem mesmo o Estado deve ser o órgão regulador para determinar tal ideologia na estrutura social. A instituição da família, entendida como a união de homem e mulher, foi estabelecida por Deus antes da existência do Estado, portanto, o Estado não tem autoridade para redefinir nem o conceito de família nem o de gênero sexual. A Bíblia sustenta uma visão tradicional de gênero e sexualidade no contexto do relacionamento conjugal. Essa visão é baseada na criação original de Deus, onde homem e mulher foram criados como complementares um ao outro.

É importante compreender que a erosão dessa ordem natural poderia abrir caminho para uma redefinição do casamento civil que inclua múltiplos indivíduos ou até mesmo outros seres. A dissolução da visão bíblica de gênero e sexualidade pode levar a uma série de consequências imprevisíveis e potencialmente prejudiciais para a estrutura social. A defesa da união monogâmica entre homem e mulher como o modelo ideal não é apenas uma questão de tradição, mas também de proteção dos valores fundamentais que sustentam a sociedade.

Além disso, a tentativa de impor ideologias de gênero através de doutrinação estatal ameaça a liberdade religiosa e a liberdade de pensamento. As pessoas devem ter o direito de viver de acordo com suas crenças e valores, sem serem forçadas a aceitar ou a promover ideias que vão contra suas convicções mais profundas. Em conclusão, enquanto o respeito e a dignidade de todas as pessoas devem ser mantidos, é igualmente importante preservar os princípios fundamentais que sustentam a sociedade.

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