OPINIÃO

Torre de Babel

Por Claudia Zogheib |
| Tempo de leitura: 2 min
A autora é psicanalista formada pela USP, psicóloga formada pela USC. @auguri_ humanamente, @cinemaeartenodivã, @zogheibclaudia, @claudiazogheib

O poder intenso da indução perversa nos relacionamentos leva as pessoas a participarem de cristalizações silenciosas que amparam justificativas menores. O terror que sustenta a perversão confia e induz atitudes embasadas no instinto de morte, e desenvolve uma significação pueril nas relações amparadas pelo superficial e que não considera a perversão como um caminho que dificulta desenvolver relações de qualidade.

A inveja como fator é originária da intensificação do ódio gerado pela pulsão de morte, e tem como consequência o distanciamento de contato com o próprio "eu" facilitando uma associação injusta e depreciativa que atrapalha as relações e não considera o outro.

Quando as pessoas estão neste funcionamento, encontram justificativas para atacar e depreciar num caminho equivocado para "se engrandecer" a partir do ataque e morte simbólica do outro que encontra na inveja a dolorosa observação daquilo que nos falta ao constatar no outro qualidades superiores.

Melanie Klein no seu livro "Inveja e Gratidão" explica a inveja como um sentimento de raiva quando alguém tem algo que gostaria de ter e, mais do que isto, querendo que o outro se dê mal, justificando este sentimento, tentando diminuir o outro para se sobressair.

A inveja indica que uma parcela significativa de nós mesmos se formou a partir da identificação com o outro por meio de processos de alienação, estando presente na organização e no desenvolvimento psíquico desde os primeiros momentos de vida. Quando este sentimento não é transformado, haverá dificuldade em preservar o objeto bom dos ataques do objeto mau.

A felicidade em ver o outro se "estrepar" é chamada de "schadenfreude", palavra alemã que significa "schaden", dano, prejuízo, e "freude", alegria, prazer, ou seja, a alegria em assistir a desgraça alheia, que na falta de uma avaliação moral nos afasta da verdade sobre nós mesmos.

A Torre de Babel nos ensina que a comunicação equivocada pode nos levar ao fracasso e à desconexão quando usada para fins egoístas.

Ao contrário, quando descobrimos a potência de construir pontes nas relações humanas, nos associamos ao instinto de vida que considera que somente através do outro podemos construir a própria existência.

Babel em hebraico significa confusão... e foi destituído quando a torre ruiu criando línguas que não se comunicam diante da soberba que não pôde se enxergar quando viu o outro crescer.

A psicanálise continua a nos dar pistas do caminho a seguir.

Música "Estrada do Sol" com Carminho e Marisa Monte.

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